— Você sabe quem sou eu, certo? Reconhece a minha voz, não é, filhinha?
Conseguiu notar a satisfação em sua voz. Satisfação por tê-la em sua mira; tê-la em sua frente e saber que bastava puxar o gatilho, que a mataria.
— P-por quê? — Foi tudo que conseguiu dizer.
Ela escutou a risada fria e sádica de Daniel ecoar pelo corredor, que pareceu sombria aos seus ouvidos.
— Por quê? Ora, você não se lembra mesmo? — Perguntou. Percebendo que ela não iria responder, ele continuou. — Nós pensamos que você tinha perdido uma parte da memória naquele acidente. Mas mesmo assim, não quisemos arriscar. Quem sabe, ela estivesse certa?
Ela? Quem seria ela? Seria Carla?
— Pensamos que esse poderia ser o motivo de você não ter tocado nunca mais no assunto. Mas poderia ser também, você se fingindo de idiota desmemoriada. Eu não pude arriscar.
— D-do que você está falando? — Escutou sua voz falha sair quase em um sussurro. Parecia que seu coração iria explodir a qualquer momento por conta do medo que sentia.
— Vamos refrescar sua memória: você descobriu que eu planejava matar a desgraçada da sua mãe, e então, tive que me livrar de você.
Sua cabeça começou a doer. Se sentiu tonta. Por que ele queria matar Carla?
— Mas parece que vocês duas não morrem nunca! Nem em um acidente daquela gravidade você consegue morrer, Leyla! — Sua voz se alterou, transmitindo a raiva que sentia.
O acidente.
Flashes de memória aparecerem em sua mente. O que eram aquelas lembranças?
Ela estava em um carro em movimento, em uma estrada, olhando pela janela.
Se lembrava disso... em algum lugar, já viu isso acontecer.
De repente, um barulho alto de buzina a fez olhar para frente, e viu um caminhão vindo em sua direção, em alta velocidade. Um grito que pareceu sair de sua boca foi escutado.
Onde ela havia visto isso acontecer? Tentou se lembrar, fez o máximo de esforço.
O carro em que estava fez uma curva, pareceu perder o controle e bateu em um poste. Voou pelo para-brisa do carro, e um grito ainda mais desesperador saiu de sua boca antes de se ver indo em direção ao chão.
O sonho! Havia tido esse sonho no dia do passeio, antes de ir para àquele lugar, no Mundo Um. Aquele fora o acidente de Leyla. Havia sonhado com ele, mas como? Como havia sonhado com uma coisa que ainda nem havia acontecido?
— Eu tentei não focar em você. Tentei me convencer de que você havia esquecido. Por que infelizmente... bem, eu até gosto de você. — Ele continuou. — Então, fui tentar seguir com o meu plano. Tentei fazer sua mãe ir no meu carro, no dia da cerimônia dos Bennist. Eu já havia preparado tudo. Um acidente que só quem estava no banco do carona estaria sem cinto, por estar ruim, sofreria. Seria o mesmo que aconteceu com você. Ela iria sair voando pelo para-brisa, e se eu tivesse sorte... ela morreria. Ela tinha que morrer. Mas ela estragou tudo! — Percebeu a raiva em sua voz. — Depois tentei envenenar ela com uma taça de champanhe, e de novo aquela imbecil estragou tudo!
Teve impressão de que ele segurava algo atrás da lanterna, mas não conseguiu ver direito. Concluiu que poderia ser a arma que usou há alguns momentos atrás; a arma que a mataria a qualquer momento. Sentiu um nó em seu estômago. Iria morrer.
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A Viajante - O Outro Mundo (Livro 1)
Science Fiction"Você acredita em universos paralelos?" Uma menina órfã, movida pela curiosidade, acaba se vendo diante de uma situação inesperada: Ela encontra um Portal Dimensional e viaja para um universo paralelo. "...havia uma coisa muito estranha de formato c...