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Chuuya começou com cuidado. Iniciou descolando os esparadrapos do pulso direito de Osamu.

Aos poucos suas feridas foram se revelando, ao mesmo tempo que seu coração acelerava cada vez mais.

Dazai puxou seu braço bruscamente quando Chuuya conseguiu avistar uma cicatriz maior, a que Dazai mais odiava.

O desespero do garoto aumentava gradualmente, à medida que sentia que seu coração iria saltar pela garganta a qualquer minuto.

Ele precisava delas...

Mas por que elas o fazem mal? Se não a fizessem, Dazai poderia vivenciar um mundo perfeito, sem dor, sem medo; apenas alegria...

— Cadê... C-Cadê? — Proferiu com a voz falha, procurando apressadamente suas pílulas da alegria em sua mochila.

— O quê?! Dazai, não! Me dá isso! — Falou Chuuya tentando pegar a pílula da mão do moreno.

— Não! — As lágrimas começavam a molhar seu rosto novamente. Dazai só queria parar de sentir aquela sensação horrível e indescritível que estava sentindo.

Antes que pudesse colocar a pílula na boca, Chuuya a tomou da mão de Osamu.

— PARA! — Gritou fazendo Dazai despertar de seu transe obsessivo pela pílula. — Por que você vai tomá-la mesmo sabendo que te faz mal?! — Questionou jogando-a pela janela.

— Talvez possa d-dar certo um dia e eu fique feliz. — Contou Osamu, soluçando. Abraçou seus joelhos, fitando um ponto aleatório do quarto.

— Escuta, não acha melhor soltar isso pra fora? Talvez eu não seja a melhor pessoa em que você confia para desabafar, mas eu vou te escutar sem julgamento nenhum. — Nakahara encarava os olhos escuros de Dazai, que expressavam apenas medo.

— Jura que não conta pra ninguém? — Osamu fitou o ruivo.

— Prometo! — Falou e esticou o dedinho. Dazai imitou Chuuya e ambos fizeram o juramento de mindinho, onde a promessa jamais seria quebrada.

Dazai respirou fundo; mal sabia por onde começar.

— B-Bem, eu apanho dos meus pais desde que me entendo por gente. Nunca fui perfeito em nada, tudo estava sempre ruim ou mal feito. — Nakahara ouvia atentamente às falas de Dazai. — Eu não podia sair de casa, não tinha amigos, não tinha com quem conversar... Todos na escola me achavam esquisito por usar esparadrapos no corpo todo, sofri bullying por causa disso. C-Chegaram até a me bater. — Osamu limpou uma lágrima.

Chuuya sentia um aperto no seu coração ao ver a angústia do maior em contar sobre o que lhe atormentava. Engoliu em seco, não deixando de prestar atenção no rapaz.

— Em todos os lugares eu sofria violência psicológica e física. E então eu cansei, cansei de apanhar todos os dias, ser xingado e humilhado todos os dias. Foi aí que eu quis colocar um fim nisso tudo... Mas não deu certo. — Contou olhando para sua cicatriz mais profunda no pulso.

Pausou. Respirou fundo, mordendo o lábio inferior com certa força. Ao se sentir pronto, prosseguiu.

— Eu pensava em fugir há muito tempo, mas tinha medo das consequências, medo de me pegarem em flagrante e apanhar ainda mais depois. Mas deu tudo certo e consegui me livrar daquele inferno. Aí eu andei por aí sem rumo, chegando na estrada e... — Pausou, segurando o choro.

— E...? — Chuuya o estimulou a prosseguir.

— E então... eu encontrei o Odasaku. — Continuou Dazai, dando um sorriso triste. — Ele me ajudou quando eu mais precisei, me deu um teto para dormir. Porém, tudo acabou quando ele se foi...

ROTA 96 | SOUKOKUOnde histórias criam vida. Descubra agora