Capítulo 6

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Fazia pelo menos uma hora que estava amarrada à cadeira de madeira desconfortável. O homem à sua frente era corpulento, com um rosto quadrado e olhos azuis frios. A julgar pelas poucas palavras que entreouviu ao serem sussurradas entre os guardas e o interrogador, estava sob a mercê da inteligência russa, atualmente conhecida como SVR. Hmm, interessante. Qual seria o interesse deles em mim? E mais importante: como descobriram minha existência?

Após finalizar seu treinamento da Organização, Zoe teve o que eles chamaram de "recomeço", sem interferências de conhecidos e laços familiares. Planejaram um acidente no qual ela foi dada como morta - pela primeira vez -, para que sua família não pudesse ser usada como vantagem de inimigos. Desde então, nunca mais teve contato com ninguém de sua vida antiga e passou a atender ao nome de Zoe Hall. Todos os dados de sua identidade original foram apagados da existência de todos os bancos de dados nos quais já havia sido cadastrada, inclusive nos governamentais.

Agora que a Organização sabia que estava viva, poderiam se utilizar da mesma ideia da qual quiseram protegê-la inicialmente e ameaçar sua família para adquirir informações sobre o projeto Zeta do Dr. Zimmer. Precisaria se manter atenta a isso quando conseguisse escapar dessa prisão.

Quando chegaram à sala, o homem dos olhos azuis informou aos guardas que Yuri estaria observando.  Ambos ajeitaram suas posturas, que já eram rígidas, o que a fez pensar que quem quer que fosse Yuri, devia ser importante.

Examinou a sala retangular. Havia apenas uma porta, pela qual entrara, e um espelho na parede diretamente em frente a ela. Além da cadeira com as amarras que notara ao adentrar o recinto, havia uma mesa com bisturis e alicates, uma cadeira para o interrogador, uma corrente pendurada, ligada ao teto, um gerador de energia com cabos conectados à ele, uma bacia alta com água.

Ela fora direcionada à cadeira e teve a algema retirada para que pudesse ter as mãos devidamente presa às correias. Seus tornozelos foram os próximos, e ela teve que resistir ao impulso de chutar o nariz do Carrancudo Um - era a maneira que se referia aos guardas.

Tudo na sala estava vulgarmente disposto com a clara intenção de intimidar quem quer que fosse levado para lá. Até o momento, não haviam partido para nenhuma medida drástica durante o interrogatório. O interrogador a observara por vários minutos antes de começar a falar o que sabia sobre ela. 

- Senhorita Hall, nunca antes havíamos capturado um agente da Organização. Devo parabenizá-la pela forma como se manteve fora do radar todos esses anos. - Fez uma pausa. - Até agora. 

Zoe continuou calada, apenas observando-o.

- Uma coisa que não consigo entender, é como alguém com seu treinamento e, se me permite dizer, aptidão para o jogo, se deixa ser pega por uma fotografia de turista. - O olhar que lançou a ela parecia perfurar sua alma. - A não ser que essa fosse sua intenção. 

Aham, claro. Meu sonho era ser drogada e acordar amarrada em uma cela fétida. Por dentro ela estava furiosa pela insinuação, mas por fora seu rosto era uma máscara que nada deixava transparecer.

- Mas meu interesse não é em você propriamente dita, minha cara. Veja bem, estamos trabalhando para conter o alcance da mitificada Organização em nosso meio. Meus superiores ainda não acreditam que tal agência exista. 

Ok, então eles não estavam atrás da pesquisa do Dr. Zimmer, o que era um alívio. Mas não podia simplesmente entregar a Organização para a SVR¹. Não por sentir qualquer lealdade para com eles, mas porque não faria diferença no mundo. Eles não conseguiriam desmantelar algo tão enraizado em vários países ao redor do globo, com tantas facetas.

Ele a olhava como quem aguardava uma resposta, embora nenhuma pergunta fora feita de fato.

- Se tal Organização realmente existisse, e tivesse um alcance tão amplo como disse... - ela se aproximou ligeiramente dele, enquanto os guardas levantavam suas armas e apontavam para ela -, o que garante que eles já não estejam aqui agora, infiltrados nessa sala? 

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