Capítulo 3 - Reconhecimento

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   Segurei minha vontade de ir até a padaria do tal do Manuel, pra investigar sobre Monara naquela sexta e em vez disso, fui direto pra escola tentar matar outra curiosidade. A primeira era se todo mundo por lá já sabe que sou uma menina com mãos leves e a outra, menos interessante, é saber quem exatamente o tal do Jonas é. Com certeza o círculo de fofoca de Jenna deve ter alguma informação sobre alguém como ele.

   Mas acaba que, quando chego na escola e vou direto pro meu armário, ele próprio em pessoa me espera, com o nariz roxo, um esparadrapo colado e alguns adolescentes sem nada pra fazer ao redor. Não é que ele é mesmo uma celebridade?

   —Podem me dar licença? — Peço pra multidão de baba ovo que faz o favor de me olhar de cima a baixo.

   —Gente, podem ir na frente? Tenho que falar uma coisa com ela. É rapidinho, juro.

   Eles fazem cara de decepção mas depois de trocar alguns soquinhos na mão de Jonas, vão embora. Eu cruzo os braços.

   —Sabia que machucou? — Ele me acusa.

   —Então não veio me pedir desculpas?

   —Desculpa? Você socou meu rosto — Ele murmura — E foi a Cláudia que me pediu pra inspecionar suas coisas depois de cada turno.

   —Ah então você tava com medo deu ter escondido a cafeteira dentro do meu caderno de notas?

   Ele fica sem resposta pra isso.

   —Pode me dar licença agora? — Peço.

   —Pra que você rouba heim? É até que organizada…

   Olho pros lados pra conferir se ninguém ouviu.

   —Dá pra calar a boca?

   —Eu vim te propor um acordo, olha como eu sou legal — Ele sorri — Eu não conto pra ninguém sobre suas atividades se não sair espalhando por aí que me socou. O que acha?

   Sinceramente, que devia dar outro soco nele.

   —Maldito… Tá bom, sai daqui antes que eu…

   —Heli! Heli querida! — A voz de Jenna aparece como um auto falante — Minha melhor amiga do mundo todo, onde você estava, tava te procurando como uma louca!

   Passado o susto de vê-la com batom vermelho vibrante as sete da manhã, ainda tenho que aguentar um abraço e um beijo na bochecha. A última vez que Jenna me viu antes do intervalo era quando a gente comia areia.

   —E quem é esse gato? — Ela logo me explica o motivo, sorrindo como nunca enquanto limpo minha bochecha — Quer dizer, apesar de já saber quem você é.

   Jonas devolve um de seus sorrisos feitos pra ela.

   —Jonas Lewis, conhecido também com Jonas Sharks, filho do caçador de tubarão.

   E então os dois trocam um aperto de mão enquanto ela se apresenta. Bem que eu achei o rosto familiar… Não acredito que soquei esse cara. Se as pessoas soubessem disso, não era só a masculinidade dele que seria afetada mas minha vida toda.

   Acontece que morar numa ilha paradisíaca tem seus contras. Enquanto eu fui salva no lado oeste se o mesmo acontecesse no lado leste, o mais prestigiado da ilha, eu estaria agora repousando tranquilamente no estômago de um tubarão raro agressivo que adora comer carne humana. E a família inteira de Jonas é a paga oficialmente pelo governo com licença e tudo pra capturar, caçar e matar os tubarões vermelhos.

   E a minha mãe era apenas a ativista que lutava contra a caça legalizada deles.

   Imagino que se ficassem sabendo, meu nome e o dele estariam nas manchetes amanhã como "filha segue os passos da mãe".

A descoberta das Ômegas - FINALIZADO (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora