Onze

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Inglaterra, 03/09/1827.

William.

Uma vez, durante a universidade, meu amigo Colin me disse que beijar com raiva era mais gostoso. Eu nunca fui do tipo libertino e tive pouquíssimas amantes em minha vida, logo nunca tinha tido essa oportunidade. Ao menos não antes de Catarina aparecer.

A história de como ela chegou até aqui é uma loucura sem pé nem cabeça, mas, apesar de me tirar do sério, Catarina não é louca.

E eu a amo. Meu Deus, como eu amo aquela mulher. Ela só podia ser menos teimosa, afinal onde já se viu achar que eu quero me casar com ela só por causa do dever?

Obvio que depois de todas as intimidades que já tivemos, o mínimo que eu deveria fazer era pedi-la em casamento, mas eu realmente quero que Catarina seja minha esposa. Eu seria louco se não quisesse.

Infelizmente nós não conversamos depois do beijo e eu não tive a chance de dizer isso para ela. Por essa razão tenho esperanças de que seja Catarina batendo na porta do meu escritório, não a vejo desde a festa e, por algum motivo que desconheço, ela não apareceu para o café da manhã de hoje.

Sem esperar por uma resposta, a pessoa abre a porta. Mas não é Catarina entrando na minha sala, é a minha mãe e ela parece bem séria.

— O que está fazendo? — Ela pergunta.

Desvio o olhar para a minha mesa, há alguns papeis com a contabilidade e um copo de uísque pela metade.

— Apenas organizando as contas.

— Não isso. Quero saber o que está fazendo com a Catarina.

Ela sabe?

Meu coração acelera. Nós, possivelmente, não disfarçamos muito bem, mas não achei que minha mãe poderia vir me confrontar sobre isso. Fico tão surpreso que minha própria cara deve me entregar.

Minha mãe suspira e se senta no sofá, ela dá umas batidinhas no assento ao seu lado e eu imediatamente me levanto para sentar com ela.

— Do que exatamente a senhora sabe? — Questiono.

— Eu vi vocês dois se beijando no jardim ontem. Por Deus, William, aconteceu mais alguma coisa?

Não hesito antes de responder:

— Sim.

Ela me encara, está séria demais. É assustador, nenhum homem deveria passar por isso.

— Não me diga que vocês... — mamãe começa a pergunta e eu a interrompo antes que tenha chance de terminá-la.

— Não! Nós só estamos ficando — e assim que digo percebo que estou pegando as manias de Catarina. "Ficando", sequer sei direito o que significa. E duvido muito que minha mãe saiba, por isso me corrijo: — Somos amantes, mas nunca passamos dos beijos.

É uma façanha que nem eu compreendo, há dias só quero Catarina, há dias tudo em que penso é nela em minha cama, comigo. Droga, eu não devia pensar em nada disso agora.

— Vocês têm sorte de ninguém ter descoberto.

Não acho que é um bom momento para dizer que minhas irmãs sabem e que os criados também devem saber. Mas é verdade, temos sorte, afinal alguém poderia ter espalhado.

— William, eu preciso que você seja sincero comigo — minha mãe fala e eu assinto imediatamente. — Você a ama?

Dou um sorriso de um idiota completamente apaixonado, o sorriso já deve ser resposta o suficiente, mas mesmo assim a respondo.

— Mais do que eu achei que seria possível.

Ela sorri, satisfeita com a resposta.

— E por que não a pediu em casamento ainda?

O meu sorriso diminui, eu diria que passou de "apaixonado" para "triste" em um piscar de olhos. Depois eu só paro e fico em silêncio por um momento. Porque eu já pedi e Catarina disse "não". Não sei como contar isso para minha mãe, não sei nem se devo contar.

Minha mãe é uma mulher muito sensata, mas imagina o que pensaria de Catarina se eu contasse. São duas mulheres de épocas diferentes, o que quer dizer que as duas pensam de maneiras muito diferentes. Não, não posso deixar que minha mãe pense algo ruim de Catarina.

— Não acho que ela aceitaria — digo.

Escuto ela murmurar algo sobre homens serem idiotas e cegos.

— Acho que você ainda é novo no amor e não consegue perceber, mas eu não sou... aquela jovem te ama, meu filho. Você devia fazer a coisa certa por ela e por você e pedi-la em casamento — diz e logo em seguida segura minha mão. — Mas, Will, se você não tiver nenhuma intenção em se casar com Catarina, é melhor se afastar e terminar esse romance antes que alguém mais descubra ou algum de vocês tenha o coração partido.

Assinto. Minha mãe não tem noção do quão grande é a minha intenção de me casar com Catarina.

Se dando por satisfeita, ela se levanta, me dá um beijo na cabeça e afirma:

— Você sabe onde está o anel de noivado da família.

— Sei.

Através do Espelho (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora