ser poeta e não saber amar

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quando alguém me pergunta sobre o amor, eu sempre lembro de vários rostos, sorrisos, mensagens e momentos. lembro de cada poema que escrevi. lembro de cada rascunho que desenhei. eu lembro de todos os abraços que eu quis dar.

sinto que estou me enganando a cada estrofe.

a vida de um poeta não é como na poesia. em alguns momentos não vemos beleza nos detalhes, não planejamos poesia a cada instante, não esbarramos com o amor a cada esquina, não pensamos em alguém com alguma música.

quando alguém me pergunta sobre o amor, eu sempre digo:

eu desisti, não acredito que alguém possa me amar como sou.

porém, não vemos e nunca veremos as pessoas como elas são, apenas as vemos em uma perceptiva que criamos baseada em expectativas.

essa informação é um divisor de águas na minha visão sobre o mundo.

quando alguém me pergunta sobre o amor, eu digo que não espero ser amada, digo que talvez ninguém nunca me ame.

mas a verdade é que além de poeta, eu também tenho bloqueio emocional. coisas perigosas quando misturadas.

talvez todo esse sentimento de não ser amada, seja o meu medo inconsciente de não conseguir amar. de não saber amar.

na realidade, não consigo me amar, em nenhuma versão. então, porque tenho que ter esperança que alguém fará isso por mim? o que outra pessoa pode me oferecer que eu não possa dar a mim mesma?

talvez, é por isso que eu sempre mando embora quem bate no portão, quem chega com flores, quem me fala: eu te amo.

hoje na aula, o professor pediu para escrevermos uma carta a alguém importante, alguém que te influenciou positivamente, alguém que te ajudou a crescer.

cogitei vários nomes, contudo, eu pensei na pessoa menos provável.

eu pensei nele, porque foi a primeira pessoa que me fez sentir. que me tirou de órbita, e nem se deu conta disso. (mesmo não sendo sobre amor)

todo sentimento sobre o amor que já escrevi, foi inspirado em casais que conheço e casais que já assisti. amores que já presenciei.

quando alguém me pergunta sobre o amor, eu penso em todos os amores que me entregaram tudo, penso em todos os momentos que eu fugi.

eu penso nele. aquele que quase amei.

e pensava também: tenho que me afastar senão vou te machucar.

ser poeta só te dá a certeza de que o amor existe. não garante que um dia vou amar.

na próxima vez que me perguntarem sobre o amor, tenho que responder: não sei amar, acho que nem consigo.

continuo a escrever sobre o amor. tudo o que eu imagino que o amor seja.

mas ainda queria poder sempre enxergar beleza nos detalhes, planejar poesia a cada instante, esbarrar com o amor a cada esquina, pensar em alguém com alguma música.

queria poder entregar tudo de mim.

cássia eller tinha razão. sou poeta e não aprendi a amar. (você pode preparar nisso quando eu comparo amor com desastres ambientais)

mas, quando será que vou aprender? quantas folhas precisarei rasgar para conseguir me entregar?

quanta poesia sobre o amor precisarei forjar até realmente sentir?

errada demais para caber no seu certoOnde histórias criam vida. Descubra agora