Prólogo

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Ela estava correndo pelo beco escuro no meio da madrugada, seminua e com muitos hematomas e machucados. Sentia frio e desespero, e não tinha ideia de onde estava. Só tinha certeza de uma coisa: não podia parar de correr. Todo seu corpo gritava de dor, tanto pelo cansaço da fuga quanto pela tortura vivida durante a última semana.

O alarme tocou cinco minutos após sua fuga. Ela imaginou que achariam o corpo do guarda designado a ela rápido, mas não teve escolha, tivera de fugir ou seria morta naquela mesma noite, e não seria pelas mãos de seus captores. "Os outros" estavam vindo, disso ela tinha certeza. Não havia como se esconder deles por muito tempo, eles estavam em todo lugar.

Um carro se aproximava, podia ouvir o barulho do motor por cima dos gritos do alarme que ainda soava. Não parecia estar indo muito rápido, mas ela não podia arriscar, sabia que muita gente estava atrás dela. Precisava achar um abrigo, estava confusa de tanto ziguezaguear por aquele lugar sombrio e deserto. Parecia que estava em um bairro abandonado, com construções em estado precário que mal se distinguiam entre a neblina. O carro parecia mais próximo agora, e ela não pensou duas vezes, entrou em um dos decrépitos edifícios.

Sentiu uma pontada de dor na sola dos pés descalços na mesma hora, e precisou morder a língua para evitar o grito que se formou em sua garganta. O chão estava repleto de cacos de vidro das janelas quebradas.  Ela precisava se localizar se quisesse sair dali, não tinha ideia de como tinha chegado lá. A última coisa de que se lembrava antes de acordar naquela cela fétida era de estar fugindo de perseguidores em uma pequena cidade no interior de Wyoming.

Por um momento achou que "os outros" a tinham encontrado, porém no decorrer da semana em que passou cativa, percebeu que os homens que a haviam sequestrado não podiam ser da organização, ou ela já estaria morta. Eles não deixam pontas soltas, e após arrancarem a informação que precisavam dela, deixariam seu fiel torturador levar o tempo que quisesse com ela. Sentiu arrepios que não tinham nada a ver com o frio ao pensar sobre isso.

Esses pensamentos não ajudavam em nada, além de que aquele não era o momento certo, nem o lugar.  Começou a vasculhar o andar em que estava o mais rápido e silenciosamente quanto sabia, e ela tinha sido treinada para ser invisível, portanto não passava de um fantasma na penumbra em busca de alguma coisa útil.

Achou um casaco puído pelo tempo, mas se sentiu grata mesmo assim. Estava congelando, devia estar alguns graus abaixo de zero pelo ar cortante. Suas costas protestaram quando o casaco encostou em sua pele, que muito provavelmente estava em carne viva, mas era melhor que desenvolver uma hipotermia. Sentou-se em um canto livre de cacos, e deixou-se ficar ali por alguns instantes recuperando o fôlego.

Continuou sua busca por informações, e encontrou uma carta, muito velha e quebradiça para que fosse possível distinguir muita coisa.  Além do que, estava muito escuro, não havia nenhuma luz, exceto no lugar de onde acabara de fugir. Sem ter como se orientar com o que quer que encontrasse naquele prédio, resolveu voltar para a rua e tentar a sorte lá fora, afinal, já havia descansado mais que o suficiente.

Observou a rua por um instante. Tudo estava muito quieto. Anormalmente quieto. Não tinha reparado quando o alarme parara de soar e não estava com um bom pressentimento, portanto esperou mais um pouco. Quando estava prestes a se mover para sair da entrada do prédio, um clique soou, fazendo um eco suave e seco. Como se uma arma de longo alcance tivesse acabado de ser carregada.

Estava encurralada, sabia que a tinham encontrado. Não devia ter perdido tanto tempo dentro do prédio. Poucos minutos podiam ser a diferença entre a vida e a morte. O carro que ela ouvira mais cedo virou a esquina do prédio onde estava. Na adrenalina de saber que estava sob a mira de alguém, se esqueceu completamente que havia um carro rodando pela cidade, muito provavelmente procurando por ela.

Assim que o carro terminou a curva, a luz ofuscante dos faróis a iluminou, e nesse mesmo instante o barulho profundo do fuzil sendo disparado soou, e tudo ficou preto.

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