Dhampir

– Certa vez, minha mãe disse que eu era a vida do lugar onde morávamos, bom, eu não moro mais lá. Ela dizia que tudo ficava mais belo e vivo, por minha causa.

Não sei o porquê dela compartilhar isso comigo, mas me deixou confiante e feliz saber que ela confia dizer a mim suas lembranças.

– Meu pai me ensinou que na vida admirar coisas bonitas é quase perca de tempo, mas eu daria todo o meu tempo para admirar você. Você realmente transmite vida Ally.
– Obrigada, mas não precisa exagerar. Seu pai… como ele é com você?
– Normal.
– Normal? Só isso?
– An… Ele não fala muito comigo mas acho que se importa com todos nós. Me ensinou tudo que sei.
– Então ele te ensinou a paquerar as empregadas?

Ela disse, em um tom irônico e por incrível que pareça não demonstrava irritação, Isso me incomodou um pouco.

– Não. Mas ele dizia que… você não vai querer escutar as baboseiras do meu pai.
– Mas se é tudo baboseira como você diz, qual o motivo de agir como ele?
– Eu, é difícil Ally. É o que sei ser, não tem como mudar.
– Não acredito, sempre há como mudar.
– Tinha medo de que meu pai me achasse um fraco, então me tornei uma cópia dele, para lhe dar orgulho e conseguir sua atenção… e depois ainda tinha o Carter… mamãe o mimava e tratava com tantas regalias, também queria a atenção dela, então se eu não conseguia por bem, conseguiria por mal, me tornei o pior possível.
– Como assim? Mas você não demonstra isso.
– Não posso, faz parte de quem sou, demonstrar sentimentos é para os fracos, essa é a lógica do meu pai.
– Que bagaça de lógica é essa?! Quantas vezes você engoliu o choro Cloudh? Ele não te deixava se expressar então?

Minha garganta começou a arder. Foram muitas as vezes em que engoli o choro e me fiz de forte, que escondi as partes doloridas da minha vida para que só eu tivesse acesso a elas.

– Ele dizia que… os sentimentos, principalmente o amor, atrapalham a vida de um vampiro de sucesso e renomado como nós. Não devo me apegar a ninguém, mesmo saindo com muitas vampiras, nunca senti nada demais, só prazer...
– Cloudh… ele está errado, o amor é muito mais que um sentimento, é uma escolha, você pode escolher uma transformação, ou pode optar por permanecer o mesmo, dentre tantas coisas. Me desculpe, mas eu sinto nojo desse hábito de se relacionar com mais de uma, ainda mais em uma só noite.

Cobri o rosto com as mãos, para pensar no que estava falando e revelando para ela. Senti que precisava daquilo, alguém que me desse atenção, foi o que sempre quis na verdade. Afeto, alguém que validasse minha existência me notando.

– Eu sei, mas é inevitável.
– Inevitável é o escambau Cloudh! Eu não saio por aí de bar em bar não cassete!

Ela se estressou tão rápido que pensei que teria sido melhor ter permanecido calado.

– Desculpe, desculpe.
– Não precisa me pedir desculpas, só não fale como se estivesse conversando com outro vampiro que pratica as mesmas coisas, não gosto disso.
– Tudo bem. Sobre o que vamos falar?
– Não sei.
– Você não tinha amigos, não é?
– Não. Você deve ter muitos.
– Na verdade não. Acho que as pessoas tem nojo o suficiente de mim para se manterem distantes.

        Ally Smith

Agora sua expressão era de tristeza, como ele não tinha amigos? O medo de ter o coração partido sempre foi grande assim?

– Mas você nunca tentou fazer amizades?

Perguntei olhando nos olhos dele.

– Todos que se aproximaram foi por interesse, havia sempre uma segunda intenção. Eu só queria… alguém que me entendesse, que me escutasse e me desse atenção Ally, que me amasse.

Ele se deitou e colocou a cabeça em meu colo, não tive reação de início, mas logo comecei a acariciar seus cabelos. Ele continuou falando e falando, como foi sozinho, sobre tudo que passou, então eu entendi, não era uma noiva que ele realmente queria e precisava, mas simplesmente de um amigo, de uma amiga, que estivesse ao seu lado, então quando surgiu a oportunidade de ter alguém que sempre estaria ao seu lado, ele agarrou, e no caso, essa oportunidade sou eu e o casamento. Queria poder lhe dizer que seria sua amiga e o ajudaria de todas as formas possíveis, mas ainda não é a hora.

– Posso dizer que… gosto de você… sabe, você é meio marrento e chatinho. Parece comigo.

Eu disse e olhando em meus olhos ele sorriu, foi tão verdadeiro e espontâneo que senti vontade de agarrar ele e não soltar, de protegê-lo e não deixá-lo sofrer nunca mais!

– Feche os olhos.

Disse para ele, e assim fez, eu ainda acariciava seus cabelos.

– Qual a primeira coisa que lhe vem a mente?

Ele refletiu por dois segundos.

– Você.

Ri.

– Ah não, me diga um lugar.
– Maldivas.
– Por que?
– Porque você gosta de praias.

Bati em seu braço.

– Tudo bem, imagine que você está lá e convidou mais alguém, o que vai fazer?
– Entrar com você dentro do mar e nunca mais sair.
– Está louco? Sou uma híbrida e não uma sereia!

Ele riu e dessa vez abriu os olhos.

– Eu tenho uma chance Ally?

Eu sabia do que ele estava falando, então continuei olhando para o nada e falei:

– Não quero ser obrigada a me casar, Cloudh.

Sua expressão serena ficou petrificada e ele se levantou.

– Preciso ir, até mais.

Não deu tempo de dizer um "tchau", ele saiu na velocidade da luz me deixando sozinha. Levantei e entrei, antes de chegar no meu quarto mudei de ideia, fui para a mini biblioteca.  Carter estava lá, lendo, quando entrei ele ergueu os olhos para mim mas logo baixou o olhar novamente para o livro.

– Oi.

Eu disse, e ele nem fez questão de responder, levantou-se e passou por mim como se eu fosse invisível, saiu tranquilamente pela porta me deixando plantada ali. Olhei para o chão na tentativa de me acalmar e não socar nenhuma parede, havia um papel ali, me abaixei e o apanhei. Tinha algo escrito.

Desculpe, só lembre do que eu disse, queime isso

Lembrar do que? Fui para meu quarto com um livro novo em mãos, e logo queimei o papel.

Quem tá morrendo de amores aí? \O/
Estrelinha?
Galera, eu espero sinceramente, que este livro não seja só uma história, mas que possa fazer cada um refletir os tornando melhores.
"Nunca é só um livro"💖 não pra mim.