ANNELISE
- Ok, comecem a se explicar – eu mando tentando ignorar a caixa horripilante a minha frente
- Tudo bem, mas se acalme querida – Grazi fala levantando as mãos
- Vou me acalmar quando vocês explicarem porque tem mais de vinte ratos em uma caixa de papelão
Um ratinho decide que é uma boa hora para tentar escapar, mas Antonella o espanta colocando-o na caixa de novo. Sua camisola com pequenos corações me chama a atenção e eu faço uma careta
- Desde quando gosta de corações? – pergunto e minha tia mais velha olha para baixo
- Tive que pegar emprestado essa coisa, o meu está lavando
- Não chame de coisa – Wendy fala se sentando na única poltrona desgastada que tem no quarto e vejo sua camisola com pequenos girassóis se espalhando na cadeira. Seus cabelos presos em uma trança fazem com que ela pareça uma fazendeira – É uma camisola linda
- É brega – Antonella fala em um resmungo e eu suspiro apertando a ponte do nariz
- Sua camisola com riscos é que é brega – Grazi fala e se senta na cama, com seus cabelos tão grandes quanto o de Wendy
- Vocês duas são chatas pra cara...
- Antonella! – gritamos em uníssono e minha tia com cabelos curtos e lisos revira os olhos
- Até parece que vocês são pudicas – ela aponta e eu puxo uma respiração contando até dez
- Luke está dormindo, mas isso não quer dizer que eu o queira ouvindo palavrões – comento simplesmente e Grazi arqueia uma sobrancelha
- Tarde demais fofinha
- Porque? – eu praticamente rosno e ela dá de ombros
- O sr. Ricci estava chateado essa semana
E essa é toda a explicação que eu preciso. O sr. Fernando Ricci era um senhorzinho na casa dos setenta anos que andava pelos corredores falando sobre tudo, como por exemplo, o telhado, a chuva, as calhas, o ladrilho do banheiro que estava encardido ou até mesmo sobre a sua sobrinha que ele jurava ter sido sequestrada
Mas esse não é o ponto importante. O ponto é que esses comentários eram seguidos por tantos palavrões que um padre com certeza acharia melhor benzer todo o condomínio inclusive a nós os moradores que escutávamos todos os dias
- Tudo bem, vou tentar falar com ele – de novo, eu penso amargamente – Enquanto isso voltamos para a história dos ratos
- São filhotes – Wendy comenta tentando ajudar e eu aceno em sua direção
- Obrigada – eu falo e prossigo – Quem vai começar?
As três senhoras que não tinham laço nenhum comigo no quesito família, mas que eram uma das coisas mais importantes para mim desviam o olhar e fingem estar observando suas próprias unhas.
Malcriadas
- Vou começar a contar e se nenhuma começar a falar eu juro que coloco um rato desses no travesseiro de vocês durante a noite – eu ameaço e Wendy abre a boca
- Antonella achou que seria uma boa ideia criarmos ratos para conter os invasores
Estreito os olhos para as três ao meu redor e coloco a mão na cintura enquanto tento raciocinar
- Que invasores?
- Outros roedores, obviamente – Grazi responde simplesmente. Massageio um ponto da têmpora e suspiro
- Sabe o que eles vão conter? – pergunto e elas sacodem a cabeça em negativa – Vão conter os alimentos que chegaram em casa, porque eles vão sair comendo qualquer coisa que encontrarem inclusive aquelas barrinhas que você tanto gosta – eu aponto para Antonella e ela suspira irritada
- Por isso eu vou cria-los, para que sejam educados
- Eles não são cachorros, nem gatos e muito menos humanos – eu comento e ela me olha com uma careta
- Tem baratas por todos os lugares sabia disso? – ela pergunta cruzando os braços sobre o peito
- Sabia sim, e por isso comprei frascos de venenos – falo olhando para ela – Por isso que não tem baratas aqui dentro de casa
As três ficam em silencio e Antonella é quem suspira primeiro, parecendo derrotada
- Tudo bem, vou colocar eles para adoção amanhã de manhã
- Adoção? – pergunto rindo assustada – São ratos de esgoto tia
- Eles são fofinhos – Wendy fala de seu canto e eu a olho de lado
- Desisto de vocês – falo e me viro indo para a porta – Até amanhã suas malucas, e tampe a porcaria dessa caixa
- Deixei um sanduiche para você dentro do micro-ondas – Grazi fala e eu suspiro aliviada, minha barriga já roncando em resposta
- Obrigada tia, amo vocês
- Te amamos também – elas respondem em uníssono e eu fecho a porta seguindo para o banheiro
Tranco passando a chave, um costume de anos, e me viro para o espelho fazendo uma careta para a imagem a minha frente. A minha pele escura está oleosa no rosto, meus olhos verdes estão apagados e um tanto vermelhos de sono
Passo a mão no cabelo escuro e curto tocando os ombros e resmungo quando os sinto tão oleosos quanto minha pele. Porcaria
Decidindo pela limpeza e não pelo cansaço entro debaixo do chuveiro e suspiro aliviada quando a água morna bater em minhas costas e em minha cabeça aliviando os nós tensos em meu corpo.
╠♥╣
Mastigando lentamente e de forma sonolenta o sanduiche pego meu celular colocando-o no carregador e deslizo olhando algumas mensagens. Clico na primeira que me aparece e dou um sorriso quando vejo quem é.
Zoe: Virei uma garrafa de vinho e nem me senti culpada
Eu: Ok, devo me preocupar?
Zoe: Ainda não, se eu for presa eu te ligo
Eu: Você não deveria estar curtindo sua noite de folga de outro jeito?
Zoe: E que jeito melhor do que tomando uma taça de vinho em sua residência assistindo um romance que provavelmente irá me causar depressão?
Eu: Uou, isso é pesado demais. É quase extremo
Eu: O que ele fez?
Zoe: Me ligou cinco vezes hoje
Eu: Sinto muito, você quer que eu passe aí amanhã de manhã?
Zoe: Amanhã de manhã estarei sobrevivendo somente com um copo de água e um óculos de sol, então é melhor não
Zoe: Mas aceito o convite, vou jantar com você amanhã
Eu: Hilário, amanhã eu estou trabalhando no clube
Zoe: Droga, eu me esqueci. Então nos encontramos lá
Eu: Combinado, eu vou dormir agora, tente não matar ninguém
Zoe: A não ser...
Eu: O idiota que não deve ser nomeado. Mas se você for mata-lo eu quero ir junto, minha faca já está preparada
Zoe: Ok John Wick
Eu: Te amo
Zoe: Te amo mais
Optando por não ler as outras mensagens bloqueio a tela e lavo rapidamente o prato antes de me dirigir ao quarto e me deitar suavemente ao lado de um Luke adormecido. Me cubro com o lençol e o puxo para mim sorrindo quando ele rapidamente enrola seus braços em volta do meu pescoço
- Te amo cavalinho – sussurro e fecho os olhos adormecendo logo em seguida
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A Mentira Perfeita
RomansaTem algumas coisas que Anelise LaRue pode definir como boas, como andar na rua em dia de chuva, comer pizza toda sexta feira, assistir filmes na televisão e ver o sorriso de Luke toda vez que ela volta para casa. Mas ser chamada de ladra não está e...