Futuro
Estela
O sorriso prepotente da Delegada Parker me fez ansiar sentir o sol me queimar na avenida. Aquela arrogância toda, montada em perguntas infantis, vestida com sua calça de couro brilhosa, refletia alguém fraca, cheia de uma motivação fajuta. Eu já estava de saco cheio de estar sentada ali, respondendo seu interrogatório. O advogado que mamãe colocou para me acompanhar também parecia estar irritado com a situação. Suspirei e me joguei na cadeira mais uma vez.
- Estela, eu preciso que coopere comigo. - Ela insistia em pedir minha ajuda. - Estamos falando da morte do seu namorado.
- Ex. Ex-namorado.
Meus lábios abriram e fecharam cortando a ânsia que subiu meu esôfago.
- Tudo bem, ex... - Parker retomava. - Vamos repassar mais uma vez oque aconteceu naquela noite, por favor... Você e seu irmão, vocês voltaram para a casa de Asher mais ou menos que horas?
- Tarde suficiente, eu não sei...eu já te disse. - respondi com desleixo.
- Faça um esforço Estela!
- Se eu me esforçar mais um pouco... eu... eu juro que... - Direcionei meu corpo por cima da mesa, meu advogado segurou meus ombros e me puxou de volta evitando que eu subisse pela mesa.
- Minha cliente já respondeu esta pergunta Detetive Parker.
- Mas a sua cliente insiste em me dar respostas tão vagas quanto uma criança.
- Você me chamou de que? - levantei mais uma vez da cadeira irritada.
- Enquanto você não colaborar com a investigação eu preciso insistir, pelo contrário você pode ser presa pra responder o inquérito.
- Eu já disse tudo que eu sei. - me joguei de volta na cadeira.
Meus olhos estavam cheios de asco por ela, eu sabia que se ela fizesse mais uma pergunta e eu explodiria ali.
- Peter e Laurel estavam com você quando voltou pra casa naquela noite?
Ela não parava.
- Eu já disse tudo que eu sei.
- Pare de defende-los Estela... você acha que ganha alguma coisa com isso?
- Você nunca teve amigos né? Eu não me surpreenderia.. alguém como você.... irmandade, amizade não deve ser algo que você sustente... vaca!
Neste momento meu advogado me deu um cutucão e se levantou, eu sorri cinicamente para ela e acompanhei o movimento dele.
- Talvez você precise estudar mais um pouco pra voltar a enxergar as coisas com clareza... faça isso antes de me encher com perguntas sem fundamentos..
- Minha cliente e eu já fizemos o que tínhamos que fazer aqui... vamos indo...
Fui arrastada pelo braço pro lado de fora da sala. Assim que ele lacrou a porta nas nossas costas eu aprumei minha jaqueta e ajeitei o cabelo. Respirei fundo e então o acompanhei para sair da delegacia. Eu queria sair correndo, gritando, chorando de raiva de tudo que eu ouvi e precisei responder ali dentro.
- Você colocou a gente em problemas senhorita Hawnkov, não pense que será fácil...
Eu sabia disso, mas era a única alternativa de tirar Pit e Lau dessa situação, eu jamais os entregaria.
- Você defendeu papai de escândalos muito maiores no senado, eu sei que dá conta.
Caminhei rapidamente até sentir o calor amarelo tocar minha pele. Meus olhos demoraram para se acostumar a luz novamente e encontrar o carro do meu irmão. O carango conversível estava no outro lado da rua, me esperando com a capota aberta. Deixei o advogado sozinho e corri para encontrar meu irmão.
Sentei no banco do carona e finalmente soltei as lagrimas que estavam escondidas comigo. Apertei os joelhos, um contra o outro e desabei. A angustia desta situação toda estava desmoronando comigo. Peter desligou o carro e fez carinho na minha cabeça. Era tarde pra isso, as coisas já tinham acontecido, eu já estava sendo interrogada. Culpa dele.
Recebi seu carinho e deixei que as lagrimas secassem por conta.
- Vocês dois me devem isso...
Suspirei, limpei o rosto com a manga da jaqueta e encarei o vidro na minha frente.
- Você sabe que não precisa fazer isso Estela, você não é culpada por isso.
Eu não acredito que ele falou isso.
- E você acha que é melhor eu entregar meu irmão e minha melhor amiga de bandeja pra policia e ficar sozinha? Sem vocês? Você acha que eu vou ignorar a nossa amizade? Você sabe alguma coisa de fidelidade?
Ele apertou o volante e ligou o carro. Eu sabia que ele estava intrigado, questionador, sem entender o porque eu estava fazendo isso, mas mesmo assim, eu sei que ele faria o mesmo por mim. Ele já fez.
- Você não precisa se preocupar Peter, confie em mim.
Agora.
Asher e eu costumávamos sair nos domingos, todos os domingos. Mas neste, ele havia me deixado esperando. Seu celular não recebia nenhuma mensagem, nenhuma chamada ele retornava. Eu o esperei por duas horas na frente do posto. Sentei, levantei de novo, pedi ajuda, atravessei a rua, pensei em ir embora, voltei.
Com certeza aconteceu alguma coisa com ele. Esperei.
16:57, a sombra estava começando a me deixar com frio e o vento acentuava meus pelos do braço, esperei.
16:59, avistei sua camionete distante, quase não dava pra ver, mas eu sabia que era ele. Meu coração disparou e finalmente eu entenderia oque aconteceu e compreenderia sua demora. Me sentei no banco ao lado da lojinha de conveniências e esperei ele se aproximar. O semáforo no outro lado da rua me deu tempo suficiente para avistar uma sombra no banco do caroneiro, franzi a testa e me levantei.
Quando a luz ficou verbe a caminhonete dele passou lentamente, seu olhar cruzou ao meu e o rosto de Scarlet resplandeceu um sorriso cínico. Um arrepio percorreu meu corpo e as lagrimas preencheram meus olhos. Ele se afastou, ainda me encarando e foi embora, me deixando sozinha.
Me sentei novamente e chorei. Chorei tempo suficiente para observar o relógio e ver que era 17:26 a hora costumeira de Peter vir ao posto, escutei o ronco do carro do meu irmão e me escondi de vergonha.
- Oque houve Estela? - Ele falou irritado. - Era para você estar com o Asher agora... onde ele está?
Eu não conseguia responder, apenas caminhei em direção ao carro que ele deixou aberto para me ver.
- Me responda Estela. - Ele parecia muito mais irritado agora. - Oque ele fez contigo?
- Vamos embora Peter.
Me fechei no banco abri o vidro ao meu lado. Peter acelerou para casa, irritado comigo e com Asher. Eu jamais posso contar para ele oque eu vi. Com certeza Asher tem uma boa explicação, mas eu não posso contar para Pit.
Aos poucos eu me acalmei, o vento carregava a situação toda pra longe naquele momento. A estrada até nossa casa era longa. Morávamos distantes do centro. Todo o caminho percorremos em silencio até passarmos na frente da escola.
- Ultimo ano irmãzinha...
- Eu preparei uma roupa pra você vir amanhã...
Ele me encarou e franziu as sobrancelhas...
- Peter!!! É o nosso ultimo ano, por favor! - Exclamei. - Você não pode vir vestido assim... você precisa terminar com aquela maluca, ela acabou com seu senso de moda.... - Suspirei e virei para o lado.
Ele não reagiu e seguiu acelerando deixando o relógio da escola nos retrovisores.
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Destroyed Secrets
Teen FictionAlguns segredos podem te levar para a escuridão. Outros podem destruir sua vida. Três adolescentes estão presos em um emaranhado de segredos e uma morte misteriosa. Descubra junto com eles o quão perigoso podem ser suas relações.