Capítulo 18 - A tia de Monara

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   Domingo, meu pai percebe que estou meio desanimada (mesmo sendo o dia que vou conhecer a tia de de Monara) e resolve cozinhar pra me animar. Vai ao supermercado sozinho, passa duas horas lá e quando acho que ele se perdeu no caminho, chega num Uber cheio de compras.

   Pergunto se ele quer ajuda e sério, muito sério ele me manda sentar em frente à televisão com um balde de refrigerante enquanto toma conta da cozinha. De vez em quando dou uma espiada, roubo um pedaço ou outro do queijo bom que ele comprou, mas nem lavar a louça ele permite que eu ajude.

   E aí, quando já estou com um buraco no estômago de tanta fome, ele coloca dois tabuleiros imensos de lasanha a bolonhesa na mesa e comemos até não termos mais condições de andar. Eu não sei o que ele coloca, ou são os ingredientes que são de primeira, mas como tanto, mas tanto que até mesmo eu me junto a soneca a tarde.

   E sim, perco totalmente a hora do encontro.

   Tomo um banho voando, pego a primeira blusa com o shorts de sempre e saio correndo pela rua. Nem preciso explicar ao meu velho aonde eu vou, foi o assunto de hoje durante o almoço.

   Preocupada com a primeira impressão que darei, olho pelos vidros dos carros na rua mesmo meu cabelo curto e molhado. Geralmente o corto assim que cresce, só que ando pensando em deixá-lo crescer agora que não preciso de um campo de visão tão amplo, porque parei de roubar.

   Só me lembro da importância desse dia, além de saber sobre a família dela, quando passo pelo mesmo lugar que nós despedimos. Hoje ela vai me explicar as coisas estranhas... Será que isso inclui o cara que caiu em cima do cachorro?

   Chego até às nossas pedras e de frente ao nosso mar, o iate do qual fui jogada pesca tubarões ao longe. E nada de Monara.

   —Procurando alguém moça?

   Tomo um susto, viro em direção à voz  doce que só ela tem e pra encontrá-la, encostada a uma árvore com um vestido azul e estampado preso ao pescoço como o último. Como se não fosse ninguém mas destoando completamente da floresta, como encontrar um colar de diamantes preso a um galho.

   —Que susto! — Sorrio pra ela, me aproximando do monumento — Pensei que não viesse.

   —É mesmo, por que? Já disse que não vou te deixar em paz.

   Dou de ombros.

   —Você sempre tem a opção de desaparecer Monara. Você é que sempre sabe onde me encontrar.

   —Não seja tão dramática — Ela estende a mão — Vamos?

   Segurando seus dedos quentes ela me puxa no que penso ser a direção da sua casa... Pra dentro da mata?

   —Monara, você mora numa árvore?

   —Não sua doida, é que a minha tia é o que chamam de... excêntrica. Você vai entender quando conhecer a peça.

   Entender... Essa é a palavra do dia.

   —O que eu devo saber sobre ela?

   Andamos em frente, sem trilha nenhuma no chão, mapas, GPS ou placas, rumo a uma casa na árvore. E se a tia dela for uma maluca que mora numa caverna e come casca de árvore? Como agir com alguém assim?

   Não passa na minha cabeça de estar sendo levada pra ser desovada na mata. Essa é a confiança que tenho nela, de segurar sua mão e andar numa floresta fechada rumo ao desconhecido.

   —Bom... Ela deve te fazer perguntas estranhas que só fazem sentido na cabeça dela e... Ela é muito metida. Deve falar sobre ela o tempo todo... Por favor, não ligue. — Ela pede.

A descoberta das Ômegas - FINALIZADO (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora