Ubatuba

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Final de semana, os cunhados da Laura estavam de folga, Fabio teria que compensar os dias trabalhando em casa e Rafaela alugou um carro para ir à Ubatuba.

Estacionou o carro no meio fio, desceu do Gol alugado e apertou o botão do intercomunicador. Ao ouvir a voz da filha, Celia correu da cozinha para o quintal tentando se desvencilhar dos dois Labradores, procurando a chave do portão no molho de chave.

– Que surpresa boa! – Celia a abraçou – Elson, a Rafaela está aqui!

O pai saiu na porta da frente, camisa aberta, chinelos nos pés e puxando a cintura da bermuda para cima. Ele sorriu, encaminhou-se para abraçar a filha e perguntou antes de fechar o portão:

– Dá a chave do carro pra eu pegar as malas.

– É, aaah... É só uma visita rápida, pai. Estou hospedada em São Paulo. – Rafaela respondeu escondendo o rosto na cabeça do Labrador que fazia festa para ela

– Em São Paulo? Onde? – Celia perguntou também acariciando o cachorro.

– No apartamento do Fabio e da Laura. A Laura quase perdeu o bebê e, bom, eu estou lá para ajudá-los.

Os três entraram em casa e, na sala, sua mãe perguntou:

– Por que a Laura não ligou para nós?

– Mãe, você sabe que ela se sente deslocada, né?

– Besteira! Outro dia, ela veio com o noivo aqui, um rapaz bem arrogante, ele e a família dele! – O pai comentou – Deslocada...! Mas, por que deslocada?!

Rafaela reparou que na estante, havia tantas fotos dos cachorros quanto dos netos e do casal, do filho mais velho e dela mesma.

– Mas ela e o bebê estão bem? – Sua mãe questionou com ar de preocupação.

– Estão bem. Hoje, a Patricia, o marido dela, as crianças e a avó do Fabio foram ao apartamento para não a deixarem sozinha...

– ... Por que senão, né, ela acaba recebendo visita de homenzinho verde! – O pai ironizou – Foi culpa de quem essa menina ser tão mimada?

– Pai! Para, vai. Por favor... – Rafaela pediu dando um sorriso meigo – Ela teve um problema sério de descolamento de placenta e é por isso que eles foram para lá. Por enquanto, a Laura não pode se movimentar muito.

Temporariamente, o pai se calou, enquanto a mãe lhe fazia perguntas sobre a Alemanha, se estava aproveitando bem o curso de Pós-Graduação, entre outras coisas.

– Preciso comprar um dicionário de Inglês! – A mãe comentou – Você faz essa viagem sem nos avisar, deixa a sua amiga para "molar as panta", hahaha! Que fofa! Ela é Alemã? Como é o nome dela?

Rafaela sorriu orgulhosa.

– Birgit Weber. Estamos dividindo o apartamento para dividir as despesas.

– Isso é bom! Quanto mais diminuir os custos, melhor, viu? – Elson elogiou – E os namorados?

A garota engoliu a seco e, em centésimos de segundo, pensou se contaria aos pais sobre sua verdade.

– Não tenho namorado.

– Ela sempre foi muito estudiosa, Elson. Aposto que lá, ela só estuda, estuda, estuda...

– Uma, arranja um namorado à jato e engravida; a outra, estuda até cair desmaiada na cama. Ah, essas meninas...! – Elson comentou azedo.

– Minha vida não é bem assim... – Rafaela murmurou e não foi ouvida, pois os pais seguiram discutindo qual filho era o mais estudioso e, mais uma vez, Rafaela percebeu que eles nunca se referiam à Laura: era Rafaela e Rodrigo, Rodrigo e Rafaela. A raiva cresceu dentro da jovem: ela se levantou do sofá e foi à estante. Pegou o porta-retrato de um dos Labradores – Quem é esse aqui?

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