Capítulo 15

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Pela segunda vez em menos de vinte e quatro horas, sou acordada com batidas na porta. Abro os olhos, sonolenta, deparando-me com o teto áspero e pintado de cal sobre a minha cama. Expiro, derrotada, ainda perdida, sem saber quem sou, onde estou e o que fazer, mas as batidas insistentes na porta me obrigam a levantar. Mesmo contra a minha vontade, porque; hoje; provavelmente; é o seu Josias.

− Já vai... -Tento gritar, porém; minha voz, rouca de sono, sai baixa, e eu decido que é o suficiente. Seu Josias pode esperar mais cinco minutos para me dar um ultimato sobre o pagamento do meu aluguel. Arrasto-me para fora da cama e para o banheiro.

O espelho mostra meu reflexo pálido, meus cabelos desgrenhados e... filha de uma puta! Uma marca roxa e forte no meu pescoço, a desgraçada me marcou! Que mulher infeliz! E gostosa...Infeliz, Meredith! Infeliz! Que te marcou igual gado! Não seja trouxa! Tarde demais, afinal, você sonhou com ela..., de novo... e, dessa vez, mesmo sabendo do que ela é capaz, não foi sexo que você imaginou no seu momento de maior vulnerabilidade, foi abraço e cuidado enquanto vocês dormiam de conchinha... Reviro os olhos para mim mesma.

− Cala a boca, droga! Ninguém se importa, Meredith! Ninguém se importa!

Com os dentes escovados e o cabelo penteado para baixo e todo reunido de um lado só no pescoço, escondendo o chupão, abro a porta. Para minha surpresa, não se trata do seu Josias, mas de um homem vestindo terno e gravata, cheio de sacolas, dessas retornáveis de supermercado, ao seu redor. Pisco os olhos e minha testa se franze involuntariamente, não sou idiota de cometer o mesmo erro duas vezes, então, inclino a cabeça, olhando para ele desconfiada, tentando descobrir se ainda estou dormindo sem dizer nada que possa me envergonhar.

O homem aparenta ter uns quarenta e poucos anos e sorri gentilmente para mim, o que é ainda mais esquisito, porque eu tenho certeza de que, nesse momento, não pareço muito amigável. Isso parece sonho, mas, ao mesmo tempo, porque eu sonharia com um homem desconhecido cheio de bolsas de compras? Tudo bem, a resposta para essa pergunta é, definitivamente, óbvia! Ai, Deus! Eu não vou me beliscar de novo! Duas marcas roxas são o meu limite, e Addison se encarregou de garantir que ele fosse alcançado.

− Bom dia. -A voz calma e espaçada do homem me arranca dos meus devaneios.

− Bom dia. -respondo, esperando que ele me dê explicações ou pistas sobre ser ou não real.

− Dona Meredith? -Levanto minhas sobrancelhas, surpresa.

− A dona eu não sei, mas a Meredith sou eu mesma.

− Eu me chamo Luiz. Trabalho para a senhorita Forbes, ela me pediu para trazer essas encomendas para a senhora. -Olho para o homem, depois, para as várias sacolas ao seu redor e finalmente encontro a certeza: realidade. Isso é muito real, porque eu não sonho com Addison sendo babaca, afinal, a realidade já é esmagadora o suficiente. Sonho é sonho e eu jamais estragaria os meus. Ele tem que estar de brincadeira...

− Isso são... compras? Compras de supermercado? -questiono, forçando-me a duvidar de que ela teria feito isso...

− Sim, senhora! Ela me entregou uma lista, mas me disse para pedir que a senhora conferisse se precisava de algo mais antes de eu ir embora, se algo estiver faltando, eu posso ir buscar.

Mais uma vez, passo meus olhos por todas as bolsas enormes, dessa vez, conto-as. Doze. Há doze sacolas enormes cheias de compras.

Inacreditável. É impossível que esteja faltando algo ali, mas, com certeza, está sobrando. Luiz aguarda minha resposta enquanto eu pisco, confusa. Ao mesmo tempo em que não posso negar que o gesto foi atencioso, preciso obrigar meu cérebro a entender que eu não pedi a caridade de Addison e, que se isso não é caridade, é uma mensagem alta e clara sendo esfregada na minha cara, uma que diz em alto e bom som, que independentemente das minhas palavras de ontem à noite, sou sua puta, e ela vai fazer o que bem entender. Pelo pouco que a conheço, aposto na segunda.

Contrato de Prazer || MeddisonOnde histórias criam vida. Descubra agora