Parece que ela nunca esteve tão cansada na vida como nesse momento parada em frente o elevador, mas ultimamente, esse sentimento está presente todos os dias. Meredith, tem vivido no automático: filhos e trabalho, mas, pra ela, não poderia ser melhor. Até poderia, mas se pensasse toda vez no que poderia ser diferente, ficaria frustrada, não tinha tempo pra frustrações.
Ainda esperando, ela pensou na situação que sua casa deve estar, com quatro furacões por lá, Zola, Bailey, Ellis e Amélia! Por incrível que pareça, o Scout não dá trabalho algum, é um bebezinho adorável. Hoje a Amy estava de folga, mas provavelmente estaria mais cansada do que a própria Meredith, apesar das crianças estarem boa parte do tempo na escola, ainda não é fácil cuidar de um neném, e ela anda avoada, por causa do Link, ninguém sabe dizer se eles terminaram ou não, nem os mesmos sabem. Ele a pediu em casamento pela quarta, ou terceira vez, e ela disse não, pela quarta ou terceira vez.
O barulho do elevador a despertou dos pensamentos, ela entrou no mesmo e escutou uma voz familiar chama-la pedindo para que segurasse a porta. Assim fez e o dr. Hayes a alcançou.
— Ei, Grey — Ele parecia eufórico, Mer o cumprimentou com um sorriso — Eu queria que você fosse em um lugar comigo.
— Precisa ser rápido, hoje é meio aniversário da Ellis. — Ela disse recusando gentilmente a mão que ele lhe havia oferecido, não andava mais de mãos dadas, se desfez de todos esses detalhes de relacionamentos depois do último.
— E isso é importante? — Ele perguntou rindo.
— Na verdade, muito. — Ela sorriu de volta.
— Será que uma data comemorativa não seria o momento perfeito pra eu conhecê-los?
— Apareça lá hoje e você vai receber muito choro e drama italiano. — Ela riu só de imaginar se apresentasse outro alguém no dia que era único e exclusivo do Andrew. — Ainda é cedo pra isso, ok?
Ele assentiu com a cabeça. Não fazia tanto tempo que eles estavam juntos, ainda não era sério, mas caminhava pra ser.
O elevador alcançou o terraço, onde os dois caminharam, ele prestava atenção no rosto dela, mas é indescritível, e o Hayes gosta disso na Meredith, gosta de não conseguir nunca saber o que ela pensa, ele a vê como um mistério a ser desvendado. Porém, em uma fração de segundos, ele consegue enxergar tristeza nela, porque de repente, ela está. Começou a falar sem cessar sobre todos seus sentimentos enquanto assistia a loira caminhar até o parapeito, estava despejando todo aquela paixão em cima dela, sem nem perceber que ela sequer o ouvia.
Há pouco mais de dois anos, Grey estava naquele terraço, com Andrew, e é nele que ela pensa nesse momento. Seus pés doem, na verdade, todo seu corpo dói, por ele não estar junto à ela, e nunca mais vai estar.
Deluca morreu, já fazem alguns meses, foi esfaqueado e Meredith às vezes sente uma parcela de culpa, imagina como as coisas teriam sido se ela tivesse acreditado nele naquele maldito dia que o mesmo acusou Opal de tráfico humano... Provavelmente, hoje, nesse terraço, seriam os dois rindo, e não Comarc a encarando preocupado com a lágrima que saiu dos olhos azuis de Mer. Ela seguiu em frente, em um tempo considerável rápido demais, mas ela não queria passar mais anos sozinha como foi depois da morte do Derek, então, num impulso do luto, ela aceitou sair com o Hayes, que sempre pareceu uma boa opção. Sempre pensou que seria fácil com ele, que ele seria compreensível por também ser viúvo e ser pai, mas as vezes, ela se sentia forçando uma situação com um estranho.
Por um momento, ela sentiu o cheiro de seu ex namorado, conseguiu visualizar o rosto dele, até escutou aquela risada linda que só ele tinha... E sentiu raiva, raiva de si mesma, raiva da Bailey, da Carina, do Owen, da Teddy, da Opal, da Cindy, daquela maldita hérnia, do criminoso que o esfaqueou, raiva do Andrew e sua maldita síndrome de herói.
Morrer é patético, morrer é extremo demais, é um exagero, em um dia você tem planos, está construindo sua carreira, realizando seus sonhos e tudo acaba, sua vida chegou ao fim. Você vai embora da festa mais cedo, sem se despedir de ninguém, sem ouvir sua música favorita, sem chamar a garota mais linda pra dançar.
"Eu não sei o que acontece agora, Meredith. Mas não importa o que seja, quero que saiba que eu nunca me senti tão notado até você me notar. Nunca me senti tão inspirado até você me inspirar. Você me fez querer ser uma pessoa melhor."
Andrew amou Meredith até seu último segundo, e ela sabe, isso a conforta, porque também o amava, e sente falta dele, dos olhos verdes que a encaravam todos os dias, das mãos grandes que tocavam sua cintura, do cabelo enrolado nos dedos dela, dos beijos roubados nos corredores do hospital, do caos que eram juntos, do cais que ele era pra ela.
Um toque sutil no braço de Mer a faz despertar daquela confusão de pensamentos.
— Ei, eu entendo ser cedo pra você, mas eu só precisava que você soubesse, Mer. Desculpa, não chora. — Ele falou, mas ela não fazia ideia do que ele disse antes.
— O que? — Ela disse limpando as lágrimas que insistiam em cair.
— Você não estava me ouvindo?
— Eu me distrai... Olha, eu preciso ir. Segunda conversamos, ok? Bom final de semana. — Ela saiu andando ignorando o que ele resmungava.
●
Em casa, Meredith foi recebida com abraços de seus filhos, e um sorriso lindo de Amélia que balança Scout de um lado para outro. Nesse momento, o cansaço e a dor sumiram, tudo de ruim desapareceu, ela estava em casa. Não existe nenhum lugar mais confortável do que o abraço daquelas crianças.
A noite foi agitada, pediram pizza, tomaram uma quantidade exagerada de gelato de pistache, as crianças obrigaram o Link a tocar o violão do Andrew enquanto cantavam desastrosamente uma canção que deveria ser em italiano, apenas Zola conseguia acertar as pronúncias das palavras. Depois eles assistiram um filme da Disney, Soul, que fez as três crianças chorarem e fazerem várias perguntas que ela não sabia como responder. Então, no final da noite, ela os presentou como uma foto dos três com ela e o Andrew revelada, que eles colaram na geladeira animadamente.
Depois de colocar os três na cama, tomou um merecido banho quente, e voltou ao andar de baixo onde Amélia estava sentada.
— Ei, o Link já foi?
— Sim, e levou meu bebê. — Ela fez beicinho. — Vivo como uma divorciada e eu nem casei.
— Sinto muito por isso. — Ela passou a mão pelo cabelo dela e se sentou ao lado da mesma. — Cormac queria vir aqui hoje conhecer as crianças.
— Seria terrível.
— Com certeza. Ah, eu não sei se essa relação tem futuro, não quero envolver meus filhos nisso, sabe?
— Sei, envolver filhos é uma péssima decisão.
— Pois é, eu envolvi meus filhos antes e agora tenho que manter viva, além da do pai deles, a memória do tio Andrew... Não vou fazer isso de novo, não mesmo.
— Você conheceu os filhos dele?
— Não, mas ele disse que já comentou que está saindo com alguém... Não acho que as crianças reagiram mal, talvez um pouco porque é tudo tão recente, mas, eu que não quero.
— Melhor você ser sincera com ele, na verdade, eu acho melhor você terminar com ele, porque mesmo que você deixe claro que quer algo casual, em qualquer demonstração diferente, ele vai achar que você mudou de ideia e quer sim casar com ele.
— Agora a gente tá falando do Link? — Mer perguntou confusa.
— Ah, sei lá.
Elas riram juntas e continuaram conversando mas dessa vez sobre o trabalho. Quando já virou dia seguinte, elas foram para seus respectivos quartos e deitaram para dormir, mas Meredith não conseguia desligar, o dia tinha sido intenso demais, muitas memórias vieram à tona, a saudade preenchia o lado dele da cama, seria tudo tão mais fácil se ele estivesse ali do lado dela dando -lhe amor e dizendo besteira.
Em todo canto da vida dela ainda tinha um pouco dele. No quarto tinham roupas, na cozinha haviam utensílios que só ele sabia a função, na sala o violão, nas crianças tinha as manias que elas pegaram dele, no hospital era o nome dele escrito em vários lugares, e nela, tinha uma saudade incurável.

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Favorite Crime - Reescrevendo
أدب الهواةA vida após a morte continua? Para Andrew Deluca, sim, já que na verdade nunca conheceu a temida morte, passou perto dela, mas não a conheceu. Depois de ser cruelmente esfaqueado por um criminoso, sua vida corria mais perigo do que poderia imaginar...