— Yuhan! – Gritava o funcionário que vinha do escritório principal.
— Diga Tony! – Ele respondeu desanimado.
— Senhor... oof-oof – Tentava recuperar o fôlego da corrida. – O Supervisor está chegando de ônibus, mas dessa vez tem cinquenta ônibus no comboio. Não têm novos funcionários. Todas são almas de mortos. O que aconteceu? Ele nunca vem assim.
— Hum... Estranho. Às vezes o carro dele quebrou, mas não sei dizer. – Yuhan parecia pensativo.
— Será que houve algum atentado? — Tony questionava tentando esquentar seus braços do vento frio que passava pelo extenso corredor conectado à ilha grande.
— Acho que não Tony. Atentados nos custam no mínimo uns cem ônibus para embarque. Pode ter sido somente o acúmulo de almas na alfândega. A terra tem passado maus momentos também. Muita violência, doenças e suicídios. Vai saber. – Deu de ombros.
— Pode ser. Gostaria que eu chamasse algum reforço? Serão muitos para conferir e atravessar.
— Precisa não, Tony. Na travessia divido os grupos de quem morreu por causas naturais e os de forma violenta. Faço duas travessias. Os demais ficam com o setor de divisões que conseguem fazer uma rápida avaliação dos que morreram fora de seu tempo. É tranquilo e mais prático. — Ele explicou calmamente.
— Tudo bem então. Estou me retirando, senhor. – finalizou Tony formalmente enquanto o cumprimentava com uma reverência rasa.
— Dispensado. – Yuhan acenou de volta sorrindo de lado.
Distante nas montanhas sombrias podia-se ouvir o ruído dos ônibus que se aproximavam.
Para chegar ao Reino dos mortos havia uma única estrada que margeava o extenso oceano de Frates. A vista era bonita embora a luz local fosse mais fraca do que a luz que brilha no Reino Temporal. Yuhan gostava da cor cálida que aquecia o ambiente apenas o suficiente para não fazer frio.
Aquele reino é para ser um lugar de repouso e reflexão, por isso o ambiente não podia ser estruturado com excesso de fortes iluminações, mas sim projetado como um lugar mais naturalista e aconchegante.
As almas que chegavam ali já estavam cansadas demais. Muitas delas não tiveram sossego em vida. A grande maioria não conquistou seus sonhos, não provou de tudo que se ouviu falar da vida humana. Outra parte, mas não a minoria, teve a vida mortal interrompida por outras almas que não deveriam ter atravessado pelo portal do nascimento, pois se tornaram pessoas perversas.
O primeiro ônibus que chegou em frente a grande ponte estacionou no pátio destinado para aquele fim. Quando as portas do primeiro veículo se abriram, de lá desceu um ser alto, esbelto, de postura imponente e aura pálida dourada. Ele era uma alma de classe A, embora não fosse uma alma superior, ele brilhava com intensidade diferente das almas comuns. Seu rosto era esguio, olhos dourados, cabelos pretos cacheados e mesmo com traços tão firmes em seu semblante, ele emanava beleza, por que em todos os reinos não havia "ser" criado que não fosse belo.
— Seja bem-vindo, senhor! Estamos preparados para receber as almas dos que morreram no mundo mortal. Também tenho o relatório dos recentes acontecimentos.
— Yuhl, Yuhl... Você continua sério assim meu rapaz? – Disse o Supervisor rindo ao dar tapinhas nos ombros de seu subordinado que odiava aquele tratamento informal e não profissional por parte de seu superior.
— Sou uma alma séria, senhor. – Respondeu Yuhan enfático.
— Claro que é. Não é à toa que está no mesmo cargo há cinco mil anos terrenos.
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Além das Flores - CONCLUÍDO ( 44 de 46)
FantasiaATENÇÃO: Esta obra é uma ficção baseada em VOZES DA MINHA CABEÇA, inspiradas por mitologias e crenças sem vínculo verídico religioso. Entretanto, contudo, porém, todavia(rsrs), é uma história com forte apego aos princípios cristãos. Não possui hot...