CAPÍTULO 4

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MEREDITH;

Olho para minha mão junta a de Susan, e suspiro criando coragem para contar tudo que aconteceu.

— minha família é mórmon, e tem leis muitos rígidas, mas para minha sorte ou azar, após meu casamento, Tomás se desligou-se da igreja. — conto nervosa. — porém mesmo assim, ainda seguimos os ensinamentos que tínhamos, ao menos eu seguia em partes.

— em partes? — Susan pergunta interessada.

— casei com 16, mas tomei anticoncepcional escondido por oito anos, até que Tomás descobriu, e me proibiu, então veio a Marcela. Consegui que uma moça que morava próximo conseguisse fornecer anticoncepcional novamente após o parto, para evitar outra gravidez indesejada. — explico sincera.

— você ainda era uma menina quando casou. — diz indignada. — você gostava dele?

— o via durante os encontros da igreja, mas não havia ao menos conversado com ele, meus pais quem arrumará o casamento. — Susan me encara estática. — conheci o inferno no primeiro dia de casamento, e passei dez malditos anos vivendo no mesmo.

— que desgraçado. — profere irritada.

— no dia do incêndio, ele chegou e me agrediu, fui para o quarto da minha filha colocá-la para dormir, para ir para o quarto como de costume, e ele terminar o que havia começado a fazer na sala. — conto envergonhada. — mas quando sai do quarto, o cheiro de gás já invadia a casa inteira.

— que infeliz. — ela aperta minha mão indignada. — espero que ele pague bem caro por todo o mal que fez a vocês.

— peguei minha filha e desci as escadas correndo. — fecho meus olhos lembrando da cena. — já tinha focos de incêndio por todo o andar, porque ele estava encostando um isqueiro nós móveis, e cortinas. Pretendia sair despercebida, mas ele percebeu e antes que chegasse até a porta ele me prendeu pelos cabelos.

— não chore meu bem. — Susan acaricia meu rosto com carinho. — tudo irá passar, e você e sua filha ficaram bem.

— cobri minha filha com meu corpo enquanto ele me espancava. Achei que morreria, mas por algum motivo um dos suportes da cortina desprendeu, e acertou a nuca dele, fazendo o mesmo cair desmaiado. A fumaça já estava em todo o ambiente, então apenas sai da casa, sem olhar para trás. — conto sentindo uma angústia no peito, mas também um alívio.

— amanhã quando fomos prestar depoimento, quero que fale apenas a verdade, tudo que aconteceu desde o início do casamento, da forma que me contou. A advogada que irá defende-la, fará o resto. — garantiu me dando um sorriso confiante. — você é uma mulher admirável.

— obrigado por tudo que tem feito por nós Susan. — agradeço sincera, perdida em seu olhar.

— não foi nada querida. — acariciou minha mão, dando um pequeno aperto em seguida. — quero vê-la feliz, apenas isso.

...

O dia de passou, e pela primeira vez me senti acolhida e livre. Não houve nenhuma pressão, ou chingamentos, apenas eu, minha filha e Susan. Parecíamos uma pequena e feminina família, curtindo juntas.

— você irá se engasgar. — advirto Susan que está deitada no tapete, e Marcela enfia biscoitos na sua boca.

— você é mandona. — resmunga abrindo a boca e minha filha colocando mais biscoito, alguns babados pela mesma. — hummm... — gemeu de boca cheia, e em seguida começou a tossir, tentando se levantar.

Minha filha gargalha da situação, enquanto corro trazendo água para ela. Olho para a mulher, com a expressão de "eu avisei", e ela apenas sorri culpada.

— por isso sempre devemos ouvir a nossa mamãe. — ela resmunga voltando a sentar ao lado da minha filha.

— de novo? — Susan arregalou os olhos em direção a Marcela, enquanto gargalho.

— ela acha que você está inventando. — aviso e relaxando no sofá, e olhando as duas.

— não neném, a tia realmente engasgou. — conversa com ela explicando. — por isso não pode encher demais a boca, e especialmente obedecer a mamãe.

...

Olhava nervosa para o delegado, enquanto contava tudo da forma que aconteceu. Minha sorte foi ter uma advogada maravilhosa, que soube lidar com a situação com confiança, ou o delegado teria me feito assumir um crime sem que tenha feito nada.

— o corpo foi encontrado carbonizado.

Poderia dizer que no fundo algo doía com seu fim, mas estaria mentindo. Não sinto nada além de alívio, apenas isso. Nada que aconteceu nesses anos casada me fizeram bem. Nunca me senti bem ao lado daquele homem, nunca senti desejo ou prazer com ele.

— em alguns dias a audiência será marcada, então será frente ao juiz que terá que mostrar sua inocência. — o delegado avisou com um tom provocativo.

— não se preocupe. Ela nao tem o que temer. — Susan responde, envolvendo uma mão na minha cintura e me acompanhando em direção a saída, segurando minha filha em seu outro braço.

— esse homem é tão desagradável, não sei como consegue trabalhar com ele. — comento ao entramos no carro.

— será por pouco tempo. — sorriu confiante ligando o carro e partindo. — a cadeirinha ficou ótima. — sorriu para minha filha que brinca no banco de trás.

Assinto um tanto encantada pelo extremo cuidado que Susan tem com Marcela. Parecem que se conhecem desde sempre.

— Meri, preferi italiano, francês, brasileiro, ou árabe? — pergunta em relação ao restaurante.

— árabe. — respondo e ela sorri mechendo no GPS do carro.

Almoçamos e conversamos, de forma descontraída. Me sinto como uma criança livre para brincar em um parque. Tive minha vida toda muito controlada, e o único momento que poderia sair da minha casa, era para fazer as compras mensais, e muita das vezes era acompanhada por alguém de confiança do Tomás. Vivia em uma prisão.

— você não tem idéia de quanto seu sorriso é lindo. — Susan comenta do nada, me fazendo baixar o olhar envergonhada. — não tenha vergonha, você merece todos os elogios possíveis, todos os dias. Você é uma mulher muito bela.

— só não costumo receber elogios. — assumo tímida.

Susan me faz sentir uma ansiedade no estômago, e fico totalmente tímida quando ela me elogia com tamanha intensidade. Hoje enquanto me arrumava, me olhei no espelho me sentindo tão bela, quanto jamais havia me sentindo, e quando ela me viu, me olhou de forma tão intensa que senti minhas pernas bambas.

— Susan, sei que já estou abusando muito de você, mas poderia me ajudar a consegui uma creche para a Marcela? — pergunto envergonhada. — quero conseguir um trabalho, e não poderei se tiver que cuidar dela.

— sem problemas. Minha irmã tem um berçário e educandário. Posso levá-la para conhecer amanhã. — me olhou de forma empolgada. — aproveito e apresento vocês a ela.

Sorri sincera. As correntes que me prendiam caiam a cada instante, e me fazia me sentir cada vez mais dona de mim. Com aspirações novas, desejos renovando. Encaro feliz minha filha, sabendo que ela terá oportunidades que fui privada na infância, que poderá ter amigos e estudar o quanto desejar, e não apenas o suficiente para ensinar aos filhos, e nunca saber mais que o marido. Quero protegê-la de um destino como o meu.

MEREDITH & SUSAN |+18|Onde histórias criam vida. Descubra agora