Capítulo 7

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Zoe teve o sono interrompido por uma luz que piscava absurdamente rápido e o som pesado de guitarra, bateria e gritaria. Estavam tentando privá-la de sono, após uma longa sessão com o Dr. Sádico.

Os dois dedos da mão direita, o anelar e o mindinho - de onde tivera as unhas arrancadas lentamente -, pulsavam de dor. Mas não superava as câimbras terríveis nas solas dos pés, que fora a parte de seu corpo que mais sofrera danos ao ser eletrocutada várias vezes. Ela tentara não gritar, mas não resistiu. Pelo menos durou pouco e logo encontrou seu refúgio mental.

Respirou fundo, cansada, e se sentou devagar. Estava se sentindo fraca por não ter ingerido nada desde que acordara na cela. Não a algemaram ao catre dessa vez, nem mesmo utilizaram algemas ao arrastá-la de volta à cela. Ela testou apoiar os pés no chão e teve que morder a língua para segurar o grito que se formou em sua garganta. 

Após alguns instantes testando, conseguiu se levantar e ir mancando até a pia. Sorveu uma boa quantidade da água de sabor estranho, se aliviou, e retornou ao catre. As luzes e a música continuavam, fazendo sua cabeça latejar. Se deitou de bruços e cobriu o rosto o melhor que pôde, e depois de um longo período, conseguiu dormir.

Não sabia por quanto tempo esteve adormecida, mas não imaginava que fosse muito. Acordou novamente, mas dessa vez sem a música e as luzes. Se sentia zonza, e ficou um bom tempo olhando as manchas e marcas nas paredes. Havia uma janela com barras no alto, que ela não poderia alcançar facilmente. Mas sempre havia uma solução.

Determinada a não se deixar vencer e padecer naquele lugar horroroso, e imaginando qual seria a melhor forma de eliminar o Dr. Sádico de maneira que ele sofresse, se levantou. Tentou ficar em pé no colchão puído do catre, mas ainda não dava a altura para alcançar a janela.

Ela desceu devagar, os pés já estavam um pouco melhores, mas ainda bem sensíveis. Ergueu o catre com cuidado, fazendo o mínimo possível de barulho, e o escalou. Era instável e temia que este caísse, mas precisava olhar para fora.

Conseguiu segurar nas grades e com muito esforço, ergueu o corpo numa altura que lhe permitisse olhar para fora e... Nada. Onde estou? Não conseguia ver absolutamente nada, de tão escuro que estava do lado de fora, sem falar na névoa densa. O único proveito de sua escalada se deu ao fato de que percebeu estar em uma cela térrea. Podia ver uma pequena faixa de grama seca, mas quase não a havia notado, de tanta neblina.

Desceu lentamente, estava sentindo muita fraqueza por não ter comido e ficou pensando se seus captores a deixariam morrer de inanição. Voltou o catre ao seu lugar e fez um alongamento. Seus músculos protestaram no início, mas logo conseguiu relaxar. Estava de volta à cama havia meia hora quando a cela fora aberta e a dupla carrancuda entrou.

Ela se levantou e eles a olharam com surpresa, apenas por um momento, e a algemaram para que pudessem tirá-la da cela. Obviamente esperavam que ela estivesse deitada, com medo, e que precisasse ser arrastada novamente. Mas ela saiu andando, mesmo que ainda doesse, e de cabeça erguida.

Não puseram o capuz dessa vez, e ela pôde observar e analisar tudo ao seu redor. O lugar parecia antigo, assim como a cela de onde acabaram de sair. Estavam em um corredor de celas, e podia ouvir gemidos vindos de algumas delas. O teto do corredor era baixo, se comparado com os da cela, porém aqui não havia janelas. 

O chão era de alvenaria, sujo sabe-se lá há quanto tempo. Sentiu uma pontada de nojo por ter de andar por ali descalça. Viraram o mesmo corredor do dia anterior, e soube que estavam novamente a caminho da sala de interrogatório.

Ao chegarem lá, o Dr. Sádico deu uma bronca em seus guardas por não terem colocado o capuz em Zoe, e ela sorriu internamente. Já tinha uma ideia de onde precisaria virar para fugir dali, só precisava de mais algumas informações. 

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