Inglaterra, 10/09/1827.
William.
Eu sou um covarde.
Digo para mim mesmo que só estou esperando o momento certo para pedir Catarina em casamento outra vez, mas na verdade estou apenas protelando.
É tão complicado. Minha mãe tem razão, eu preciso fazer o que é certo por mim e por Catarina. Preciso fazer o que é certo pelo meu coração. Eu amo Catarina e, se minha mãe estiver correta, ela também me ama. E se esse sentimento é recíproco, então temos que ficar juntos, certo?
Certo.
Mas também pode estar errado.
Seria muita prepotência de minha parte acreditar que talvez eu e Catarina nos amarmos seja a razão dela ter vindo parar em 1827? Isso supondo que o sentimento é recíproco...
Porém Catarina disse alguma coisa sobre a senhora na loja ter falado sobre encontrar o amor. Talvez eu seja esse amor afinal.
O pior de tudo é que nós ainda nem conversamos direito. Catarina parece estar confusa e eu decidi que seria bom dar um tempo para ela pensar, talvez ela decida querer tentar a voltar para casa, talvez ela decida ficar. Por Deus, já fazem dias e eu estou ficando louco.
Eu peguei o anel de noivado da família no quarto da minha mãe ontem, tenho certeza que ela notou que sumiu, mas não disse nada ainda. Também deve estar me dando um tempo, ela está mais atenta.
Estou com o maldito anel em meu bolso nesse momento, mas não tenho coragem de ir até Catarina. A alta probabilidade de receber um "não" é um grande inibidor, mas acho que também tenho medo de que ela aceite. Tenho medo de que Catarina diga "sim" e tenha uma chance de voltar para 2019, tenho medo que ela volte e, acima de tudo, tenho medo que ela não volte por minha causa. Eu jamais me perdoaria se a prendesse aqui.
Mas eu a amo e a ideia de ter ela longe me atormenta, uma vez eu tive um pesadelo em que ela voltou para sua época sem se despedir. Acho que o amor também é um pouco egoísta. Sei que eu sou.
Cresci vendo o amor dos meus pais, cresci querendo um amor tão puro e sincero quanto o deles. Não é justo que na única vez em que me apaixono seja tudo tão complicado. Não consigo me ver apaixonado ou casado com outra pessoa. É Catarina, sempre será ela. E, meu Deus, pensar nela com outro homem é simplesmente abominável.
Isso vem atormentando o meu sono há dias, as vezes eu fico só deitado no escuro me angustiando, as vezes eu vou para o escritório e as vezes fico andando pela casa ou pelo jardim.
Hoje eu escolhi ir até a cozinha tomar um leite quente, talvez me ajude a dormir. Eu só me esqueci que não sei ligar o fogão para poder esquentar o leite. Está muito tarde para chamar um criado, não é porque eu não consigo dormir que vou atrapalhar o sono das outras pessoas, por isso tomo o leite frio.
É horrível e eu detesto.
Coloco o copo na mesa e estou pronto para voltar para o meu quarto e tentar dormir mais uma vez quando escuto passos indo na direção da cozinha. E então a pessoa entra e eu vejo Catarina segurando uma vela e indo na direção do armário.
— Oi — digo.
Catarina se vira tão rápido que o fogo da vela quase se apaga, ela coloca uma mão no coração antes de falar:
— Que susto, William! O que você está fazendo aqui no escuro?
É verdade que eu não trouxe nenhuma vela comigo, mas não está tão escuro assim, a janela está aberta e a lua está cheia, logo hoje está até claro.
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Através do Espelho (COMPLETA)
أدب المراهقينCatarina sofreu uma desilusão amorosa, perdeu a melhor amiga e trabalha em uma empresa que odeia. Enfim, sua vida era terrível. Até o dia em que ela viajou no tempo. Se no dia dez de agosto de 2019 Catarina não tivesse ido até aquela loja de antigu...