Capítulo 12 - Invisível

81 13 2
                                    

   Decido não contar pro meu pai sobre a "visita" de Nobert em meu trabalho, por motivos de pra quê? Só iria deixá-lo triste e com raiva e não poderíamos fazer nada a respeito. A sala de funcionários não tem nenhuma câmera e com a barulheira dos outros clientes na loja, ninguém ouviu nenhum dos meus gritos.

   Depois dele jogar a lista de ferramentas no banco da sala e ir embora, a primeira a aparecer foi Line, tanto tempo depois que eu mesma já estava de pé. Cláudia tinha mandado ela comprar um monte de coisa gostosa na padaria pra agradar Nobert, que provavelmente chamaria todos os bolos especiais de lavagem.

   Ajudei Line a pegar os melhores produtos, mas foi ela quem foi levar com Cláudia as ferramentas até o carro. Ambas estranharam um pouco que eu mesma não fosse, também não disse nada a elas. Elas fariam perguntas cuja única resposta seria "porque ele odeia a minha mãe".

   Por sorte eu tinha outra coisa pra pensar além de iates, tubarões e ricos sociopatas. Ficaria com pena de abandonar o trabalho sem dizer nada a Cláudia no sábado se não fosse a semana maluca que eu estava tendo. Até Line concorda que eu preciso de uma folga e, enquanto Cláudia fuma do lado de fora, ela me ajuda a escapar pela porta da lateral.

   Com medo dela me ver, coloco meu casaco cinza de capuz e sigo reto sem olhar pra trás até o ponto de ônibus. É quase quatro da tarde por que Cláudia demorou o triplo de tempo entre um cigarro e outro. Eu estava quase fazendo um caminho de nicotina pela loja pra ver se ela seguia pra fora.

   Tiro o casaco assim que chego ao ponto, amarrando-o na cintura. Vesti o maiô por baixo da blusa brega da loja e ainda meu tênis pra esconder minhas cicatrizes. Olho até onde consigo, pela rua pra ver se meu ônibus está vindo, quando vejo alguém pior pilotando uma moto.

   Sem capacete e com óculos escuros, Jonas para em frente ao ponto de ônibus em cima de uma moto vermelha que parece muito cara. É claro, não sou a única a reconhecê-lo, logo uma multidão se aglomera ao redor dele. Aproveito a deixa pra ir pro ponto em frente a loja, mesmo correndo o risco da minha chefe me pegar escapando.

   Infelizmente, muito infelizmente mesmo, uma buzina começa a me seguir.

   —Heli! — Ele me chama — Por favor, espera! Heli!

   O que eu fiz pra merecer isso?

   —Se você não me der uma chance, eu vou te seguir o resto do dia.

   —Chance de que? — Grito pra ele e pros malucos que tentam tirar uma selfie com ele. Tirar meu encontro com Monara é a última coisa que ele vai fazer — Chance pra você me jogar na água de novo?

   —Não fui eu que fiz isso! Foram aqueles idiotas, eu tentei impedir!

   —Não foi você que me convidou?

  —Sim, mas...

   —E a ideia das fotos? — Rosno.

   —Não foi minha!

   —Mas você concordou! — É quando vejo, quando noto as câmeras dos celulares todas apontadas em nossa direção — Aqui não é lugar pra se conversar isso. Só... Me deixa em paz Jonas, finja que eu não escapei com vida, é o melhor pra nós dois.

   Dou as costas pra ele, sem olhar pra trás, sigo pra dois pontos além do convencional já que tem gente me seguindo. Não o garoto da moto, ele e sua buzina irritante desistiram de mim, o primeiro ato de bondade vindo da família tubarão.

🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊

   Penso na sorte que tenho pela ideia de fugir do trabalho, já que não sei se meu pai deixaria sair amanhã no domingo, com medo de me encontrar com o inominável. Sem querer, ela deu uma boa sugestão. Também penso nas perguntas que Kevin pediu que eu fizesse a ela, só que me soa tão manipulativo... Não quero que seja algo tão formal, gosto de como as coisas fluem entre nós.

A descoberta das Ômegas - FINALIZADO (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora