Cap. 10

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POV Edvin

Seu corpo parecia em choque, ela não me olhava nos olhos e seu peito não parava de subir e descer soluçando. Me aproximei lentamente para não assusta-la.

- Maeve - chamei quase como um sussurro.

Ela me olhou pela primeira vez na noite, seu olhar assustado e confuso que não sabia o que fazer, apenas ficou me encarando tentando descobrir qual seria meu próximo passo. Estendi minha mão e rodeei seu pequeno corpo o trazendo para um abraço.

- tá tudo bem - ela não parava de soluçar e me apertava com medo de que fosse deixa-la sozinha novamente. A abracei com força com a intenção de passar conforto - vem, vamos embora. Vou te levar pra casa. Seu pai está lá?

Ela negou com a cabeça, mas não me soltou por nada.

- tudo bem então, vem!

Nos levantamos e caminhei com ela até meu carro, que estava parado na calçada. A menor parou subitamente assim que abri a porta para ela entrar. A olhei, tentando entender seu ato, mas a mesma não falava nada.

- pode entrar, vou te levar pra minha casa, temos que cuidar desse machucado - apontei pra sua testa e ela pareceu lembrar agora que tinha um ferimento.

Assentiu hesitante e entrou no carro. Dei partida e fomos em direção a minha casa sem trocar uma palavra se quer.

Eu realmente não sabia o que fazer, nunca passei por algo assim e justo a Maeve ter sido a vítima foi um choque pra mim. Ainda nem acredito que ela aceitou minha carona, eu sentia um aperto no peito vendo sua situação, ela se encontrava encolhida e sem expressões. Sua cabeça deve estar um turbilhão agora, tentando entender o que acabou de acontecer.

Olhei de canto de olho para a garota e notei que ela estava arrumada, usava um vestido muito bonito, não costumava ver ela assim e fiquei triste que a primeira vez que a vejo desse jeito é em uma situação tão ruim.

Não demorou para chegarmos no destino. Seu choro cessara, mas o silencio reinava. A acompanhei até o banheiro, onde eu sabia que tinha um quite de primeiro socorros. Indiquei a pia para que Maeve se sentasse e assim fez.

- pode arder um pouco - mantinha minha voz baixa para não assusta-la. Estava com medo de fazer algo errado, eu estava praticamente pisando em vidro.

Passei o algodão com produto em sua testa para limpar e ela fez um careta e apertou minha mão que estava apoiada ao seu lado na pia. Estendi meu braço para facilitar.

- obrigada - disse sem me olhar nos olhos. Segurei seu rosto com uma mão para assim facilitar a limpeza do ferimento.

- Maeve.

- hm?

- desculpe - disse e ela levantou seus olhos em minha direção - desculpe por falar aquelas coisas pra você, eu não tinha a intenção. Eu não vou nem tentar arranjar uma desculpa porque sei que eu estava errado em fazer aquilo.

Flor me encarava fixamente tentando ler minhas expressões. Meus olhos caíram involuntariamente para sua boca.

- Norah parece gostar de você - falou. Subi meus olhos novamente.

- não quero saber de Norah agora, Flor - respondi - é por isso que me desculpei, não quero que ache que o que falei foi verdade, você não é a sombra dela. Falei aquilo no calor do momento, mas não é verdade.

- o que sou pra você então?

- você é a Flor, uma ótima pianista e uma chatinha irritante - falei brincando com sua cara. Ela sorriu e desviou o olhar, vendo isso fiquei feliz por faze-la sorrir em um momento delicado - quer saber de uma coisa?

- diga, Edvin - incentivou enquanto sorria brincalhona.

- acho que te odeio menos agora - ela riu da minha cara - mas não fique com o ego muito alto, é só um pouco menos!

Ela me olhou novamente, mas não falou nada.

- não vai falar que me odeia menos também? - indaguei indignado.

- não, seu ego já é alto demais pra isso - deu de ombros. Botei minha mão no peito fingindo estar ofendido.

- essa foi dura, Docinho. Está passando tempo demais comigo - rimos juntos pela primeira vez - vem, preciso te levar pra casa.

- não! - disse rapidamente - meu pai acha que estou na casa de Norah.

- saiu escondida, é isso mesmo?

- não foi bem assim, mas tem como não falarmos disso agora? Estou cansada.

- claro, Flor.

A ajudei a descer da bancada da pia e fomos pro meu quarto. O clima entre nós não estava mais tenso e isso me alivia muito. O ferimento na cabeça da pequena estava melhor, mas não fiz quase nada por não ter tanta coisa pra isso aqui, apenas limpei e passei um remédio para melhorar, espero que seja o suficiente. Como ela não podia ir para casa peguei umas roupas para que ela pudesse dormir mais confortável aqui.

- toma - estendi uma blusa e um short de moletom a ela, que estava sentada a beirada da cama - imagino que não queira dormir de vestido - ela me olhou com a sobrancelha arqueada.

- não vou dormir aqui! - disse como se eu tivesse proposto uma coisa absurda.

- eu é que não vou te deixar na casa de Norah, então ou você dorme aqui ou dorme na rua.

- Edvin! - me olhou incrédula.

- o que? Eu também to cansado não quero ir até lá - revirou os olhos dando por vencida e foi em direção ao banheiro se trocar.

Eu usava uma calça preta de moletom e uma blusa branca larga e decidi continuar os usando para dormir já que estava confortável. Pretendia dormir nos sofá e Maeve dormiria na minha cama e como meu pai só ia chegar tarde e sair cedo, não me preocupei com ele. Acho que ter que explicar porque ela estava dormindo na minha cama seria uma situação que nenhum de nós dois gostaríamos de passar.

- Edvin! - me chamou de dentro do banheiro.

- eu! - respondi enquanto arrumava a cama.

- estamos sozinhos aqui?

- sim, meu pai está trabalhando. Porque? - perguntei, espero que ela não fique desconfortável com isso.

- quando ele chegar, não vai estranhar me ver aqui? - ouvi a porta abrindo, no entanto continuei preparando o quarto para ela dormir.

- ele nem vai te notar, chega sempre tarde e sai cedo - respondi dando de ombros.

- você não costuma vê-lo? - me virei em sua direção e meus olhos caíram para as roupas que estava usando. Elas eram largas pro seu corpo, o que me dava uma vontade de abraçar a garota a minha frente.

Piano de Stravinsky - Edvin RydingOnde histórias criam vida. Descubra agora