"sinta a chuva cair"

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Dias se passaram

Dias que eu não durmo, não como, não saio desse quarto.

Olho todos os dias para a janela aberta daquela mansão. Dia após dia, noite após noite.

Meus olhos brilhavam por 1 segundo quando via as criaturas incríveis que viviam aqui e queria conhecê-las, e finalmente poder me sentir livre aqui.
Mas não consigo sair... Mal consigo... Respirar.

O sol estava se pondo. Era um lindo fim de tarde chuvoso.
Levantei da cama e fui novamente observá-lo como sempre... Sempre fazia.

Caminho lentamente, focada na direção da grande janela com varanda que escorria pingos e mais pingos de chuva.

Escuto o caminhar firme dos meus pés gelados...

Abro a janela e o vento forte bate em meu rosto, respiro fundo sentindo o cheiro da terra molhada...
.
-Corraaa- Elan gritava catando o máximo de roupas no varal do quintal. O chão molhava com cada gota que caía... Sentia meus pés gelados...

Eu ria do seu desespero, a felicidade mais simples estava literalmente estampada em meu rosto molhado, e logo após no dele pois de tanto que ri escorreguei no chão.
.
-Conseguiu jantar a comida que deixei aqui pra você? -Castiel me acorda para o presente.

-comi... Obrigada. -falo sem me virar, só me encaminho para a varanda enquanto sinto a chuva disfarçar minhas lágrimas.

Os pratos ainda estavam lá, cheios de comida já gelada.
Nem disfarcei, escondi ou sequer me importei que ele visse minha mentira descarada.

-o que faz na chuva Gabriela? -Seu tom muda para impaciência.

-tentando me refrescar. - Digo com um tom sarcástico e torço pra que ele me deixe novamente só.

-chega! -Ele braveja e anda até minha direção apressadamente. Me pega pela mão e me vira rapidamente olhando em meus olhos. -o que acha que está fazendo? Acha que ficar sem comer ou dormir, tomar chuva, se isolar vai trazer ele de volta? Sinto lhe dizer Gabriela mas não vai. Não é mais só a sua vida que tem que se preocupar... Ou sua saúde... está carregando um filho dentro de sí agora, seu filho com o amor da sua vida então porque além de ficar aqui esperando a morte chegar pra vocês dois não se levanta e luta como sempre fez?... Não posso deixar que morra mais do que já morreu... Ainda estou aqui, ainda tem alguém com você e em breve terá um pedaço de Elan com você então por favor não desista por mais que nada esteja como você merecia.

-não irei ficar com a criança! -respondi friamente ignorando todo o resto de seu sermão.

-oque? Como assim?-Questionou sem parar.

- não posso criar uma criança aqui, não posso suportar a dor de viver o sonho dele sem ele estar presente, me pede pra lutar como sempre lutei mas não quero mais, pois de nada adianta... -sorri e quando ia me virar para voltar a sentir a chuva me cobrir sinto Castiel me puxar e me colocar em seus ombros.

Grito, bato em suas costas até cansar e percebo que ele está me levando em direção ao banheiro do meu quarto...

Me coloca contra a parede do box e vejo seu rosto enfurecido mas seus olhos me demonstram uma tristeza muito profunda e pela primeira vez me sinto curiosa sobre a história que nunca ouvi... A de Castiel.

Ele liga o chuveiro quente enquanto eu esperneio como uma criança birrenta. Choro, grito, até que ouço outro choro no banheiro... O dele, daquele Arcanjo marrento e chato.

-não posso deixar você desistir, prometi a seu pai que ficaria sempre do seu lado te protegendo, sua garota teimosa. Não percebe o quanto me importo? -Ele disse enquanto as lágrimas escorriam.

Eu estava exarcada mas dessa vez era da água quente do chuveiro... E do silêncio que se instalou.

-quando fez essa promessa? -perguntei meio rouca e paralisada

Ele me olhou surpreso, como um adulto que consegue finalmente fazer a criança parar de chorar.

-Quando quebrei a confiança do meu melhor amigo, de meu irmão, do seu pai Gabriela... Fui eu quem o denunciou sobre o amor secreto com Lilith e sobre você... O fruto do amor proibido...

A filha da Lua e do Sol 2/ O recomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora