Capítulo 9

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Zoe corria pelo beco escuro no meio da madrugada, seminua, com vários hematomas e machucados que ardiam a cada movimento. Sentia frio e desespero, e não tinha ideia de onde estava. A escuridão parecia engolir tudo, deixando visíveis apenas os contornos de prédios sombrios. Não havia estrelas e o luar em nada ajudava para iluminar o caminho. Observava os arredores à procura de algum indicativo de onde estava, mas não encontrou nada que parecesse ao menos vagamente familiar. Todo seu corpo gritava de dor, tanto pelo cansaço da fuga quanto pela tortura vivida durante a última semana. Porém, de uma coisa tinha certeza: não podia parar de correr.

O alarme tocou em aproximadamente cinco minutos após sua fuga. Ela imaginou que achariam o corpo dos guardas designados a ela rápido, mas não teve escolha, tivera de fugir ou seria morta naquela mesma noite, e não seria pelas mãos de seus captores. "Os outros" - a Organização - estavam vindo, disso não havia dúvidas, principalmente depois de ter visto Katrina. Não havia como se esconder deles por muito tempo, eles estavam em todo lugar.

Um carro se aproximava, podia ouvir o barulho do motor por cima dos gritos do alarme que ainda soava. Não parecia estar indo muito rápido, mas ela não podia arriscar, sabia que muita gente estava atrás dela. Seriam da Organização ou da SVR? Precisava achar um abrigo, estava confusa de tanto ziguezaguear por aquele lugar sombrio e deserto. Parecia que estava em um bairro abandonado, com construções em estado precário que mal se distinguiam entre a neblina. O carro parecia mais próximo agora, e ela não pensou duas vezes, entrou em um dos decrépitos edifícios.

Sentiu uma pontada de dor na sola dos pés descalços na mesma hora, e precisou morder a língua para evitar o grito que se formou em sua garganta. O chão estava repleto de cacos de vidro das janelas quebradas. Ela precisava se localizar se quisesse sair dali, não tinha ideia de como tinha chegado lá, nem se ainda estava nos Estados Unidos. A última coisa de que se lembrava antes de acordar naquela cela fétida era de estar fugindo de perseguidores em uma pequena cidade no interior de Wyoming.

Por um momento achou que a Organização a tivesse encontrado, porém no decorrer da semana em que passou cativa, percebeu que os homens que a haviam sequestrado não podiam ser da organização, ou ela já estaria morta. Eles não deixam pontas soltas, e após arrancarem a informação que precisavam dela, deixariam seu fiel torturador levar o tempo que quisesse com ela até que se desse por satisfeito e a deixasse morrer. Sentiu arrepios que não tinham nada a ver com o frio ao pensar sobre isso. Não desejava que ninguém tivesse um encontro com o Carrasco, nem mesmo o pior de seus inimigos. Quem sabe não teria aberto uma exceção no caso do Dr. Sádico.

Esses pensamentos não ajudavam em nada, além de que, aquele não era o momento certo, nem o lugar. Começou a vasculhar o andar em que estava o mais rápido e silenciosamente quanto sabia, e ela tinha sido treinada para ser invisível, portanto não passava de um fantasma na penumbra em busca de alguma coisa útil. O carro que escutara se aproximar quando adentrou no edifício havia passado por ali há pouco, e ela não precisava mais se manter imóvel, escondida pela parede e pelas sombras daquele lugar.

Achou um casaco puído pelo tempo, mas se sentiu grata mesmo assim. Estava congelando, devia estar alguns graus abaixo de zero pelo ar cortante. Suas costas protestaram quando o casaco encostou em sua pele, que muito provavelmente estava em carne viva, mas era melhor que desenvolver uma hipotermia. Gostaria de encontrar sapatos, ou ao menos meias e luvas. Não estava mais sentindo as pontas dos dedos. Sentou-se em um canto livre de cacos, e deixou-se ficar ali por alguns instantes recuperando o fôlego, dando uma trégua para seu corpo maltratado e tentando se aquecer um pouco. Estava se tornando cada vez mais difícil se mover.

Continuou sua busca por informações, e encontrou uma carta, muito velha e quebradiça para que fosse possível distinguir muita coisa. Além do que, estava muito escuro, não havia nenhuma luz, exceto no lugar de onde acabara de fugir. Sem ter como se orientar com o que quer que encontrasse naquele prédio, resolveu voltar para a rua e tentar a sorte lá fora, afinal, já havia descansado mais que o suficiente.

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