parte XI

23 0 0
                                    

Antes.

Estela.

Eu não tenho ideia de como minha mãe conseguiu dormir naquela noite, mas papai e eu passamos a madrugada acordados. Ele caminhando de um lado para o outro tentando limpar a sujeira que aquilo faria na vida politica dele e ao mesmo tempo acertando inúmeros detalhes para que a ida do meu irmão para a clinica fosse a mais discreta possível. Se os agentes dele conseguissem repetir o trabalho que fizeram escondendo o processo de divorcio ele teria sucesso.

Quando ele finalmente desligou o telefone ele decidiu me explicar o plano que colocaria em prática para salvar sua vida nas eleições futuras; de alguma forma a culpa pelos acontecimentos iria recair nas costas de mamãe, afinal, Peter estava morando com ela em virtude da separação. Quando as perguntas surgissem, o descontrole dela o levou para o vicio em drogas e bebidas e ele se entregou nesse caminho. Quanto a morte, uma coisa ficou muito clara em minha mente, este não seria o maior dos problemas. Nem mesmo ele se preocupou em saber o nome do defunto. 

Assim que amanheceu ele decidiu que seria melhor para todos que eu fosse para a escola, mostraria que a responsabilidade da situação agora era de mamãe. Não me opus, não queria arrumar discussão com ele e muito menos ouvir devoluções disso no futuro. Mas eu não estava feliz com aquilo. Nem um pouco. Minha angustia por ver sua frieza em relação a tudo aquilo se transformou numa raiva absurda. 

Todas as manhãs, desde que ele descobriu o câncer sou eu quem dá a ele os remédios para controlar os níveis da saúde dele. Hoje eu não faria isso, já que ele quer transferir responsabilidades que deveriam ser dele para outros, eu faria o mesmo com ele. Ele que se vire. Guardei os frascos na gaveta do escritório e me despedi dele enquanto ele se banhava.

No caminho para a escola recebi uma mensagem de mamãe.

 *Mãe*

~Seu irmão recebeu alta do hospital. Estou indo com ele para a clinica que seu pai ajeitou. Deu tudo certo. Te amo, mantenha a calma, volto no final do dia para cuidar de você.

Meu corpo estava exausto quando cheguei na escola, eu precisava descansar. Dei tchau para o motorista de papai e subi as escadas sendo observada por todo mundo que estava na casa de minha mãe ontem. Quando cheguei no saguão me deparei com o rosto tranquilo de Kyle. Me entreguei ao seu abraço assim como o filho se entrega ao pai. Senti conforto e afeto com ele. 

Nestes últimos dias Kyle estava bem próximo de mim. Ele era um menino muito meigo e conseguia arrancar o bem de mim, muitas e muitas vezes. Ele não foi a festa ontem, como de costume ele passava as noites vendo novela com a avó dele. Ele me abraçou no meio do corredor, não disse uma palavra, não era preciso, ele soube exatamente que o que eu precisava agora era apenas um carinho.

Me escorei no armário e contei à ele tudo oque tinha acontecido, pelo menos oque eu tinha visto. Tudo que ele fez foi me ouvir e me abraçar. Foi suficiente. Em alguns momentos até arrancou um sorriso de mim. Ele conseguiu tirar meu foco de todos os olhares e burburinhos que tinham na volta.

Quase como que do nada ele se transformou, se virou e saiu correndo. Eu não entendi nada, mas não tinha energia para ir atrás dele agora. Nem queria. Sai do corredor e fui para a sala aguardar o inicio na aula. Enquanto esperava limpei algumas notificações do meu celular; ligações do Asher, algumas mensagens da Laurel e de Jordan.

Surpreendentemente Jordan também estava sendo positivo comigo neste momento. Várias mensagens dele me diziam que podia contar com ele e que ele estaria ali para mim. Ignorei, mas guardei aquilo com carinho.

Destroyed SecretsOnde histórias criam vida. Descubra agora