Capítulo 2

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Acabei dormindo a maior parte do voo no ombro de Nick. Nós dois estávamos sempre nos provocando e brigando, mas nunca era sério. O amor que temos um pelo outro é de outro mundo, desde que papai morreu no ano retrasado, ficamos sozinhos em Nova Iorque e nos aproximamos mais do que já éramos antes. Nick é muito mais que meu irmão, ele é minha vida, sem ele não vivo. Um pelo outro sempre, ele me cuida e eu cuido dele.
- Está dormindo? -- Nick perguntou e eu despertei rápido.
- Não mais.
- Te acordei? -- Perguntou rindo.
- Como sempre, né Nicholas. -- Bufei o olhando.
- Será que a dona Emma vai estar no aeroporto nos esperando? Estou morrendo de saudades dela.
- Acho que não, Nick. Quando mamãe ligou avisando sobre Fred ela estava muito abalada. Acredito que ela e John estarão em casa.
- Fredrik nunca achou que fosse ir longe demais nas drogas. -- Nick falou triste. Os dois tinham quase a mesma idade e eram muito amigos. Nicholas estava se segurando para não demonstrar que estava também muito abalado com a morte precoce de Fredrik.

Quando saímos da sala de desembarque olhamos em volta e não havia ninguém nos esperando, então fomos direto para a saída do aeroporto.
- Olha lá, seu irmãozinho. -- Nick debochou enquanto descíamos a escada rolante cheios de malas. Por incrível que pareça quem nos esperava lá embaixo era Bill. Quase virei os olhos bufando, mas não queria ser eu a que começaria com o pé esquerdo com ele. Então me segurei e fiz cara de paisagem, mas apertei o braço de Nicholas e sussurrei discretamente:
- Para de falar isso só para me irritar. Não estou achando graça nenhuma, Nicholas. -- Falei séria. Nicholas e eu sabíamos até onde poderíamos ir nas brincadeiras um com o outro e ele percebeu que era hora de parar.
- Billie, e aí cara! Que saudades. -- Nick e Bill se abraçaram demorado e se emocionaram pelos fatos ocorridos e o motivo de nossa presença aqui. Bill estava diferente, bem diferente desde a última vez que o vi. Havia crescido, se tornado um homem, bem bonito eu diria, uma pena ser tão insuportável do jeito que é.
- Oi Ailyn, obrigado por ter vindo. -- Ele me abraçou também. Estranhei, mas Bill estava realmente mal. Apenas retribuí o abraço e resolvi que dali em diante até o dia que eu voltar para casa eu iria esquecer tudo que havia acontecido entre nós dois ou pelo menos tentaria.
- Eu sinto muito, muito mesmo por Fredrik. -- Falei ainda abraçada nele, eu podia sentir Bill soluçar baixinho. Ele realmente estava muito frágil e vulnerável.
Secando as lágrimas fomos até o estacionamento rumo a casa de minha mãe. Fazia muito, muito frio e nevava, o tempo era escuro mesmo sendo dia. A Suécia é linda, mas esse inverno daqui é muito depressivo. Passa meses do ano sem o sol se pôr e meses sem ele aparecer.
- Vamos nos preparar por que está marcando uma tempestade essa semana aqui. -- Bill falou dando partida no carro.
- Como está a mamãe? -- Perguntei.
- Sua pergunta é um pouco óbvia, Ailyn. -- Soltou Bill. Já vi que ele não tinha mudado nada, já me deu ranço.
- Custa responder? Estou perguntando no geral, não sobre hoje! -- Larguei.
- Calma crianças, não briguem. Vocês dois nem tem mais idade para isso. -- Nick falou rindo.
- Sério cara, olha o que ela perguntou. -- Bill falou irônico. Os dois começaram a conversar sobre outros assuntos e simplesmente Bill me ignorou. Confesso que ainda tenho esperança em ser apenas o momento que ele está passando.

- MÃE! -- Gritei quando desci do carro e vi ela na porta. Corri e nos abraçamos, chorei igual criança. Eu estava morrendo de saudades dela. Por conta da pandemia não tinha como vir para Suécia vê-la nos últimos meses e nem ela ir para Nova Iorque.
- Filha, nossa que saudade. Filho vem cá! -- Ela abraçava forte eu e Nicholas. Nunca imaginei ficar tanto tempo longe dela.
- Vocês estão tão lindos, meus amores. Nick você está um homem! -- Ela acariciava o rosto dele feliz e emocionada.
- John! -- Falei quando o vi descendo as escadas.
- Filhinha, vem cá me dar um abraço! -- John sempre foi um cara muito legal comigo e Nick, nos tratou sempre como filhos legítimos dele, eu senti muito quando fui embora daqui, senti uma falta imensa dele.
Olhei para a porta e vi Bill trazendo as malas de Nicholas, mas as minhas ele deixou lá na neve na rua fora do carro. O olhei e ele apenas sorriu irônico.
- Você não cresce mesmo, não é Bill? -- Falei baixo passando por ele.
- Não pra você. -- Ele deu de ombros.

Um De Nós Está MentindoOnde histórias criam vida. Descubra agora