Capítulo 35

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Silêncio. Nenhum som era ouvido além da sua própria respiração descompassada. Já havia morrido? Ainda estava de olhos fechados, e não sentiu dor física alguma . Estava tudo calmo e em completo silêncio.

De repente, escutou um baque, como se algo pesado tivesse caído, e sentiu uma corrente de ar frio passar pelo seu corpo. Seus cabelos começaram a voar contra seu rosto, indo para trás. Onde estava? Era algum tipo de local de vida após a morte?

Percebeu uma luz estranha pelo clareamento da escuridão através das pálpebras fechadas, e resolveu abrir os olhos, devagar, temendo o que veria quando o fizesse.

Olhou para os próprios pés, e viu uma luz azulada refletir neles e no chão empoeirado. Levantou a cabeça para ver de onde essa luz vinha, e prendeu a respiração por um momento.

Uma coisa de formato circular e de luz azulada estava em sua frente; semelhante a um buraco negro, com o horizonte de eventos circulando em volta de sua singularidade.

Era um Portal. Semelhante ao que havia a levado até aquele lugar; a levado direto para sua morte.

Mas Henry não havia fechado os Portais?

Olhou em volta, e percebeu que ainda estava no corredor do Andar Proibido. O Portal não era tão grande igual ao que apareceu na cozinha no orfanato, mas tinha tamanho o suficiente para se pôr entre ela e Daniel.

Onde estava a bala que havia sido disparada em sua direção? Havia entrado naquela coisa? E por que Camila não estava sendo puxada em sua direção?

Confusa, mas não querendo cometer o mesmo erro novamente e ficar para saber a resposta de sua pergunta, se afastou, antes que fosse tarde demais. Foi recuando para trás, tentando tomar distância dele. Não conseguia ver Daniel, pois o Portal a impedia disso, e agradeceu por ele estar ali, entre eles.

Resolveu se virar correr na direção oposta, mas quando o fez, a luz azul sumiu, o que a fez gelar e parar de correr. Se virou devagar; o coração acelerado. Se Daniel estivesse ali, não adiantaria correr, afinal, ele poderia atirar nela pelas costas.

A luz branca da lanterna foi a primeira coisa que tomou conta de sua visão, e a fez semicerrar os olhos. Percebeu que vinha do chão. A lanterna estava caída. Notou algo ao lado do objeto, e se aproximou mais. Tentou sair da direção da luz para enxergar melhor, e percebeu que havia alguém caído no chão.

Daniel.

Seus olhos estavam abertos, encarando o nada. Ele havia morrido? Mas como?

Olhou para sua camisa branca social, onde havia um buraco de bala, no meio do peito, de onde saía sangue.

Ele tinha atirado nela, e a bala, por não ter a acertado, deveria ter sido sugada pelo Portal. Mas então, o Portal havia devolvido a bala e o acertado? Por que ele devolveria algo que caiu nele?

Ficou encarando o corpo sem vida de Daniel antes de sentir suas pernas falharem, e desabou no chão. Uma onda de alívio percorreu todo o seu corpo, e sentiu as lágrimas rolarem e caírem em seu colo.

Passos ecoaram atrás de si, fazendo-a levantar em um sobressalto, temendo quem quer que fosse. Suspirou de alívio ao ver que era Heliberto, cambaleou até a parede e ficou encostada nela, como se ela fosse o apoio necessário para conseguir ficar de pé e não desabar no chão novamente.

— Camila. — Heliberto se aproximou dela. — Eu estava preocupado, você havia sumido.

Não respondeu. Não sabia o que dizer. Ainda estava em choque por conta do acontecido, se recuperando aos poucos. Sentia-se ofegante, mas bem melhor do que há apenas alguns minutos. Sentia-se aliviada.

A Viajante - O Outro Mundo (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora