Episódio 3 - Parte 3

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O sol batia quente contra a face de Eve. Mantinha os olhos fechados enquanto deitava a cabeça sobre a beira da piscina. As pequenas ondas da água batiam sobre o rosto e tentavam entrar-lhe para o nariz, mas a jovem não saía do seu transe.
Conseguia ouvir a respiração de Alan ao seu lado, que pousada a cabeça em cima dos seus braços cruzados também sobre a borda. 

Não proferiam uma única palavra.
Alan porque estava demasiado embaraçado e tenso pela falta de tensão sexual naquela manhã. E Eve, alimentava o silêncio pois sentia que algo mais andava a preocupar Alan mas não queria pressioná-lo. A rapariga sentia-se completamente inútil e desaproveitada. Até ao momento tinha dado tudo de si a Alan, deixara-o explora cada parte do seu corpo e, ainda assim, ele tinha-a deitado para o lado quando ela mais tentava dar-lhe prazer. Tudo que a jovem queria era mostrar ao namorado que o amava e queria sempre, a cima de tudo, satisfazê-lo e deixá-lo feliz... Mas cada tentativa eram 5 passos dados para trás.

— Devias ir para a escola — disse Alan, sem olhar para Eve.

— Não — Eve respondeu com simplicidade e uma voz neutra, também sem abrir os olhos.

— Vais perder um dia por nada — Alan moveu a cabeça em direção à sua namorada, passando-lhe a mão pelo ombro molhado, quase dentro de água, fazendo-a assim abrir os olhos — Não te prives por mim.

— Não vou perder um dia por nada, é por ti! — Eve tentou não falar muito alto, não queria começar uma discussão, contudo não conseguia esconder a sua magoa — Se tu fores, eu vou. E se tu não fores, eu fico contigo... Tudo que tu fizeres eu faço contigo, independentemente daquilo que tu precises — os olhos de Eve baixaram-se com emoção — É isso que eu quero ser para ti, alguém com quem contar. que faça parte de ti...  

Alan moveu o seu corpo e encostou-se a Eve, enfiando-se por completo na piscina, ficando os dois relativamente próximos, mas não juntos o suficiente para se abraçarem ou mostrarem qualquer tipo de afeto. Não passavam de simplesmente duas pessoas, frete a frente numa piscina, com olhares vagos.

— Eu adoro que me ponhas em primeiro lugar, mas és uma pessoa demasiado especial que chega a ser uma pena não pensares mais em ti de vez em quando — ergueu a mão e tocou-lhe na face triste — Eu até posso não estar bem, mas não é porque eu estou a deixar-me ficar preso no tempo que tenha de te levar comigo. Se tens que andar em frente, anda. Eu vou estar aqui.

Eve não falava nada, apenas abanava a cabeça em negação. Por muito que ela soubesse que Alan era querido e confortador e suficiente para dizer-lhe aquelas palavras, sabia que não eram reais. Eve sentia que o problema era ela, não Alan, pois mesmo nos momentos mais horríveis da vida do namorado, ele sempre olhou para ela com olhos apaixonados, mesmo por debaixo das lágrima, enquanto que agora, simplesmente não existia nada. Apenas um olhar.

— É só um dia mau.

— Como eu vou saber que estás a ter ''só um dia mau'' se tu nunca falas comigo sobre? — afastou-se dele — O que aconteceu com Nós? Onde está a confiança? Ou o mínimo de conversa?

— Eu não tenho que te documentar nada. — terminou, friamente.

Eve abriu a boca e arqueou as sobrancelhas.
Alan nunca tinha chegado a esse ponto, de responder de uma forma tão bruta.
A água tornou-se gélida, mesmo por debaixo daquelas temperaturas  quentes. O corpo de Eve não se mexia e sentia-o desfazer-se sobre a água, como se todas as moléculas do seu corpo se desfizessem num único segundo.

— Tens vergonha de mim? — perguntou-lhe sem papas na língua e uma voz tão fria quanto a dele.

— Não! claro que não. Porque pensas uma coisa estúpida como essa?

— Porque desde que nos assumimos namorados parece que não queres sequer tocar-me. Valorizavas-me mais quando ainda eramos um segredo do que agora, que somos algo verdadeiro...

— O quê? Eu quero tocar-te! És a única pessoa que eu quero ter nos braços Eve! — assegurou-lhe quase aos gritos e com os braços no ar, atirando água para todos os lados — Custa-te muito perceber isso?!

— Sim, custa Alan! — gritou, indo até às escadas da piscina, pronta a sair — Eu vi que tu te tocaste esta noite!

Alan desfez a sua expressão zangada, ficando simplesmente com uma cara neutra.
As sobrancelhas arquearam-se e os lábios remexiam-se, tentando encontrar palavras para justificarem Alan. O rapaz queria a ajuda do seu próprio corpo para o salvar de tal confissão, mas era impossível.

— Tu passaste a noite inteira a masturbar-te Alan! Enquanto pensavas que eu dormia ao teu lado! — a rapariga saiu da piscina e pegou imediatamente numa toalha que tinham pousado no chão. Rodopiou-a violentamente ao longo do seu corpo e embrulhou-se nela — Achas que eu não me apercebi? De como tu mordias os lábios para não suspirar o nome de outra pessoa?

— Eve.

— Não — Interrompeu-o — Eu estou cansada de tentar satisfazer-te. — Secou-se em questão de segundos e retirou o biquíni para se trocar e vestir um sutiã diário, ali mesmo, na piscina do rapaz, onde qualquer vizinho poderia ver o seu corpo — Tu achas que eu simplesmente acordo cheia de tesão pela manhã? Não... 

Alan saiu da piscina, com os braços lançados na direção de Eve.
A jovem costumava ser fácil de acalmar no meio de uma briga amorosa pois, na maioria delas, bastava um abraço para acabar com todos os problemas, sejam elas quais fossem.
Isso tinha atraído sentimentos demasiado tóxicos para a sua vida e agora, Alan caminhava pelo mesmo caminho.

— Amor, eu não quero discutir — tentou abraçá-la mas ela esquivou-se

— E tu achas que eu alguma vez quis? — Ficou parada, agora com o sutiã já vestido — Tu limitaste a isolar-te. Não falas comigo. Quando eu tento falar contigo ignoras... Chega a ser irritante a forma como tu apenas te importas com aquilo que não deves e esqueceste que o que eu mais queria era ajudar-te...

— Querias? — Alan repetiu a palavra, para ter uma explicação do porquê da adolescente a ter proferido no ''passado''.

— Sim, ''queria'' — afirmou, agora com o uniforme escolar à volta do seu corpo — Porque agora tenho que ir para a escola — Pegou na mala e, com uma expressão malvada virou as costas para Alan e caminhou pelo relvado da casa. Até chegar à porta e dizer: — Talvez tu tenhas razão, eu sou uma pessoa demasiado especial para ficar presa contigo no passado.

Bateu a porta com força e o silêncio instalou-se.

A Colmeia - 1ª TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora