A Viajante - O Outro Mundo (Livro 1)

Capítulo 2

Às dez, Camila estava apreensiva enquanto caminhava pelo corredor que dava acesso para a escadaria, sentindo que algo ruim poderia acontecer a qualquer momento. Não sabia se era apenas medo, mas torcia para que não fosse algum tipo de aviso de que eles seriam pegos por Graça ou por qualquer outro Zelador. 

Desceu os degraus, tomando cuidado para fazer o mínimo de barulho possível. Virou à esquerda, indo para o corredor escuro que dava acesso à biblioteca e à sala do Diretor. Chegando no final do corredor, virou à direita, e sentiu seu coração pular por conta do susto que levou. Tiago estava parado ali.

— Pensei que não ia vir. — Ele tirou as chaves do bolso da calça. — Vamos?

Camila assentiu, colocando a mão sobre o peito; o coração ainda doendo pelo susto.

Depois de caminharem um pouco, chegaram na frente à porta. Olharam para os lados, confirmando que o local estava vazio. Tiago olhou para Camila, que assentiu, crispando os lábios, nervosa.

Tiago abriu a porta, os dois entraram na sala iluminada apenas por uma luminária, rapidamente o menino a trancou. Camila notou que a sala não mudou quase nada desde a última vez que esteve ali. A velha escrivaninha de madeira um pouco gasta e arranhada se encontrava no lado oposto da porta. Um computador, uma luminária — que iluminava a sala quase escura. — e algumas outras coisas se encontravam em cima da mesa; uma cadeira giratória atrás da mesa e duas cadeiras comuns à frente.

No lado oposto, no mesmo lado da porta, havia uma televisão de tamanho mediano na parede. Duas poltronas rasgadas de couro ficavam viradas de frente para o aparelho. Camila notou que talvez essa fosse a única coisa diferente por ali.

Ambos se sentaram nas poltronas.

— Nossa, nem nossas camas são tão confortáveis assim. — Camila comentou. — Temos que vir aqui mais vezes. Acho que essas são novas.

— Poltronas rasgadas são a novidade aqui. Me pergunto o que ele faz com o dinheiro que recebe de verbas.

Tiago se levantou e foi até a escrivaninha.

— Onde será que ele guardou o controle da TV?

— Tenta as gavetas. Só espero que não esteja na gaveta trancada.

— Achei. — Ele se sentou de volta na poltrona. — Preparada para assistir TV?

— Contanto que não haja nenhum perigo. — Disse Camila.

— Sempre haverá perigos, e cabe a nós enfrentá-los. —Tiago disse se ajeitando em sua poltrona. — Temos que arriscar de vez em quando. E vale a pena, esse local é chato demais.

Camila escutou com atenção as palavras de Tiago, ele estava certo, não poderia ficar com medo de tudo, talvez ela estivesse preocupada à toa. E essa sensação poderia ser derivada de sua preocupação boba.

— Desde quando é formado em filosofia? ­— Brincou.

— Desde que li isso em uma revista.

Camila riu, seguida por seu amigo.

Pegou o controle da televisão das mãos de Tiago, que soltou uma exclamação. Ligou a TV e ficou zapeando entre os canais para ver se havia algo de bom passando, ela sempre parava em um canal que parecia ser interessante e olhava para Tiago para ver o que ele achava. O garoto apenas balançava a cabeça em forma de reprovação. Enquanto passava pelos canais, escutou uma voz feminina dizendo algo que chamou a atenção de Camila "Universos". Voltou rapidamente até aquele canal e resolveu assistir, ignorando Tiago que falava para ela passar. A legenda do programa chamou ainda mais sua atenção: "Universos Paralelos. Eles existem?"