Capítulo 18

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− Boa noite, seu Josias. - digo e sorrio gentilmente, em uma tentativa inútil de amenizar seu claro mau humor, mesmo sentindo toda a umidade da minha boca sumir instantaneamente.

− Boa noite, Meredith. - responde duro e eu engulo em seco.

− O senhor quer entrar? - pergunto, já dando espaço para que ele passe pela porta, mas o homem permanece imóvel no portal. Eu o encaro duvidosa; e, sem que possa me impedir, meus lábios se movem automaticamente de um lado para o outro. Troco o peso do meu corpo de perna, incomodada com a postura rígida de seu Josias. Ele nunca me tratou assim antes... Você nunca deveu tanto assim antes...

− Não, eu não quero. Vim aqui só pra te dizer que você tem até amanhã ao meio dia pra esvaziar a casa, ou eu vou achar quem esvazie pra você.

Meus olhos se arregalam em choque:

− O-o q-quê? -São as únicas palavras que eu sou capaz de dizer.

− Exatamente isso, menina. Você tem até amanhã ao meio dia pra tirar suas coisas da casa, ou alguém vai vir aqui tirar. - reafirma e eu me apavoro, porque sei que isso é perfeitamente possível. A polícia não vai entrar aqui, então eu sei bem de que tipo de “ajuda” para tirar minhas coisas da casa ele está falando, do tráfico. Meus olhos ardem e meu coração, que antes batia acelerado, agora, agride meu peito com pancadas no lugar de batidas.

− Seu Josias, pelo amor de Deus! Eu, eu...

− Nem tenta, menina! -me interrompe: − Eu fui paciente com você, muito paciente! Já são três meses de aluguel atrasado, mas eu fui paciente, porque achei que você fosse uma boa moça passando por um momento difícil, mas não é o caso; e eu não vou aceitar isso na minha casa! -Suas últimas palavras saem mais altas e seu rosto está vermelho, contorcido em uma careta de desprezo que nem mesmo nos meus piores dias alguém dirigiu a mim. Eu o encaro confusa, sem fazer ideia do que ele está falando e do, por quê, do dia para a noite, mudar completamente seu jeito de me tratar.

Ele nunca foi um amigo, mas sempre foi respeitoso e; até mesmo; amigável. Mas isso?

− Seu Josias, por favor... eu... não estou entendendo... – Eu me agarro à porta aberta, precisando de algum apoio para não desabar no chão. Minha voz sai em um sussurro baixo, esmagada pela sensação de desespero e pelo frio que se alojou em minha espinha. Deus, se eu tiver que sair daqui amanhã, para onde eu vou? Eu não tenho nenhum lugar para ir, nenhum lugar... Talvez os pais de Amélia deixem que eu fique em sua casa por uns dias, mas e depois? A aflição toma conta de mim e as lágrimas rolam.

− Não está entendendo? Você vai negar que uma mulher esteve aqui na quinta-feira à noite e saiu daqui com a camisa ainda aberta e o resto das roupas nos braços, menina? Vai negar que no dia seguinte, um carro chique veio aqui e deixou um monte de compras pra você? Vai negar?

Minha boca se abre em horror absoluto. Olho para o homem à minha frente tomada por completo desespero, ele está dizendo o que eu acho que está dizendo? Mas, Deus! Como? Como ele saberia de algo assim?

− Seu Josias...

− Você nega, menina? – interrompe-me, antes que eu possa concluir um pensamento e transformá-lo em fala.

− Não, mas seu Josias...

− Então não tem conversa! A rua inteira está falando disso, mas na minha casa não! Eu não aceito garota de programa na minha casa! Você não tem vergonha não, menina?! Coitada da sua mãe se ela for viva! Que desgraça ter uma filha que faz uma coisa dessas... -corta minhas palavras e sua agressão equivocada e gratuita rompe as últimas barreiras que mantinham minha dignidade de pé desde que ele começou a me acusar. Ouvir as palavras que vinham me assombrando há dias, na boca de outra pessoa, ainda mais com esse tom, transformando todos os meus medos em realidade, ter minha mãe mencionada, a vergonha que ela sentiria de mim se soubesse que eu fiz algo desse tipo... Perco a capacidade de falar e o choro sai de mim como uma cachoeira, as lágrimas são tantas que minha visão embaça e tudo o que eu posso fazer é abraçar meu próprio corpo. Choro, choro pela injustiça, pelo medo. Choro, porque amanhã a essa hora, eu já não vou ter mais um teto para morar. Choro por saber que a rua inteira está dizendo que eu estou dormindo com mulheres por dinheiro. Choro, porque a vida arrancou de mim a última coisa que eu guardava e protegia, meu orgulho de quem eu sou e de quem eu jamais seria.

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