Capítulo 30 - As irmãs de Monara

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   Eu sei, é ridículo falar outra vez sobre a beleza esmagadora das sereias, mas de que modo eu conseguiria presenciar a coisa mais linda do mundo sem elogiá-la? Não sei qual delas é Sal e qual é Maré, as coisas que sei são as que vejo.

   A sereia da esquerda é negra, num tom mais escuro que o de Maressa, parecendo ser banhada num tom aveludado e brilhante que eu jamais vi. De cabeça raspada e nariz empinado, ela é imponente. O que quebra toda essa força são seus olhos, grandes e doces parecendo um gato pedindo carinho. As escamas que envolvem seu rosto são rosadas, claras e delicadas.

   A da direita é ruiva, com longos cabelos vermelhos que por estarem molhados parecem estar úmidos de tinta. Ela também tem sardas nas bochechas e parece tão, mais tão inocente e fofa que me lembra uma criança. Suas escamas são vermelhas mais escuras que seu cabelo, lindas.

   Os olhos de ambas, assim como os de Monara, refletem o mar. O azul escuro que as envolve.

   —Eu juro que se ela disser que somos bonitas eu vou embora — A negra diz. Sem paciência pra variar.

   —Não seja tão rabugenta Sal, somos tão belas que derretemos pedras — A ruiva me defende — Me chamo Maré. Hm… Escolhi meu nome porque assim que saímos pra água, vi uma placa escrito "Cuidado: risco de maré alta". Legal né?

   —Fala pra ela que se chamou de Cuidado por três anos — Sal implica.

    Maré, brincando, sobe na cabeça nua da irmã e ambas afundam. Sorrio. Isso parece ser uma brincadeira, quase que humana entre irmãs. Será que também são assim com Monara?

   Quem diria… Hoje pode ser mesmo um dia melhor. Me aproximo da borda e um pouco afastada de Monara, me sento com os pés dentro da água. Tenho a impressão que elas podem me dar uma outra perspectiva sobre Monara, quem sabe até sobre sereias.

   —Valeu por chamá-las.

   —Não agradeça antes do fim desse dia — Monara soa preocupada. — Cuidado com Sal.

   —Por que cuidado comigo!? — Elas voltam. Sal joga um monte de água salgada pra fora da boca — Essa doida aqui é mais perigosa.

   Maré olha pra mim me avaliando como uma médica. Com cuidado ela se aproxima e, audaciosa, coloca as mãos sobre meus joelhos.

   E depois os abre. Coro mesmo de shorts.

   —Se não for demais… Posso ver seu útero?

   —MARÉ?! — Monara e Sal gritam.

   —O que foi? Eu disse se não for demais. É que… Quando a gente comia não aproveitamos pra explorar o corpo humano ainda vivo. Ro dizia que vocês tem órgãos a mais e estômago de menos.

   —Ro também dizia que os humanos flutuavam por aí antes de descobrirem a gravidade — Sal soca a cabeça de Maré enquanto rio — Ela tava zuando.

   —Essa parte é mentira mas… Temos um estômago só e como vocês não vão ao banheiro, temos intestino e bexiga.

   —E os rins diferentes — Monara completa — São menores.

   —O que é um intes…Ino?

   —Intestino — Corrijo, feliz por elas não saberem de tudo — É uma coisa longa como uma cobra, dobrada várias vezes na barriga por onde a comida passa e sai pelo… Como cocô.

   —Isso é nojento — Sal diz — Eu esvaziava essas coisas depois que descobri a verdade.

   —Eu acho incrível! — Maré apoia os cotovelos em meus joelhos — São tão complexos!

A descoberta das Ômegas - FINALIZADO (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora