3. Um dia incomum

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Kara POV

― Hey Lionel, como você está hoje? ― Puxo a poltrona e me sento ao lado da sua maca como sempre faço em nossos encontros semanais. O mais correto seria dizer visitas semanais. O tempo que eu reservo ao menos uma vez na semana para vir contar as novidades a ele. Geralmente passo horas falando de assuntos da empresa e como estamos avançando no setor de tecnologia. Sempre foram os assuntos preferidos dele. Mas hoje tenho novidades um pouco diferentes pra contar.

Flashback On

(algumas horas antes)

Hoje é um dia útil comum, como qualquer outro. Eu acordo cedo, tomo banho, me arrumo e vou para a Luthor Corp. Às 8h, pontualmente, eu estou saindo do elevador, dou bom dia à Jess, minha assistente, que está me aguardando na sua mesa, próxima à porta do meu escritório. Entro na minha sala, deixo a bolsa e o casaco no cabideiro e em seguida Jess pede licença para entrar com o meu café da manhã. Eu faço a primeira refeição do dia enquanto checo os e-mails e documentos pendentes na minha mesa.

Depois de cumprida essa primeira etapa, eu visito os laboratórios, converso com os pesquisadores, passo instruções para a equipe de tecnologia que está sob meu comando, analiso o andamento dos projetos e, por fim, consigo algum tempo para trabalhar nos meus próprios experimentos. Quando já está perto do horário do almoço eu tenho uma reunião com Lex e Sam. Aproveitamos e almoçamos juntos na sala do Lex, enquanto colocamos a conversa em dia.

O que significa, basicamente, os dois se juntarem pra implicar comigo por eu estar saindo com a Lena e estar verdadeiramente interessada em alguém... Pelo que me lembro, pela primeira vez na vida. Ok, talvez por isso pareça tão assustador às vezes. Mas enfim... continuando... Na primeira hora da tarde temos reunião com o conselho de acionistas, do qual Líllian, minha mãe adotiva, também participa. Depois disso eu pedi para que Jess fechasse a minha agenda para o restante da tarde.

Bem, hoje também seria um dia comum pra mim, exceto por duas razões. Dois compromissos importantes e incomuns que vão mudar a minha rotina nesse dia. Hoje é o dia que eu costumo visitar o Lionel, meu pai adotivo, no leito de hospital em que ele está internado há cinco meses. Sim, no hospital Luthor, afinal é o hospital da família, que por acaso também é o hospital em que Lena trabalha.

A questão é que apenas uma equipe médica muito restrita, de nossa extrema confiança, sabe que Lionel Luthor está internado há tanto tempo, em tratamento paliativo para um câncer em fase terminal. No último andar do prédio que aloca a instituição de saúde, existe um leito-apartamento, reservado apenas a nossa família, para que possamos receber tratamento com discrição, caso seja necessário. É lá que ele está nesse momento.

Quando o motorista estaciona na garagem do hospital e eu agradeço e o dispenso. Depois daqui eu vou direto para o meu segundo compromisso não usual de hoje e não precisarei mais dos seus serviços até o final do dia. Entro no elevador e aciono o painel usando o cartão de acesso exclusivo da nossa família. O painel abre uma pequena câmera, para reconhecimento facial.

― Senhorita Kara Luthor, seja bem vinda. ― A voz robótica da inteligência artificial soa no pequeno recinto.

― Boa tarde, Hope.

― Reconhecimento de voz positivo. Acesso liberado.

― Obrigada, Hope ― E o elevador começa a se mover em direção ao último andar.

Chegando na unidade privativa, cumprimento as enfermeiras e, como sempre, elas me alcançam o tablet onde posso acessar o prontuário, checo as últimas medidas que foram tomadas no tratamento e o estado clínico do meu pai nos últimos dias. Não há nenhuma novidade aparente. Eu troco algumas palavras com a equipe, faço algumas perguntas e por fim sigo para o quarto. Bato na porta, mas não aguardo resposta, abro e o encontro da mesma forma que em todas as vezes anteriores. Tiro a bolsa e o casaco para pendurar no cabideiro que fica próximo à porta, me aproximo da maca e toco na sua mão. Minha temperatura sempre foi mais alta que a dos humanos, mas na minha percepção a pele dele parece um pouco mais fria a cada vez que nos encontramos. Apenas prossigo com o nosso pequeno ritual.

― Hey Lionel, como você está hoje?

Flashback off

― Eu olhei o seu prontuário, seu quadro parece estar estável, não piorou mas também não progrediu. No final de semana eu volto com Lex e Lilian pra tomarmos café com você e vamos conversar com o seu médico, ver se precisamos mudar a estratégia de abordagem. Sei que você não cultiva esperanças, mas nós somos Luthors, afinal. Não há nada impossível para nós, você sabe. Foi você mesmo que repetiu isso tantas vezes durante a nossa educação. Eu até pedi a Alura a bibliografia disponível em Argo a respeito, mas lá as pessoas não sofrem mais de câncer há séculos, então, a literatura é bastante antiga, mas, de qualquer maneira, eu a estou estudando. É bom poder treinar o meu kriptoniano clássico. Sei que você gosta de saber sobre a empresa, mas há apenas mais do mesmo. Hoje tivemos reunião com o conselho e Lilian estava presente, conversamos rapidamente, pois eu estava de saída para vir pra cá. Você sabe que ela não gosta de ir até a Luthor Corp sabendo que você não está lá, mas ela faz esse esforço por você, porque sabe que você iria querer que ela fosse. E também para fiscalizar se Lex e eu estamos trabalhando direito, conforme você gostaria que fosse. Ela acha que nós não percebemos ela fazendo perguntas aos outros CO's e às nossas assistentes. Até a Sam ela tenta interrogar às vezes. ― Não posso deixar de rir das artimanhas da dona Lillian. ― Enfim, eu mencionei que viria te ver hoje e eles dois mandaram beijos. Agora, lamento desapontar, mas a novidade que tenho pra contar diz respeito a minha vida pessoal. Eu sei, eu sei, eu mal costumo cultivar uma vida pessoal, quanto mais ter uma novidade a contar sobre esse ponto. É realmente um acontecimento. Bom, você lembra que semana passada eu contei que organizaria o meu primeiro Congresso Anual de Pesquisa e Tecnologia como CTO da Luthor Corp? Pois o evento foi um sucesso, você teria amado e teria orgulho do meu trabalho. Eu diria "modéstia à parte", mas você diria que Luthors não são modestos, então.. Bem, o que isso tem a ver com a minha vida pessoal? Eu conheci uma cientista nesse congresso, uma mulher muito inteligente, você adoraria conhecê-la. Doutora Lena Danvers, ela é a Chefe do setor de pesquisa aqui do hospital, você acredita? E, ironias à parte, ela está desenvolvendo um trabalho muito promissor na pesquisa da cura para tumores malignos. E ela é genial, teve um insight brilhante para sua abordagem. Sabe, eu fiquei pensando, se você não tivesse sido tão teimoso. Se você não tivesse nos escondido a sua doença até o dia em que a mamãe te encontrou caído no banheiro, quando o seu câncer já estava em metástase avançada e era irreversível. Talvez ainda houvesse uma chance, talvez nós pudéssemos ter ganhado algum tempo até essa pesquisa ficar pronta. Talvez você não estivesse em coma a cinco meses, desde aquele dia. E talvez eu pudesse te apresentar a mulher que finalmente despertou o meu interesse. Bem, mas você fez suas escolhas, não é? Escolheu trabalhar até o último dia possível. Agora nos resta respeitá-las e seguir cumprindo o seu pedido. Tudo pelo legado da família, tudo pela empresa e os negócios.

Preciso fazer uma pausa para retomar o fôlego e limpar uma lágrima insistente que Lionel odiaria ver. Sempre que via a sua princesinha chorando ele dizia que esse mundo não era digno das minhas lágrimas. Mas eu estou chorando pelo segundo pai que eu estou prestes a perder. Ele não era o pai mais presente do mundo, mas fora um bom pai para nós, acho que é justo que eu derrame algumas lágrimas por não poder ver o entusiasmo nos seus olhos por eu ter permitido finalmente me deixar conquistar por alguém especial, como ele sempre desejou. Que eu só abrisse meu coração a quem fosse capaz de compreendê-lo, fora a instrução dele para mim a vida toda sobre esse assunto. Era uma preocupação sobre eu confiar o meu segredo e toda a minha bagagem a alguém. E era completamente compreensível. Se envolver com um Super não é algo para o qual qualquer humano esteja preparado. Pode parecer muito divertido, à princípio, mas a verdade é que há tantos riscos e escolhas difíceis escondidas por trás de vôos ao redor do mundo, capas, trajes e lutas épicas.

― Agora, se me dá licença, preciso ir. Há uma linda morena de olhos verdes esperando para me levar a um encontro. E é deselegante deixar uma garota esperando, foi você mesmo quem disse. ― Sorrio com a lembrança dos seus conselhos na minha adolescência. ― Tchau pai, até logo. Te amo. Fique bem. ― Digo beijando a sua testa e pegando na sua mão novamente. Penso ter sentido a sua mão se mover enquanto a toco e o observo por alguns segundos, mas nenhuma nova reação surge. Deve ser apenas uma impressão minha.

Hoje o nosso monólogo acabou ficando um pouco mais emotivo que o normal. Devo estar tocada, apenas isso. Nunca quis tanto poder contar uma novidade pra ele e ouvir a sua opinião, ver sua reação de volta... Mas agora não é possível. Preciso me recompor e ir ao encontro de Lena.

Na saída converso com as enfermeiras novamente, falo sobre as impressões que tive, peço que o observem com atenção nas próximas horas, agradeço, me despeço e ando em direção ao elevador novamente.

Continua...

Uma Danvers & Uma Luthor - SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora