8 | Cuidados

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Apartamento 777 - Capítulo 8 | Cuidados!

Enquanto a chuva cai, começo a gargalhar como uma criança. Algo que eu amava fazer quando morava com minha mãe na fazenda era me banhar na chuva. Percebo que Jin está me encarando e, de repente, fico corada com a intensidade do seu olhar. Ele se aproxima mais, e por alguns segundos, me esqueço até de respirar. Sua boca está tão perto da minha, que sinto um incômodo no nariz e acabo espirrando bem em sua cara.

— De-desculpa! — Foi a única coisa que consegui dizer. Queria me esconder, me enfiar em um buraco, como um avestruz.

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Chegamos em casa e, no caminho, ninguém ousou dizer uma palavra. Isso me incomoda.

— Jin! — Chamei, vendo-o retirar o casaco. Estávamos encharcados.

Ele me olha.

— Desculpa por... bem, por ter espirrado no seu rosto. Eu realmente não pude evitar.

— Pra quem já ganhou um vômito seu, um espirro não foi nada. — Ele me encara. — Melhor tomarmos um banho.

— Jun- Juntos? — Pergunto, surpresa.

Jin arqueia uma sobrancelha.

— Óbvio que não. Eu vou primeiro. — Ele sobe as escadas, e quando escuto o barulho do chuveiro, vou para o quarto, tiro minhas roupas e procuro por uma toalha. Coloco-a e desço para comer algo. Alguns minutos depois, ouço o chuveiro de Jin desligar. Subo para tomar meu banho e, ao abrir a porta, vejo que ele está quase tirando a toalha.

— Desculpa! — Fecho a porta rapidamente, ouvindo sua risada.

— Pode entrar. — Ele diz de dentro do banheiro. Eu abro a porta, com a cabeça baixa, e vou direto para o banheiro.

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Melinda já está dormindo, e eu aqui, no meu quarto, lutando contra uma maldita insônia. Resolvo descer para beber água. Quando chego na sala, a vejo encolhida no sofá. Acendo um abajur próximo e noto que ela não parece bem. Toquei sua testa levemente e percebi que ela estava extremamente quente.

— Nossa! — Olhei-a assustado e tentei acordá-la. — Melinda! — Toquei seu ombro. — Melinda, acorde, você está com febre! — Balanço seu corpo, e ela balbucia algo que não consigo entender. A pego no colo e a levo até meu quarto, deitando-a na cama. — Você precisa acordar, precisa de um banho gelado. — Olhei para o zíper do moletom dela por um instante, pensando em dar-lhe um banho, mas desisti da ideia.

Peguei minha carteira e a chave do carro, decidido a levá-la ao hospital.

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Algumas horas se passaram, e eu não saí do lado de Melinda. Ela recebeu um soro intravenoso, e depois de algum tempo, começou a se mover na cama, até finalmente acordar.

— Jin? — Ela diz, sonolenta. — Onde estou? — Me levanto da poltrona e me aproximo de seu leito.

— Te trouxe para o hospital. Você estava com uma febre muito alta.

— Assim, do nada?

— Queria o quê, um aviso prévio? "Oi, Melinda, estou te avisando que você vai ter febre por causa da chuva"? — Ela revira os olhos, e a doutora entra no quarto.

— Vamos precisar colher um pouco de sangue para fazer alguns exames. — A doutora olha o prontuário e Melinda me lança um olhar desesperado. — Vou chamar uma enfermeira. — Ela sai, nos deixando a sós. Melinda se levanta rapidamente da cama.

— Pra onde você vai? — Pergunto, vendo-a calçar os tênis.

— Vou embora daqui.

— Não pode. Ainda vão tirar seu sangue. — Cruzei os braços.

— E você acha que estou fugindo de quê? — Ela amarra o cabelo em um rabo de cavalo.

— Está com medo de uma picada de formiga?

— Seu idiota, não é uma picada de formiga coisa nenhuma. — Melinda pega o casaco e abre a porta.

— Ei, você não vai sair! Tem que fazer os exames!

— Me impeça! — Ela me olha desafiante, e quando percebo, estou correndo atrás dela pelos corredores do hospital.

Que feio, mulher desse tamanho com medo de tirar sangue!

— Ei! — Corro atrás dela, e as pessoas nos olham.

Certamente estão pensando: "Olha lá, dois retardados correndo pelo hospital!"

— Melinda, sua diaba, volta aqui! — Sou mais rápido que ela e, para alcançá-la, o único jeito foi puxar seu cabelo.

— Seu brucutu! — Ela grita. — Eu estou bem, não preciso tirar sangue.

— Qual o seu problema, sua retardada?

— Tenho medo. — Revirei os olhos. — Deixa eu ir embora, vamos pra casa, por favor, Jin! — Ela junta as mãos, e eu seguro seu braço.

— Eu vou te arrastar de volta pro hospital, nem que eu tenha que te levar nos ombros, igual um saco de batatas! — Ela fica irritada e me empurra.

— Seu idiota, seu... — Foi tudo muito rápido, e eu tive que segurá-la para que ela não caísse no chão.

Droga!

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E novamente, fico observando Melinda dormir. Depois do desmaio, tive que correr com ela nos braços pela calçada em frente ao hospital, enquanto todos nos olhavam. Incrível como Melinda sempre me faz passar por situações constrangedoras.

— Seu filho da mãe. — Ela disse baixo, mas pude ouvi-la. Ela mexeu o braço e reclamou. — Como você permitiu que me furassem? — Fez uma cara de raiva.

— Era necessário. Você ainda vai tomar seu segundo soro. Tiraram seu sangue enquanto você dormia. A médica disse que você está com uma infecção no estômago e me perguntou o que anda comendo. Eu não disse que você come miojo todo dia. — Logo, a enfermeira chega e me olha, sorrindo.

— Vamos trocar seu soro. — Vi Melinda se ajeitar.

— Hwasa veio aqui, mas você estava dormindo. Ela disse que vai te comprar uma capa de chuva na próxima. — Vi Melinda soluçar. — O que foi? — A enfermeira começou a preparar o soro.

— Eu estou com medo. — O olhar de Melinda era de súplica. Sentei ao lado dela na cama.

— O que posso fazer? — Observei-a mexer os pés e quase ri, pois só agora percebi sua meia do Pikachu.

— Minha mãe cantava uma música pra mim quando eu tinha que fazer exames...

— Não vai rolar.

— Por favor, é aquela...

"Um, dois, três!
Gosto tanto de você
Ottoke, ottoke
Você é tão bonito..."

— Peça outra coisa! — Revirei os olhos.

— Por favor! — A enfermeira se aproximou, e Melinda apertou os olhos.

E então, comecei a cantar, baixinho e morrendo de vergonha. A enfermeira deu um sorriso, o que me deixou ainda mais constrangido, porque naquele momento, estava segurando a mão de Melinda, que não parava de me olhar.

Quando terminei de cantar, ela suspirou.

— Vocês são o casal mais fofo que já vi. A forma como se olham e como você cuida dela. — A enfermeira sorriu, e eu e Melinda nos olhamos.

Por que as pessoas têm a mania de achar que somos um casal?

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Apartamento 777Onde histórias criam vida. Descubra agora