4. Milkshake com batata frita

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Narrador POV

O elevador abre suas portas novamente, dessa vez em direção ao andar em que fica situado o setor de pesquisa do hospital. Kara disse que encontraria Lena no hospital, no final do expediente. Mas aparentemente ela ainda não tinha saído do laboratório, pois a morena ainda não tinha mandado a mensagem avisando que estava de saída, como combinaram. A loira, então, resolve fazer uma surpresa e vai até a sua sala.
Como os Luthors são figuras públicas, especialmente no hospital que pertence a eles, ela não tem problemas em circular livremente por ele. A Luthor mais nova se dirige até a recepcionista da unidade e pergunta onde fica o laboratório da Dra. Lena Danvers e a moça indica o local, com a feição um pouco atônita. Não era muito comum ver qualquer membro da família dos chefes andando por aquelas alas, principalmente assim, sem aviso prévio. A funcionária e os poucos colegas que circulavam pelo hall deveriam estar cogitando uma vistoria surpresa, ou algo do tipo.
Quando Kara encontra a porta ostentando a plaquinha com o nome da Chefe do Departamento de Pesquisa, ela bate e escuta, do outro lado, uma voz conhecida autorizar a entrada.
― Com licença. ― A Luthor abre a porta devagar e deixa apenas o seu rosto à mostra no campo de visão da outra.
― Oi, Kara! Que surpresa! Estou atrasada?
A cientista dá alguns passos em direção à entrada, pára na frente de Kara e hesita por um instante. Parece em dúvida sobre como proceder naquela situação. Era apenas o seu segundo encontro, embora o tempo gasto trocando mensagens fizesse parecer mais. De qualquer forma, ela não queria parecer autoconfiante demais ou invasiva, partindo para um beijo mais íntimo, ainda mais em seu local de trabalho. A Luthor ainda era a chefe e talvez não aprovasse a atitude. Por outro lado, elas já tinham se beijado. Será que ela interpretaria como um recuo na relação delas se ela optasse pelos tradicionais beijinhos na bochecha. Ou talvez fosse melhor beijo nenhum, já que algum colega poderia ver e estranhar esse nível de intimidade entre elas.
Mas, percebendo o pequeno dilema e sanando as divagações inseguras em que Lena estava imersa, Kara segura na sua mão com delicadeza, olha nos seus olhos tentando transmitir toda a certeza que sentia sobre o que estavam fazendo e deixa um breve beijo nos seus lábios. Lena corresponde e exibe um sorriso fofo e tímido no seu rosto que faz Kara sentir o peito aquecer. Ela seria capaz de passar o resto dos seus dias beijando Lena apenas por aquele sorriso.
― Você não está atrasada. Eu que me adiantei e pensei em fazer uma surpresa. Mas não quero atrapalhar. Posso esperar enquanto você termina o que precisa fazer.
― Você não atrapalha em nada. Eu já terminei, estava recolhendo minhas coisas. Mas já que está aqui, gostaria de conhecer o meu laboratório? ― Lena parece tão animada quanto uma criança mostrando seus brinquedos novos e Kara só pode sorrir e achá-la ainda mais adorável e fascinante.
― Você pegou no meu ponto fraco. Eu adoro laboratórios.
Elas fazem um rápido tour pelo ambiente, que é muito bem organizado, Kara pôde observar. Lena mostra um pouco mais do seu trabalho, das suas pesquisas anteriores, os livros que tem usado como referência bibliográfica e seus principais equipamentos. Elas entram em uma conversa sobre suas dissertações e teses de mestrado, doutorado e Phd, que ambas têm, é claro. Acabam combinando de trocarem cópias dos seus trabalhos, afinal, que forma melhor de conhecer um cientista a fundo?!
Depois dos minutos do dia dedicados ao papo nerd, elas saem juntas em direção ao elevador, sob olhares curiosos dos demais funcionários do setor. Lena se despede dos colegas que encontra pelo caminho e Kara precisa se conter para manter-se séria. Ela cogita duas opções: Ou eles já entenderam o que está acontecendo, ou não estão entendendo absolutamente nada. Quando as portas do elevador se fecham ela pode finalmente rir e chama a atenção da morena para si.
― O que foi? ― A Danvers a observa curiosa.
― Seus colegas. Você percebeu, não?
― Ah, sim. Eles devem achar que eu fiz algo muito grave pra você vir pessoalmente me demitir.
A constatação faz a Luthor rir ainda mais.
― Você tem fama de se meter em problemas no trabalho, mesmo a sua chefe sendo a sua irmã?
― Não! Nada disso. Alex nunca permitiria. Me demitiria no primeiro deslize mais grave da minha parte. Ela nunca ia deixar que pensassem que eu tenho privilégios por ser irmã dela. Sem falar que a mamãe trabalha no mesmo departamento que eu, ou seja, eu não poderia aprontar nem se quisesse.
― Então? ― Kara ainda tentava encontrar uma explicação.
O elevador abre e ela segue Lena em direção ao seu carro. A morena não perde a oportunidade de abrir a porta do carona para a sua acompanhante.
― Minha vez. ― Elas trocam um olhar cúmplice. Talvez essa se tornasse uma brincadeira entre elas. ― Sabe como são os fofoqueiros. Sempre esperam pela versão mais chocante da história, de preferência a pior. Mas amanhã o fofoqueiro mor, que é o Winn, já vai ter satisfeito a curiosidade deles.
― Hmm, ele sabe sobre nós então.. Isso quer dizer que amanhã os seus colegas também já vão estar sabendo?
― Oh, não. Não se preocupe com isso. Ele não está autorizado a contar. Mas todos sabem que ele é meu melhor amigo, então, se ele desmentir qualquer boato que surgir já será suficiente.
― Ok, então. Vai me contar onde vamos nesse encontro?
― Eu imagino que você saiba patinar, mas já foi a uma pista de patinação?
― Sim, eu sei patinar, mas nunca fui a uma pista. Sabe como é, Luthors só praticam nos alpes suíços. ― Kara responde um pouco sem graça. Era estranho como viver dentro da bolha de um alto padrão social a privou de algumas experiências que parecem absolutamente comuns para a maioria das pessoas.
― Eu imaginei. Então, pronta pra sua primeira vez patinando com crianças e casais se esbarrando?
― Prontíssima! ― Ambas parecem igualmente animadas agora e Lena dá a partida no carro..
Quando elas descem do automóvel, Lena pega na mão de Kara e faz questão de conduzi-la até o local, extremamente empolgada. Ela nem percebe que Kara está olhando boba para as suas mãos dadas, se sentindo uma adolescente, nervosa com as demonstrações de afeto, especialmente públicas, da crush. Até que em algum ponto a morena percebe que a outra está um pouco para trás e caminhando um pouco mais devagar e ela pára.
― Tudo bem, Kara? Nós não precisamos patinar se você não quiser, podemos ir ao cinema, ou fazer qualquer outra coisa.. Não quero que se sinta desconfortável fazendo alguma coisa só por que eu sugeri.
― Não, Lena. Tá tudo bem, eu juro, não foi nada. ― Mas ela precisava de um pretexto melhor para justificar o seu comportamento se quisesse soar minimamente convincente. ― É só.. que.. Isso é muito diferente do que eu costumo fazer, sabe.. Ir a encontros.. E dá um frio na barriga, mas de um jeito muito bom. ― E isso não era mentira, afinal, era de fato o que ela também sentia.
Lena sorri de volta, não se sentindo a única a estar nervosa e um pouco insegura quanto ao que estavam vivendo e os sentimentos que aquilo despertava nela.
― Eu também não costumo ir a muitos encontros, Kara, mas estou feliz por fazer isso com você. ― Sorri mais abertamente ainda, sendo correspondida pela loira, e as duas continuam caminhando lado a lado até a pista.
Chegando lá o cenário era bem como Lena havia descrito. Algumas famílias cuidavam de suas crianças e outros casais patinavam juntos e era um ambiente divertido e descontraído, ao qual Kara já sentia vontade de voltar mais vezes, antes mesmo de começarem a patinar juntas.
Elas entram na pista e começam a deslizar juntas. Assim que embalam em um ritmo, Lena toma a iniciativa de pegar a mão de Kara novamente, para que andem alinhadas. O tempo passa sem que elas percebam, assim como não percebem o quanto os risos compartilhados e as tentativas de performance também as aproximava, nem sempre de um jeito físico, mas de um jeito cúmplice.
Até que as forças universais que regem os clichês românticos resolveram agir a favor desse casal e dar um empurrãozinho, ou talvez um belo esbarrão. A pista também era usada por crianças nesse momento, crianças desajeitadas que ora ou outra caiam alguns tombos, dos quais Lena e Kara estavam se esquivando com maestria até então. E teriam se esquivando de mais um, se não estivessem com a atenção totalmente presa uma à outra, sorrindo mutuamente. Kara tem reflexos e velocidade kryptonianos para se equilibrar mesmo estando sobre duas lâminas de metal. Habilidade que ela usou para segurar Lena e evitar que ela tombasse junto com as crianças e aquilo virasse um grande bolo humano.
Bem, ser segurada daquela forma, por braços que ela desconhecia a força até então, retirou o resto de equilíbrio que Lena tinha. A realização do quão rápido seus pensamentos andaram a fizeram corar na mesma hora. Kara apenas sorriu e lhe deu suporte, até que ela se equilibrasse novamente.
― Tudo bem? ― a Luthor tenta se assegurar de que a outra está bem, apesar da quase queda.
― Oh, sim, obrigada. ― Lena ainda mantém um pouco de apoio nos braços de Kara, suas pernas ainda não eram cem por cento confiáveis. Ela involuntariamente aperta muito de leve as mãos nos antebraços da loira e se condena mentalmente ao perceber o que fez. Torce internamente para que Kara não tenha percebido e evita olhar nos olhos dela. Felizmente, por que o sorrisinho formado no canto da boca da loira teria denunciado que ela percebeu sim, mas era educada e tentaria fazer com que Lena não ficasse tão constrangida.
― Você quer parar? Nós podemos sentar um pouco pra descansar. ― Ela não precisava, mas estava empenhada no conforto de Lena.
― Hm, sim, seria bom. Vamos até a lanchonete? Preciso te apresentar as iguarias do fast food. Aposto que você nunca provou milkshake com batatas fritas.
― Já experimentei sim, separados, não na mesma refeição. ― Elas deslizavam juntas para fora da pista.
― Pois está perdendo a melhor combinação possível!
― Tem certeza que isso fica bom?! ― Kara começava a ficar seriamente preocupada com os gostos da outra, principalmente por que seria obrigada a experimentar.
― Claro que sim! Confia em mim?
Kara se sentiu pega de surpresa pela pergunta, que assustadoramente parecia muito leve e natural, tanto quanto foi a sua resposta.
― Plenamente.
Lena sorriu e a conduziu pela mão mais uma vez. Contato que estava ficando cada vez mais confortável para ambas.
Bom, se ia se deixar imergir naquela experiência por completo, Kara achou melhor confiar em Lena para lhe guiar e deixou que ela escolhesse o lanche de ambas. Mais do que isso, Lena instruiu a ordem em que o lanche deveria ser degustado. Primeiro o hambúrguer, e depois restariam as batatas fritas para serem comidas junto com o milkshake. A princípio a mistura não parecia fazer o menor sentido para a loira. Isso até ela colocá-la na boca pela primeira vez. E não é que Lena tinha razão?! Ela precisou conter a própria velocidade para terminar o lanche. Soltava algumas interjeições de prazer sob o olhar de Lena que ria da reação dela.
― Nossa, isso é muito bom! Por que ninguém me apresentou isso antes?!
Lena continuava rindo e comendo do seu próprio lanche, completamente satisfeita por ter feito aquela conversão.
― Quem poderia dizer que as iguarias da classe média podem ser tão boas, não é mesmo?! ― Ela estava aproveitando pra se divertir com a cena.
― Isso é completamente subestimado! ― Agora ela também compartilhava o riso.
Algum tempo depois era a vez de Lena deixar Kara em frente ao seu prédio. Todo o trajeto foi feito sob uma conversa leve, entusiasmada e natural. Mas a realização do fim do encontro faz com que um silêncio súbito e indeciso se instale dentro do carro. Kara quer prolongar o momento e resolve se deixar levar pelos próprios instintos. Afinal, as pequenas conquistas que teve nessa breve relação foram frutos dos riscos que assumiu, e estava sendo bem sucedida até então. A sinceridade sobre suas intenções e sentimentos estavam rendendo bons frutos e ela decide seguir nessa linha.
― Você gostaria de subir? Nós podemos continuar essa conversa com algumas taças de vinho, se você quiser.. ― A loira soa um pouco sugestiva.
― Não sei se é uma boa ideia, Kara.. ― Lena desvia o olhar
― Oh, não, desculpe, não foi isso que eu quis dizer. Não quis insinuar... Eu só pensei que..
― Não, Kara, tudo bem. O que eu quis dizer é que eu estou dirigindo, o vinho vai ter que ficar pra outro dia. Mas sobre..
― Nós não precisamos fazer nada. Eu só quero aproveitar mais um pouco a sua companhia.
O breve momento que se seguiu foi, mais uma vez, de hesitação por parte de Lena, medindo os passos que avançava nessa relação, também levada pela insegurança sobre as expectativas de onde toda essa experiência nova a levaria. Para Kara, foram breves segundos de tensão que pareceram uma eternidade, pois a postura da morena poderia facilmente ser lida como indecisão, ela não saberia até que a outra respondesse. Por que mesmo ninguém a havia avisado que inícios de relacionamentos são assim? Ela precisava lembrar de cobrar Sam por isso. Mas a voz macia e doce da sua acompanhante a tirou da sua espiral de incertezas.
― Ok, tudo bem. Vamos subir então.
Elas descem do carro e é a vez de Kara conduzi-la pela mão. Gesto que se mantém dentro do elevador até chegarem ao apartamento. Quando entram na cobertura, o ambiente toma a atenção de Lena por alguns segundos, enquanto Kara pendura seus casacos e as bolsas.
― Uau! Sua casa é incrível, Kara.
― Obrigada. ― Ela responde indo em direção ao bar. ― Bom, já que vai ser sem álcool hoje, eu posso fazer uns drinks não alcoólicos pra gente. O que acha?
― Você também é bartender? Tem algo que Kara Luthor não saiba fazer na Terra?
― Bem.. o que eu posso dizer... Quando entrei na faculdade ainda era menor de idade, precisei aprender a me virar nas festas.
Mas Lena nota a leve mudança na expressão corporal da loira e começa a prestar mais atenção nos pequenos gestos. Ela parecia.. nervosa? A mesma Kara que era sempre tão confiante e galanteadora? Talvez o fato de estarem sozinhas pela primeira vez em particular tenha dado um certo peso para esse momento. Talvez ter Lena na sua casa, um pedaço importante da sua vida, que podia dizer muito sobre si, pudesse fazer ela se sentir um pouco exposta. Lena descobriria em seguida.
― Aqui está!
Kara serve os drinks e se junta à Lena no sofá. Elas brindam com suas taças e experimentam o líquido colorido.
― Sua habilidade tá aprovadíssima, isso tá uma delícia!
― Obrigada ― Kara responde timidamente, o que faz a morena pegar na sua mão para tentar tranquilizá-la.
― Você parece um pouco nervosa..
― Eu estou, um pouco, na verdade, não vou mentir.
― Por que? ― Lena tentava entender.
― Bem, sendo sincera? ― Lena assente, concordando, para que a outra continue. ― Eu não lembro de alguma vez ter me interessado por alguém assim, como me interessei por você. Então, toda essa situação é nova pra mim. E às vezes não sei bem como conduzir isso, sabe.. de forma a agradar você, essas coisas.. ― Kara também não lembrava de alguma vez ter ficado nervosa a ponto de se atrapalhar com as palavras ou elas lhe faltarem para se expressar. A presença de Lena realmente dificultava as coisas pra ela. Dependendo do olhar que ela lhe lançava às vezes era possível sentir uma pressão sobre seu peito para respirar.
― Mas, Kara, acho que eu é que deveria ficar nervosa aqui. Afinal, sou só eu, uma garota comum, e você é Kara Luthor, sabe.. Rica, inteligente, cientista renomada. Você tem tudo à sua disposição. Eu não sei dizer ao certo o que chamou sua atenção em mim.
― Você pode ser tudo, Lena, menos comum. Você é especial, extraordinária. Tão inteligente, decidida, mas doce e bem humorada ao mesmo tempo. Ainda é apaixonada pelo que faz e, um excelente bônus, é ciência. Você é uma garota perfeita, aos meus olhos. Tanto que eu nunca ousei idealizar alguém assim, que reunisse esse conjunto de características tão únicas. Eu nunca nutri esperanças de gostar de alguém de verdade dessa forma, então nunca imaginei como seria essa pessoa. Mas parece que o universo sabia e nos fez cruzar os caminhos. Eu sei que a imagem pública que fazem sobre mim nesse aspecto da minha vida não depõe muito a meu favor, mas quero que saiba, isso que estamos fazendo, eu não quero que seja algo casual. ― A loira termina de falar com uma ponta de ansiedade pela reação da outra, inclinando levemente o tronco em direção a ela, sem se dar conta do magnetismo que a atrai. Lena sorri, ainda timidamente.
― Eu.. fico feliz em saber disso, Kara. Na verdade eu também não tenho muita experiência com encontros. Quer dizer, eu namorei o Jack, como eu falei, mas com o tempo percebemos que éramos apenas amigos e é o que somos até hoje. E, eu sou uma garota tímida, sabe?! Para ter encontros casuais, então, meio que foquei minha atenção no trabalho e acabei deixando minha vida amorosa um pouco, ou talvez totalmente de lado. Quando você demonstrou interesse em mim, foi a isso que me referi quando disse que parecia improvável. Você sabe, eu sou só uma nerd, e nerds não costumam se dar muito bem na área amorosa. Mas você é uma das poucas pessoas que me escuta falar sobre ciência e nerdices com atenção, sem ficar entediada e pra mim isso soa encantador. Sei que você também é cientista e esse é um interesse em comum, mas mesmo assim, a sensação é muito boa. São as razões pelas quais eu gosto de você e sim, eu gostaria que não fosse casual e que a gente desse continuidade ao que estamos fazendo juntas.
Kara sorri em resposta.
― Bem, isso é tudo que eu gostaria de saber.
O que acaba virando uma troca de sorrisos cúmplice. Kara pega as duas taças e coloca na mesinha de centro próxima ao sofá. Depois pousa a mão delicadamente sobre o rosto de Lena e a beija. Mais entregues agora que alguns muros haviam sido derrubados entre elas e a confiança estava sendo construída aos poucos. Ambas podiam se jogar sem tanto medo de se machucarem atrapalhando, e isso tornava tudo mais fluido. As condições estavam propícias para que a intimidade também fosse alimentada. E por isso elas permitiram um pouco mais naquele momento, se prolongar nas carícias, ousar um pouco mais nos toques. Saber exatamente os efeitos físicos que uma causava sobre a outra. Era hora de explorar outros territórios. Longos minutos depois em que estavam aprofundando o grau de conhecimento sobre essa dinâmica entre as duas, elas se encontravam bastante bagunçadas, roupas desalinhadas, cabelos desgrenhados, mas sorrisos amplos nos lábios, além do batom caoticamente borrado, é claro. Estavam, sim, muito felizes com o rumo que estavam tomando, mas o instinto de Lena dizia que ainda não era a hora de ultrapassar outros limites. Ela sentia que seria precoce seguir adiante e ela se arrependeria por pular etapas. Precisava respeitar seu próprio tempo e era isso que faria. Fez o esforço de reunir toda a sua força de vontade para se desvencilhar das carícias de Kara que percorriam livremente seu corpo.
― Kara.. Kara.. ― A morena lutava internamente para manter a mente lúcida contra a investida de beijos quentes no seu pescoço.
― Hmm ― A Luthor murmura ainda sobre a pele da outra, dificultando a sua intenção sem nem perceber. Mas sente mãos a afastando. ― Oh, desculpa, eu passei dos limites.
Mas mais uma vez Lena se adianta em acalmá-la.
― Não, tá tudo bem, você não excedeu limite nenhum. Isso tava ótimo, na verdade. ― Ela murmura a última frase, mas pro seu azar Kara pode ouvir e apenas sorri, convencida. ― Eu só.. acho que é melhor pararmos. Não quero que isso seja feito assim..
Kara rapidamente compreende o que ela quer dizer.
― Claro, quando estivermos prontas. ― Sorri enquanto arruma uma mecha de cabelo fora do lugar no rosto de Lena.
― Você é incrível. ― A morena sorri de volta. ― Acho que eu preciso ir agora..
Kara a acompanha até a porta e se despedem com um beijo bem mais caloroso, encerrados por sorrisos amplos e insistentes no rosto de ambas. Kara não costumava sonhar muito, mas essa noite era quase impossível não ter bons sonhos, dormindo e acordada. Para Lena também não foi diferente.

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