Minha semana se passa como uma coletânea de coisas que já vivi. Olhares tortos, risadas e ansiedade por, adivinha só, Monara. Não há absolutamente nada que indique que voltamos a nos falar, nada que indique que sábado às quatro quando eu talvez apareça naquela mata, ela vai estar esperando por mim e mesmo assim... Meu cérebro volta e meia cai nesse assunto.
Até que quarta uma coisa muda o foco do meu trabalho assim que chego. Claudia e Line estão com dois jornais (sim, ainda existem jornais de papel) abertos em frente ao rosto, uma montanha de outros no balcão enquanto uma fila de clientes parece paciente até demais.
—Qual a boa? — Pergunto.
—Você saiu na página 7 do jornal Diário de Oki! — Cláudia grita, ri, joga o jornal na minha cara, tudo ao mesmo tempo — Pode ler.
O maldito jornalista... O que é que ele escreveu na matéria? O valor do martelo? Não consigo acreditar mas, abro um dos exemplares e na página sete "Famosos de Oki" está uma coluna curtinha sobre mim e duas fotos. Uma quando eu era criança, me escondendo na barra do vestido da minha mãe e uma de ontem, revirando os olhos enquanto falo com um cliente aleatório.
A matéria começa falando que saí da caverna onde me escondi esses anos desde que conheci o filho do rival da minha mãe. Fala sobre o primeiro "acidente" e sobre o mais curioso, o segundo onde desapareci por duas horas e quarenta minutos. Claro, dizem que não herdei a sorte da minha mãe, mesmo que ironicamente não apoie a causa dela. A matéria termina falando mal da loja, sobre como a dona usa minha fama pra atrair pobres clientes.
O que isso significa? Que as vendas de Cláudia vão cair... Se alguém ainda ler jornal.
—Sinto muito, Cláudia.
—Você tá brincando menina? Já viu o tamanho da fila? Não existe propaganda ruim — Ela gargalha — Da próxima vez, tenta dar um soco nele, que tal?
Faço que não com a cabeça, sem acreditar. Acho que posso processar ele porque como Line disse, não dei meu consentimento mas não foi tão mal assim. Nada que eu não ouça numa segunda feira boa.
Quando chego em casa à noite, meu pai tem dezenas de jornais comprados, todo bobo porque tem uma filha famosa. Do jeito que ele fala, parece até que eu apareci no New York Times salvando crianças de incêndio.
Na quinta, a palavra ISCA pichada no meu armário me deprime assim que chego na escola. Pergunto pra inspetora se não vão limpar e de novo escuto que está sendo providenciado. Kevin diz que deveríamos pichar o armário de Camilla ou do Caio, o metido que brigou comigo no refeitório, mas com a sorte que eu tenho é provável que eu seja presa em flagrante.
Ele também me diz, me obriga até a ir até a floresta sábado, que isso é indiscutível, que ela é um mistério maior que minha mágoa e que por me salvar 2 vezes ela tem crédito de sobra pra errar. Kevin me pergunta se eu não sinto falta quando digo que ainda estou pensando a respeito e eu não sei o que responder.
E se eu for na floresta e ela não estiver lá? Se for definitivo? Enquanto eu não for, ainda está suspenso, ainda há chance e se eu for... Estará tudo acabado. Eu não digo isso a ele.
Sexta a presença de Jonas agita a escola que me esquece finalmente. Na hora do intervalo, depois que Kevin diz que meu namorado tava quieto demais, eu observo ele. Separado da agitação da mesa dos populares, Jonas passou o intervalo inteiro com a cara enfiada nos livros, repondo o que perdeu, imagino. Só teve uma vez que ele tirou o rosto e espaireceu, olhou pelo refeitório inteiro e sorriu quando me encontrou, levantando o polegar pra mim. Retribuí com o dedo do meio, só pra brincar e fazer ele sorrir um pouco. Ele me deu a língua.
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A descoberta das Ômegas - FINALIZADO (Em Revisão)
RomanceHeli só queria o que todo mundo tem: anonimato. Mas, por causa de sua mãe que era uma ativista famosa e sua morte trágica, todos na pequena ilha de Oki a conhecem, por bem ou mal. Cansada dos olhares tortos, Heli junta dinheiro através de pequenos f...