Capítulo 23

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Ele me olhou fixamente

- Se depender de mim vai.

Fiquei evitando ter tanto contato físico, já não era a mesma coisa sentar muito perto, nossas brincadeiras bestas de ficar se batendo, se pegando, o pessoal foi embora no final do dia, enquanto eu estava limpando tudo, me peguei pensando em como era bom ter " amigos ", a Aysha tinha acabado de voltar do quarto tinha ido ficar com o Júlio, ela me chamou de canto pra falar que ele se declarou, disse que estava apaixonado, pensando em se mudar pra lá por causa dela, perguntei qual era o problema, ela falou desanimada

- Eu nunca vou sentir o mesmo, a única pessoa capaz de ter o meu amor morreu. Não é justo com ele continuar!

Falei que não entendia muito bem, mais que talvez ela devia tentar, ela começou rir

- E ele lá é um bom partido? Não é!!

Concordei que não era mesmo, depois de limpar tudo fui pra casa, estava cansada, eu ainda me sentia fraca, um pouco mole e parei de trabalhar por causa disso, naquela semana o Neto foi pra casa da avó, meu tio conversou comigo sobre eu me mudar, sozinha, disse que tinha uma amiga da família que poderia me ajudar, perguntei se era mais perto ou longe da família, que eu nunca nem vi, só ouvia falar, ele ficou chateado

- Você sabe que não pode voltar, é perigoso. Eu conversei com ela e agora você já é quase maior de idade e vai poder...

Interrompi com espanto

- Conversou?! Você me prometeu que ia deixar eu falar também, já fazem meses.

Ele disse que não era fácil e que eu precisava ser paciente, fiquei muito chateada nem quis mais conversar, raramente eu falava com a minha mãe por ligação, não era capaz de lembrar dela, nunca vi foto, só conhecia a voz, eu era tão ingênua que acreditava em absolutamente tudo o que ele dizia e também era completamente leal, guardando nossos segredos.

Depois que ele dormiu, sai escondida, fui pra cidade, só vi um casal conhecido no lugar que a gente sempre ia, minha esperança era encontrar a Aysha, ainda estava cedo, fui olhar a corrida que ia começar, fiquei sozinha um pouco, vi de longe o Noah chegando, fiquei encarando tentando criar coragem de ir conversar, ele estava cercado de gente, fui um pouco mais perto fiquei encostada olhando pra ele fixamente, ele percebeu porque me olhou várias vezes enquanto conversava e eu não deixei de o encarar assim mesmo, já estava desistindo da minha idéia, quando vi a hora e decidi ir embora, sai andando, ele correu até mim, falou entrando na minha frente

- E aí ruivinha, já vai?!

- Ficou me olhando tanto que eu até achei que você ia chegar em mim.

Parei séria

- Oi Noah.

Ele disse que a Aysha estava bem longe, viajando, falei apreensiva

- Eu vim pra falar com você.

Ele disse cheio de graça pegando no meu cabelo, que estava lá pra me ouvir, e que ficou imaginando várias coisas pra fazer comigo, desde que o deixei maluco olhando daquele jeito, fui me esquivando

- Preciso de dinheiro!

Ele respondeu surpreso

- Beleza, quanto?

- Tá metida em algum problema?

- Se eu puder ajudar, tamo aí.

Falei que não queria nada de graça, que só precisava de um trabalho que me rendesse mais do que um salário mínimo, em menos de um mês, ele ficou olhando confuso

- Como assim? Eu posso te emprestar um pouco, mas pra que você quer tanto dinheiro?

- É por causa do que aconteceu no outro dia? Precisa ir no médico?

Já arrependida, respondi frustrada

- Deixa pra lá, só esquece isso e não fala nada pra Aysha.

Ele me segurou pelo braço, dizendo que queria me ajudar, mais que não podia sair me dando tanto dinheiro assim do nada, me soltei quase chorando

- Eu sei, pessoas como você nunca dão nada a ninguém sem querer algo em troca.

- E olha só, antes de fazer qualquer piadinha de mau gosto, saiba que eu prefiro morrer, do que me vender e ficar com alguém por dinheiro.

Ele não gostou falou bravo

- Como se você valesse muito só porque é virg em, se enxerga Rebeca, eu posso ter qualquer mulher que eu quiser, uma put a que dá de dez a zero em você, cobra menos que a metade de um salário mínimo.

Aquilo me doeu e muito, me virei pra ele limpei as lágrimas, sorri irônica

- Que ótimo né?! Porque dinheiro não compra tudo e nem todos estão a venda.

- Deve ser difícil né Noah?!

- Ter tudo e não ter nada, porque com certeza sem esse seu dinheiro, ninguém aqui nem saberia quem você é.

Ele ficou muito bravo, me chamou de louca, disse que nunca iria oferecer, tentar nada assim com alguém como eu e que se eu pensava aquelas coisas dele, estava só mostrando que não era tão bobinha quanto fingia ser.

Deixei ele falando sozinho e fui embora caminhando revoltada com a vida, começou chover um temporal, era muito longe e nem tinha mais ônibus, quando entrei na estrada de terra fiquei mais atenta ao movimento, não tinha ninguém nem passando, resolvi parar por causa dos raios e trovões, me escondi em baixo de um galpão abandonado era um bar a muitos anos, mais tinha fechado, eu estava tremendo de frio batendo o dente até, vi um carro se aproximando correndo dirigindo de qualquer jeito...

Paraíso Sombrio ( CONCLUÍDO )Onde histórias criam vida. Descubra agora