Capítulo 11 - O dia seguinte

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   A manhã seguinte da conversa com meu pai podia ser estranha se eu não tivesse uma coisa melhor pra ocupar minha mente. Era o dia seguinte do desastre, da humilhação e tudo isso na ilha mais fofoqueira do pacífico. Pelo menos, não vou ser arremessada de nenhum lugar, eu acho. É triste, mas é o que me consola.

    Troco meu chinelo por meu par de tênis surrado pra esconder minhas novas/antigas cicatrizes. Além da humilhação que vou sofrer e dos cochichos, da dor que sinto quando piso, ainda estou toda dolorida nas juntas por passar a noite toda nadando… Olha, todo o sofrimento parece ser pouco pra mim.

    Decido enfrentar isso de cabeça erguida. Não vou chorar ou me esconder, não vai adiantar, todo mundo vai falar de mim. Vou aceitar a minha sina e simplesmente passar por isso, uma hora ou outra vai aparecer um boato mais interessante e eles vão me esquecer. Sei que vão.

    O problema é todo o caminho até lá.

    Eu sempre ouvi cochichos sobre mim, não adianta, não tem nada mais cômico que uma ativista chata morrer pro que ela defendia, só que eles tinham diminuído ao longo dos anos e hoje… Voltaram com força total.

     Quando chego no meu armário já estou de saco cheio, mas a comitiva que me espera parece tentada a entorná-lo.

    —Uau, uma Grayve que sobreviveu! É um milagre! — Kate com o nariz enfaixado diz.

    E ao lado dela Jenna, sorrindo com o queixo altivo e de braços cruzados, como se eu fosse um espetáculo.

    —Pena que eu não posso dizer o mesmo pro seu nariz, não é Kate? — Rebato. Eles ficam mudos.

     Não por muito tempo.

    Abro o armário e um milhão de fotos minhas e de Jonas beijando caem sobre meus All star preto. Eu não sei qual é a graça disso, mas eles gargalham.

     —Posso ser idiota mas nunca gastaria tanta tinta de impressão pra zoar alguém — Tento.

     A inspetora olha pra mim de longe, depois olha pros papéis no chão, então já sei o que fazer. Ainda sob gargalhadas, cato foto por foto.

    Não liguei pro ato na hora, eu desdenhei dele, fiz pouco naquele dia e agora, olhando pras fotos me arrependo. Meu primeiro beijo vai ser pra sempre com um cara que tramou com os amigos pra me humilhar e me deixou ser jogada no meu pesadelo. Subestimei demais a importância das primeiras vezes, prometo a mim mesma nunca mais fazer isso.

     O resto das minhas aulas seguem normais, tirando os olhares, claro. Haviam três deles naquela manhã: as risadas, o olhar de pena e os curiosos. Os de sempre.

    Na hora do intervalo, morrendo de fome, penso de verdade em fugir pra quadra pra ficar um pouco em paz. Não vi Jonas quando cheguei, mas provavelmente deve estar no refeitório. Tem uma parte de mim que quer ser forte, pegar a bandeja e ignorar todo mundo como sempre fez, só que essa parte anda sem energia agora.

   Nem passo pela porta, sigo direto pra quadra coberta com meus fones de ouvido.

     —Não é que eu adivinhei que você estaria aqui? — Uma voz me cumprimenta assim que atravesso a porta.

    Kevin empurra os óculos pros olhos, encostado na parede, o nerd mais estiloso e confiante do mundo.

    —Parece que não somos mais um trio.

    —Se eu soubesse que era fácil assim me livrar de Jenna, eu apoiaria a sua decisão de ir na festa. Vem, tenho um presente pra você, pra melhorar seu humor.

    Sigo Kevin pela arquibancada, no terceiro piso. As cadeiras nada mais são que feitas de concreto, como enormes degraus. Sentamos com as pernas cruzadas, admirando a quadra, as piscinas ao fundo e os adolescentes que bebem e fumam escondidos, mesmo a essa hora da manhã

A descoberta das Ômegas - FINALIZADO (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora