Episódio 2 - Parte 5

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—Pai tu não estás a perceber, eu preciso da minha segunda conta bancária aberta, agora! — reclamava Nina, não muito alto ao  telemóvel.

Encontrava-se na biblioteca, sentada. Fazia um pouco de barulho, mas os outros alunos conheciam-na o suficiente para não a mandarem calar.
Colocar ordens sobre Nina era o mesmo que ser castigado para o resto da vida. Se havia alguma coisa que ela nunca esquecia eram rostos, principalmente aqueles que já se dirigiram torto a ela. A rapariga podia ser linda de morrer, mas era podre ao ponto de infernizar a vida de alguém até essa mesma pessoa desaparecer da sua vida para sempre.
Em Blue River era assim que as coisas funcionavam, do jeito de Nina.

— Como se tu alguma vez te importasses com o que é que eu gasto o teu dinheiro. — Nina passou a mãos nos cabelos, um tique nervoso — O México não é uma desculpa para não ativares a minha conta pai!

Eve entra pela biblioteca, com as suas sapatilhas a pisarem o chão de forma barulhenta.
A rapariga avistou Nina e acelerou-se em direção à mesa com os lábios comprimidos, a mala pequena que usavam pelos corredores da escola estava segura pela sua mão, quase a arrastar-se pelo chão de madeira do local.
A bibliotecária estava prestes a gritar a sua frase do costume ''Para entrar tem que preencher a ficha!'', no entanto, quando viu que se tratava de Eve, revirou os olhos e voltou a focar-se na revista que lia.
Vários alunos sentiram-se incomodado com as interferências que recebiam de ambas as alunas.

— Nina? — chamou-a com uma voz direta.

— Não. Eu preciso para já, não posso esperar percebes — Nina ignorou a sua amiga — Mas porque não pai?!

Eve mordeu os lábios, se havia algo que ela odiava ser na vida dos outros, era o papel de figurante. E tudo piorava quando passava de mínimos diálogos a ignorações.
Furiosa, ergueu a sua mala acima da cabeça e atirou-a contra a mesa, esbarrando-se poucos centímetros ao lado do braço de Nina, que tinha o cotovelo pousado na mesa, gritando:

— Ficaste surda foi?

— Deus, Eve — disse Nina, com a mão no coração, chocada com a atitude selvagem da sua amiga — Desculpa pai, eu já falo contigo — De seguida, desligou a chamada e olhou para Eve, julgando-a com o olhar — Deram-te alguma coisa errada para comer foi? Estás a agir como uma louca.

— Falas isso como se eu fosse a única louca aqui.

— Desculpa? Mas eu fiz alguma coisa por acaso?

— Sim, adoro que continues a tratar a tua melhor amiga como se ela não existisse.

— Tens a certeza que estamos a falar da pessoa certa? Porque que eu me lembre foste tu que me ignoraste minutos atrás. Ou vou precisar refrescar-te a memória? — Nina realizou o mesmo cumprimento carinhoso que costumava ter com a sua amiga, porém desta vez, feito na força do ódio.

— Isso não faz sentido. Porque a primeira pessoa a ignorar a melhor amiga foste tu!

— Eve, olha para a minha cara. Tenho uma ruga de 0,009 milímetros a formar-se por causa do teu stress. Por isso diz logo aquilo que tens para dizer e não fiques aí a dramatizar. Vais a baixo e levas meses de skincare contigo.

Nina fez uma expressão de superioridade, passando os dedos pelo seu rosto, que era muito suave e invejável.
Por detrás de Eve, apareceu um rapaz muito mais alto do que ela. Usava óculo e tinha os ombros quase na cabeça. O mesmo olhou para a adolescente, tocando nos óculos que já caíam pelo nariz. Ele ergue o dedo no ar mas não consegue dizer uma única palavra.

— O que foi? — pergunta-lhe Eve, recheada de ódio.

— Ahm... — o rapaz aclara a garganta, ganhando coragem para enfrentar a adolescente — Isto é uma biblioteca e a maioria de nós vem aqui para estudar. Sendo assim, pedimos silêncio, algo que vocês não estão a cumprir.

A Colmeia - 1ª TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora