Bodas

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Começo de dezembro com chuva e calor. Numa manhã de sábado, Patricia estacionou o carro na garagem e tirou as crianças do banco de trás, bem como abriu a porta do passageiro para pegar as roupas deles.

O cabeleireiro que Patricia contratara para atender Laura em casa também a esperava para fazer o coque baixo com as longas tranças que ela usava.

– A zia Laura vai ficá bunita como uma pincesa, mamma? – Paola perguntou encostando o bumbum no espelho do fundo do elevador.

– Vai, sim.

– I eu?

– Se você se comportar direitinho, sem rolar no chão, sem correr e cair, você será a menininha mais bonita da festa!

Antes que pudesse alertar, Enzo empurrou a porta do elevador e saiu sem se preocupar com a mãe e a irmãzinha. Ele estava doido para chegar em casa, ir para seu quarto jogar videogame e, como sempre acontecia, Patricia ralhou com o filho.

De repente, sua casa se tornou uma bela mistura de idiomas: sua avó falava Português; seu marido e os filhos falavam Italiano e um pouco de dialeto napolitano; Rafaela e Birgit falavam em Alemão entre elas e em Inglês com todos. Ela mesma, respondia em quatro dos cinco idiomas, muitas vezes, quase ao mesmo tempo.

O cabeleireiro já tinha feito o cabelo de todas as mulheres presentes. Rafaela e Birgit estavam no quarto ao lado ajudando Laura se vestir e faltava fazer o cabelo da Patricia e da Paola. Seu cabelo era simples: bastava enrolar para o alto as tranças desde a testa, descer e fazer o coque baixo e cheio. O problema era domar os cachos dourados da filha de cinco anos...

– Num quelo! – Paola choramingou quando o cabeleireiro começou a escovar seu cabelinho para trás.

– Ah, mas você vai ficar tão bonita...! Deixa o tio fazer um rabo de cavalo bem bonito para você ficar parecendo uma...

– Fa-di-nha! – Patricia moveu os lábios sem som.

– Uma... Patinha?!

– Faaa-diiii-nhaaaa! – Patricia novamente moveu os lábios.

– Ah, fadinha! Vai ficar a fadinha mais bonita do mundo!

O toque da campainha fez com que Patricia e dona Maria da Luz se levantassem.

– Pode deixar, eu atendo... Se for uma Japonesa, eu mando entrar. – A avó resmungou se arrastando para fora do quarto.

– Cheguei muito tarde? – A mulher parada no corredor de frente ao quarto da Paola, perguntou.

O queixo de Patricia despencou por instantes e, recuperando-se, ela convidou a mulher com vestido de festa bege, a entrar no quarto.

– A Laura está no quarto ao lado, se vestindo. Quer que eu fale com ela?

– Por favor. Não sou, nem de perto, a mãe modelo para elas... Simplesmente não posso abrir a porta e ajudar a minha própria filha no dia do casamento dela sem que haja alguém intermediando.

– Calma, dona Celia. Em outra hora, vocês poderão conversar sobre isso. Hoje é dia de festa! Vou avisá-las da sua presença. Mas, aviso de antemão: a Birgit está aqui.

– Uma hora eu tenho que conhecê-la, né? Mais uma nora no lugar de dois genros...

– Ela é uma graça de pessoa e, quando a senhora a conhecer, vai gostar muito.

Patricia entrou no quarto, o seu quarto e, com destreza, anunciou em Inglês a chegada de dona Celia. As irmãs se entreolharam e Laura:

– Ela disse que quer me ajudar?

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