vinte e oito | kyros

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K Y R O S

Pernas macias e longas estavam entrelaçadas às minhas. Assim como uma cabeça de longos cabelos brancos estava pousada em meu peito.

Minha pele estava coberta por uma fina camada de suor, mas após alguns minutos descansando, eu já sentia toda minha energia restaurada.

A respiração de Aithne estava estabilizada. Seu corpo estava relaxado, e suas mãos acariciavam meu abdômen em pequenos círculos.

Depois de alguns orgasmos, Aithne tinha se tornado uma gata manhosa.

— Como foi sua primeira transformação?

Eu tinha ouvido múltiplas vezes sobre como a primeira transformação de um lobisomem era dolorosa. Ter todos os ossos de seu corpo quebrando por horas não aparentava ser algo muito fácil.

Sua mão parou de se mover por um momento, mas quando continuei a fazer desenhos imaginários com meus dedos em suas costas, ela relaxou.

— Eu tive todos os ossos do meu corpo quebrados, sentindo a dor de cada um deles se partindo dentro de mim... — Ela suspirou, seus olhos vidrados na parede do quarto como se ela estivesse se lembrando daquele dia.

Algo que eu havia notado, era que Aithne não estava mais tão fechada como quando ela chegara nessa casa. Hoje, ela já não reprimia mais seus sentimentos como antes fazia.

O simples conhecimento de que ela estava confiando em mim, fazia o demônio dentro de mim se contorcer em satisfação.

— Eu lembro de quando era criança, minha mãe costumava falar de como minha primeira transformação seria incrível, porque ela e meu pai estariam ali comigo. — Sua garganta engoliu em seco. — Ela dizia que ter a liberdade de correr pela floresta, e esquecer de todos os problemas era espetacular.

Levei minha mão aos seus cabelos, acariciando seus fios na esperança de que isso a trouxesse algum tipo de conforto.

— Mas quando eu me transformei... Naquela noite, meus ossos foram quebrando um por um, e eu me contorci por horas com a dor... Eu não tive ninguém lá comigo. Então, eu tive que passar por tudo isso sozinha. Eu não tive minha mãe ou meu pai lá comigo para me ajudar naquele momento, foi apenas, eu, sozinha na floresta.

— Os caçadores não apenas mataram duas pessoas boas naquele dia, mas eles também criaram um monstro. — Sua voz caiu para um tom áspero.

Eu sabia bem oque ela andou pensando sobre si mesma todos esses anos.

Ela foi criada como uma menina normal, seus pais deixaram todas as maldades e mortes que já fizeram para fora de casa. Deixando uma pequena Aithne intocada e pura.

E esse era o grande motivo para ela pensar que estava quebrada ou que era o pior pesadelo dos próprios pais.

Não tinha a mínima ideia do porque eles decidiram criá-la dessa maneira tão contrária, mas isso era algo para se perguntar depois.

— Você pode até dizer a si mesma que está quebrada por dentro, porque eu sei que você faz, mas a realidade é que após a morte de seus pais, você apenas se libertou daquela fachada de boa moça em que queria acreditar. — Desço minha mão por suas costas, abraçando sua cintura ao meu corpo.

— Todos nós nascemos com um demônio interior, ao longo dos anos apenas escolhemos se vamos abraçar isso ou negá-la. — Murmuro para ela.

Quando avistei o sol nascendo pela janela, me lembrei de algo.

— Porque você era virgem?

Aithne soltou um gemido e eu pude jurar que ela estava revirando os olhos. Sua cabeça afundou ainda mais eu meu peito, escondendo o rosto.

StygianOnde histórias criam vida. Descubra agora