Capítulo 5

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O CARRO DESLIZA pelas avenidas de Seattle, saindo da avenida e indo na direção dos bairros Jardins, deixo minha cabeça pender para trás e mantenho meus olhos fechados. Com as mangas da camisa dobradas, os primeiros botões abertos e o paletó e a gravata jogados ao meu lado no banco do carro, respiro fundo, ansiando pela minha cama.

O celular vibra no meu bolso, despertando-me, penso em ignorá-lo, mas me lembro de que minha mãe me enviou uma mensagem hoje de manhã e eu ainda não respondi. Assim que desbloqueio a tela, a notificação de um novo e-mail chama minha atenção, afinal, Norma disse que havia bloqueado novas notificações de e-mail. Franzo as sobrancelhas, confusa. Isso não faz sentido, se ela tivesse esquecido, com certeza eu teria muito mais do que uma única notificação. Ao abrir o aplicativo, já logado na conta comercial, eu me surpreendo ao me deparar com a caixa principal vazia.

Será possível? Mas ninguém nunca envia e-mails para o meu pessoal... Basta deslizar o dedo pela barra de notificações para constatar que eu estava errada, aparentemente, alguém me enviou, sim, um e-mail para a conta particular, mas isso nem é o mais surpreendente. O que me faz arquear uma sobrancelha e me sentir ainda mais confusa sobre a situação inusitada; é o título da mensagem eletrônica: Vaga para assistente pessoal. Mas que porra...

Curiosa com a primeira situação inocentemente inesperada em meses, abro o e-mail. Porque, ultimamente, todas as surpresas que tenho recebido são problemáticas. Falha de fornecedores, contratos vencidos, contas inconsistentes... Merda atrás de merda. Meus olhos acompanham as palavras e minhas sobrancelhas se franzem, é realmente um currículo. Leio a primeira parte, com os dados pessoais da remetente. Que perigo! Isso poderia ter ido parar na mão de um psicopata, ao invés de nas minhas... A mulher mora em Paraisópolis? Que merda...

Vinte e dois anos... Meredith Grey... objetivo... espera, o quê? Leio o texto pelo menos três vezes para ter certeza de que não estou vendo coisas; ou imaginando ambiguidades, e estou quase me convencendo disso, quando chego ao último item descrito na sessão de Formação do documento e eu rio. Que porra é essa?

Se o primeiro parágrafo deixou dúvidas sobre a existência de um duplo sentido, o terceiro não deixa nenhuma! Está, literalmente, dizendo que a mulher faria qualquer coisa que lhe fosse ensinada. Uma risada baixa me escapa, e minhas sobrancelhas que já haviam relaxado, voltam a se franzir levemente enquanto eu balanço a cabeça em negação. De onde isso veio?!

Finalmente, chego à última sessão do currículo, o primeiro item me faz arregalar os olhos, o último me faz perder completamente o controle, e eu gargalho. O riso brota no fundo da garganta e sai descontrolado, fazendo com que eu me contorça e com que meus olhos lacrimejem. Rio; como há muito tempo eu não ria. Rio até perder o ar, começar a soluçar e precisar me obrigar a me acalmar.

− Mark, seu filho da puta! -Preciso dizer em voz alta, mesmo que só para eu mesmo escutar. Eu sabia que ele era uma vadia, mas; porra! Olho para o celular nas minhas mãos, acendo a tela e releio a última frase "Pepeca virgem pronta para uma mudança de status". E quando leio as últimas linhas, um "contrato de prazer" ridiculamente escrito, perco a batalha interna que vinha travando, o riso volta a irromper da minha boca, até que minha barriga esteja doendo novamente, e eu levo alguns minutos para perceber que o carro está parado; e que minha porta está aberta enquanto Luiz, meu motorista, me encara com uma expressão divertida no rosto.

Respiro fundo várias vezes, esforçando-me para recuperar o controle pela segunda vez, nem me preocupo em reunir minhas coisas espalhadas pelo carro, apenas me viro, passando pela porta e fazendo um aceno para Luiz, porque se eu precisar explicar o que está acontecendo, provavelmente terei outra crise de risos. Faço o caminho até a entrada de casa, balançando a cabeça para os lados, incrédula. O infeliz fez um e-mail falso só para me sacanear. Deve realmente estar com tempo sobrando... Mesmo sabendo que a vadia do Mark com certeza está na noite a essa hora e não vai me responder, mando uma mensagem para ele:

Contrato de Prazer || MeddisonOnde histórias criam vida. Descubra agora