Capítulo 3

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O dia passou tão devagar, que parecia que o tempo estava ironizando sua situação. Quando chegou ao fim de seu expediente ela mal se despediu dos colegas, e saiu rapidamente, deixando uma Lila curiosa para trás. Chegou ao estacionamento e ligou seu carro. Estranhou não ter visto Gerome e Maurice, mas talvez tivessem sido chamados para lidar com alguma situação, afinal tanto a lanchonete quanto o parque estavam lotados.

Deu uma olhada pelo estacionamento enquanto se dirigia ao seu carro, tudo parecia tranquilo. Saiu para a tarde ensolarada, dirigindo rumo à sua casa. O dia continuava lindo, parecera que seria tão promissor algumas horas antes. Agora estava se sentindo como se fosse uma presa na mira do caçador.

Fez três desvios antes de tomar o caminho para casa, por precaução. Ao chegar estacionou o carro na garagem, desligou o motor e respirou fundo, uma dor de cabeça começara no momento em que saiu do trabalho e tudo o que ela queria era deitar em sua confortável cama. Tomou uma aspirina que levava na bolsa e desceu para seu encontro com Mike.

Entrou na casa e foi de cômodo em cômodo, procurando, mas ninguém além dela estava lá. Olhou no relógio da parede, eram 2:34PM, ele devia estar lá. Talvez tivesse encontrado algum problema, ou foi chamado de volta. Estava ficando impaciente, queria ir embora naquele mesmo instante. Mas devia tudo a Mike, não podia partir sem notícias dele, além do mais, precisava saber o que estava acontecendo.

Continuou esperando pelo que pareceu uma eternidade. Até que ouviu um ruído mínimo no andar de cima. Uma calma fria tomou conta de seu corpo e mente, e ela se pôs a subir as escadas, atenta a qualquer outro som. Tudo estava no mais mortal silêncio.

Quando chegou ao andar de cima, dirigiu-se ao seu quarto e sentiu que estava prestes a ser atacada, mas não iria cair sem lutar. Estava uma confusão de braços e pernas chutando e socando de forma cruel, ela conhecia aqueles movimentos, mas não podia ser.

De repente ouviu-se um barulho alto vindo do lado de fora. Um vaso havia sido quebrado. As duas pessoas pararam de lutar momentaneamente, apenas o suficiente para que Zoe constatasse que estava mesmo lutando contra Mike. Ela ficou fula:

- O que pensa que está fazendo? Isso não é um jogo, sabe que tem um mundo de gente atrás de mim, como é que você...

Ele tampou sua boca e ordenou que ela ficasse quieta com os dedos.

- Pare de choramingar – Disse Mike, num sussurro. E depois complementou: - E você está fora de forma, se eu estivesse aqui para te eliminar, já estaria morta.

- Tenho praticado, espertinho. Você não teria chances contra mim. – Respondeu, de forma atrevida. Ela sabia que não poderia vencer Mike nem se estivesse treinando como antigamente. Os dois estavam prestando atenção aos ruídos externos da casa. Quem quer que estivesse lá, não era muito discreto.

- Acha que nos encontraram? – Perguntou Zoe.

- Não. Provavelmente é um gato. – Mike parecia confiante em sua resposta, e foi até a persiana da janela para verificar. Sorriu de um jeito maroto que fez as pernas de Zoe ficarem bambas de desejo. Havia se esquecido do poder que ele tinha sobre o corpo dela, um simples sorriso mandava toda a razão para o inferno. – Venha ver o gato. – Disse ele.

Zoe obedeceu, intrigada, e quando chegou à janela, soltou um palavrão, enquanto tentava decidir o que fazer em seguida.

- Essa menina não sabe no que está se metendo, Zoe. Você pode não ter apego às pessoas daqui mas sei que não gostaria de colocar a vida de inocentes em risco. – Mike parecia genuinamente preocupado.

- Eu vou lidar com ela, já volto. – E desceu para confrontar Lila, que estava bisbilhotando pelo lado de fora da casa.

Zoe desceu as escadas, pronta para descascar o verbo com Lila. Como alguém pode ser tão enxerida? Por um lado, pensou, ficava feliz por voltar a se sentir mais como ela mesma e não mais ter que interpretar a inofensiva Lucy. Não, Zoe podia ser tudo, mas inofensiva era algo que não se aplicava a ela.

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