A Mentira Perfeita

Capítulo 23 - Pipoca

ANNELISE

Me viro de novo no espelho me inspecionando e tento não fazer uma careta para a saia branca extremamente curta para o meu gosto. Resolvo colocando uma meia calça preta e botas longas batendo nos meus joelhos

- Eu pegaria na balada – Antonella anuncia entrando no quarto e eu dou risada. Grazi entra logo em seguida e se senta na cama

- Estou me achando uma vagabunda com isso – resmungo e olho para o cropped arrumadinho de renda preta

- Uma vagabunda sexy – Grazi comenta e joga meu único sobretudo que eu tenho de cor preta. Coloco-o sobre os ombros e suspiro

- É, melhor que isso não tenho

- Está na hora de você comprar roupas querida – Antonella diz se sentando em uma cadeira – Vai ser fotografada dia e noite, precisa estar arrumada

- Eu sei, só que eu vi que Luke está precisando de roupas novas e eu ainda não recebi meu salário.

- A gente tem algum dinheiro guardado – Grazi diz sorrindo e eu balanço a cabeça negando

- Esse dinheiro é a poupança de vocês, devem guardar para uma emergência

- Que emergência? – Antonella pergunta e eu me viro para ela enquanto guardo as coisas na bolsa – Tipo, nos morrermos? Porque se for isso eu acho que não podemos levar dinheiro para onde vamos

- Hahaha, muito engraçado tia – eu falo e termino de passar um protetor labial

- Eu sou muito engraçada – ela diz e se inclina sobre a cadeira

- Você acha que é engraçada – Wendy diz entrando no quarto e trazendo cookies suspiro pegando um ainda quente. Mordo alegre e paro no meio do caminho quando não vejo Luke

- Onde ele está?

- Ele não estava com vocês? – Wendy pergunta e eu corro escada a baixo, os saltos da bota clicando na madeira

- Luke? – grito e paro deslizando na sala vendo Dante e Luke em uma conversa séria. Paro respirando aliviada colocando a mão no estomago e só então percebo que Dante está ensinando Luke a dar o nó no sapato. Eles olham para cima e eu tento um sorriso – Oi

- Oi – Dante diz e repara em minha respiração afogueada – Está tudo bem?

- Sim – eu falo rapidamente – Eu só me assustei com Luke sozinho aqui embaixo

- Ah – ele diz ainda em um joelho na altura dos olhos de Luke – Eu falei que era eu antes dele abrir a porta

Aceno fracamente ainda sentindo minhas mãos úmidas e pigarreio me aproximando. Luke sorri para mim e aponta para os sapatos

- Olha mamãe, o Dante me ensinou a dar um nó

- Estou vendo – falo com a voz suave e olho para Dante que me observa atentamente – Obrigada

Ele sorri em resposta e se levanta bagunçando os cabelos de Luke, o meu filho se levanta do sofá e pega minha mão e a de Dante

- Vamos? – ele pergunta animado e eu dou risada vendo Dante observar o pequeno ser que está praticamente pulando entre nós

- Tudo bem patinho

╠♥╣

Há várias coisas que eu fiz na vida, algumas delas, ou a maioria, eu me arrependo todas as noites quando eu vou me deitar. Mas há coisas que eu nunca fiz e essas são as que eu me arrependo mais.

Me arrependo de não ter trazido Luke mais vezes ao shopping, nem que seja somente para observar e sonhar de frente a vitrine. Vejo como seus olhos brilham quando entramos nas portas automáticas, ou como ele sorri quando vê as sorveterias e os restaurantes na praça de alimentação.

Enquanto penso sobre como foi escassa nossa vida nos últimos anos tento me convencer de que farei tudo diferente pela frente com a oportunidade que está me sendo concedida. Eu farei diferente.

Nada de ir ao shopping somente em aniversário, nada de ir ao cinema somente em uma ocasião importante, nada de sorvetes uma vez por mês. Eu daria isso a nós dois.

Uma oportunidade melhor, uma vida melhor. Não só sobreviver, mas viver também

- Tem um casal fotografando a gente do outro lado – eu falo com a cabeça abaixada e trago Luke para mais perto de mim quando percebo os olhares curiosos das pessoas ao nosso redor, algumas conversando, outras somente andando, e outras com celulares a postos.

- É, eu estou vendo – Dante diz e percebe minha intenção ao puxar Luke, sorrindo ele pega meu menino em seu colo e o corpo pequeno do patinho fica escondido pelo corpo enorme de Dante. Suspiro aliviada quando vejo a entrada do cinema no shopping e cubro com a mão um bocejo

Luke escolhe o filme e o tipo de pipoca que quer e Dante afasta minha mão quando eu vou puxar o dinheiro pagando ele mesmo todos os aperitivos que Luke escolhe a dedo praticamente pulando para dentro do vidro.

Alguns minutos entramos na sala designada e nos sentamos na cadeira que pagamos. Luke começa a mordiscar a pipoca sentando entre mim e Dante, olho para ele puxando o zíper do seu casaco

- Nada de derrubar pipoca no chão – falo baixinho e Luke me olha sorrindo

- Porque?

- Porque os ratinhos correm e... – Faço cosquinhas nele que se contorce rindo – Pegam você

Paro os movimentos e sorrio para Dante que nos observa em silencio e eu sinto seu olhar mesmo estando em uma sala escura. Ele parece queimar meu corpo me forçando a devolver o olhar

E eu não olho

Talvez só um pouquinho

O filme começa e eu me recosto na poltrona acolchoada puxando o sobretudo sobre meu corpo, entrecerro meus olhos sentindo o corpo relaxar e suspiro sonolenta.

Bocejo abertamente e coloco a mão apoiando meu queixo enquanto tento manter os olhos abertos.