Capítulo 27 - Estar Presa

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ANNELISE


Há apenas duas coisas que me dão medo, a primeira delas é imaginar minha vida sem Luke nela, como se de alguma forma ele fosse tomado de mim e eu nunca mais o visse.

A segunda é o meu passado que está enraizado no meu presente de forma que estou sempre presa a ele. Todas as noites quando venho ao Tempest trabalhar tento ignorar os fatos cintilantes que piscam em meus olhos, os erros que cometi quando era criança, as ruas que eu poderia ter evitado, as pessoas as quais eu deveria ter temido.

Em vez de seguir tudo isso, eu simplesmente os confrontei e depois me arrependi por ter feito isso. E os arrependimentos só continuaram com o passar dos anos.

- LaRue? – saio do transe tirando os olhos da louça que estava lavando e me concentro em uma das dançarinas que está me observando com desdém – Acordou?

- O que você quer? – pergunto com voz tensa e volto a esfregar os copos sujos

- Martin está lhe chamando – ela ronrona passando por mim e eu a olho de lado quando ela para próxima o suficiente para que eu escute a sua voz baixinha – E ele está furioso. Achei melhor te avisar, para que vá preparada

- Obrigada – eu falo de forma acida e deixo a louça pela metade enquanto enxugo minhas mãos em um pano e sigo em direção ao escritório no segundo andar. Meus saltos desgastados tintilam na escada e eu me pego com a respiração ofegante já sabendo o tema da conversa

Paro no meio do corredor vendo Zoe saindo da sala de Martin e faço uma careta quando vejo sua expressão fria e distante

- Zoe? Está tudo bem?

- Eu quero mata-lo – ela rosna se aproximando e falando em tom baixo – Juro por deus que eu vou...

- Eu sei – interrompo e olho para os outros quartos – Você está bem?

- Sim, mas Liz ele não está furioso comigo – ela diz e me puxa pela mão – Ele viu o noticiário, ele só me chamou porque queria tirar informações de mim

- Tudo bem se você tiver dito algo – eu falo rapidamente e ela me olha com uma careta

- Está maluca? Eu nunca falaria nada, fiquei calada enquanto ele me encarava. Ele que morra

Suspiro e solto sua mão massageando um ponto em meu pescoço

- Vou entrar, pode ir na frente, eu já vou

- Liz....

- Se eu não entrar você sabe o que vai acontecer – falo e ela assente com os olhos tristes – Até daqui a pouco

- Até – ela diz e eu dou alguns passos antes de bater na porta e entrar.

Martin era dono do Tempest, um dos clubes mais famosos, há anos. Ele começou quando ainda era jovem e expandiu os negócios a um novo nível contrabandeando bebidas caras e todos os tipos de drogas. Mas o que ele mais tinha era influencia gerada por segredos

O dono do Tempest, que está sentado a minha frente com os olhos de corvo em cima de mim, era um baú precioso, tinha em seu interior segredos que poderiam te colocar em uma prisão ou simplesmente fazer com que fosse morto. Ele também colecionava os meus segredos, e os colocava em uma das prateleiras mais altas onde eu não podia alcançar, e era por isso que eu estava ali na sua frente esperando por uma palavra sua

- Nunca achei que você fosse do tipo que gostava de celebridades – ele começa e vejo seu dedo contornando de forma lenta a borda do copo contendo um liquido amarelado – Achei que Annelise LaRue fosse do tipo que gostava de se manter anônima

Fico em silencio e ele inclina a cabeça me dando um vislumbre dos seus cabelos com fios grisalhos

- Não vai me responder? – ele pergunta e eu inclino o queixo

- Quando eu ouvir uma pergunta então eu responderei

Martin ri uma risada sem emoção ou verdade e eu me encolho um pouco mais quando ele se levanta

- Se eu fosse você tomaria cuidado com suas respostas LaRue, não estou no clima para falar sobre amenidades com você. Então só irei lhe fazer uma pergunta – sua respiração fica próxima ao meu rosto e eu foco meus olhos em seu paletó muito bem cortado – O que está aprontando se tornando noiva de Dante Turner?

- Nos conhecemos há algum tempo Martin

- Verdade? – ele pergunta sem acreditar e eu confirmo o mais segura que posso

- Quando eu comecei a trabalhar para o seu agente publicitário, ele nos apresentou e nos...

- Apaixonaram? – Martin toca em meu rosto me forçando a olhar para cima e eu engulo em seco – Ele sabe que você nunca irá sair daqui?

- Ele sabe que eu tenho que continuar trabalhando aqui

- E sabe porquê? – ele faz uma pausa lendo meu silencio e eu sinto o seu hálito em meu rosto cheirando a bebida enquanto ele segura meu pulso com força me fazendo estancar – Ele sabe que você é uma stripper?

- Eu não... – pigarreio e forço uma respiração – Eu não danço mais

- Então isso quer dizer que ele não sabe com quantos homens você já dormiu em busca de alguns dólares?

Encaro com nojo Martin que ri e aperta minha bochecha me machucando enquanto ele me força a se aproximar dele

- Você é minha assim como sua amiguinha Kinsley e é bom que não se esqueça disso – ele rosna e eu puxo meu rosto para longe

- Não precisa ficar me lembrando Martin

- Eu acho que preciso sim – ele dá um último aperto em meu pulso e me solta massageio o local com os olhos ardendo e vejo ele contornar a mesa voltando a postura inicial – Nada de tentar me sacanear LaRue, ou você e aquele garotinho que chama de filho vão sofrer mais do que imaginam

Um frio na espinha me percorre e eu me viro saindo do escritório. Caminho ignorando tudo ao redor e vou até a cozinha entrando no deposito. Me encosto em um canto escorregando até o chão e deixo que as lágrimas finalmente caiam silenciosamente enquanto meu coração doí me machucando como farpas me lembrando constantemente de como eu estava presa.

A Mentira PerfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora