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4 meses depois...

Maria.

Terminei de arrumar casa e me joguei no sofá.

Barão chegou e eu vi que ele não estava normal. Fiquei encarando ele e ele não olhou nos meus olhos.

Parei os olhos no relógio e eram 11:40 da manhã, e ele estava entrando em casa. E totalmente drogado, Barão agora vive para cheirar cocaína.

Já passou 4 meses, e ele continuou da mesma forma. Acho que viramos colegas morando dentro de uma mesma casa, nem amigos, porque com amigos a gente pelo menos divide as coisas que estamos pensando, ou que estão nos deixando mal.

E continuamos da mesma forma, desde o aborto estamos sem transar. Eu não me sinto desejada, não sinto mais o desejo da parte dele que eu sentia, o fogo sabe ? Eu entendo que relacionamento não se faz só pelo sexo, mas é a intimidade de um casal, é oque faz deles um.

As vezes que ele não está drogado ficaram cada dia mais raras, e junto fazendo que ele quase nunca esteja em casa.

E quando eu tenho a sorte dele chegar sem estar drogado, ele é outra pessoa ! Brinca comigo, me olha nos olhos, faz cócegas. Parece até que nós somos irmãos.

Mas nós não somos, e eu não aguento mais viver assim. Nós dormimos na mesma cama e estamos distantes. Eu me sinto quebrada por dentro, me sinto ferida como mulher. Sinto falta dele brincar comigo, dele me segurar, dele me beijar, me abraçar, mas me olhando como a mulher dele.

Entrei no quarto e ele já tinha tomado banho e estava dormindo.

Tomei banho e almocei, com meu coração apertado dentro do peito.

Eu sempre tento conversar com ele, sempre quero falar sobre oque vivemos. Eu acho diálogo importante, é um pilar muito forte em um relacionamento. Eu amo ele, e quero que isso se resolva sabe ?

Nesses meses foram muitas tentativas de conversas, algumas ele teve que sair bem na hora, outras tinha que dormir para trabalhar, outras ele só fingiu que não tinha escutado. Sempre uma fuga.

Quando vi que ele estava acordado, eu entrei no quarto e me sentei na cama.

Ele segurou minha mão e deu um beijo.

-Eu queria conversar-falei olhando pra ele

-Pode falar, Maria-deu vários beijinhos na minha mão.

-Eu quero resolver as coisas, eu quero que você me fale aonde nós podemos mudar, me fala oque você sente, eu vou te falar também. Não quero deixar nosso amor morrer, não quero deixar esfriar...-falei-eu quero conversar porque eu te amo, e viver como sua colega está me magoando, porque eu quero ser sua mulher, eu quero que seja pra mim que vc recorra quando precisar, eu quero ser pra você, oque você é pra mim.

-Você acha que eu não te amo ?-me olhou

-Eu sei que você me ama, mas só dizer não é suficiente, amor não é só amar, tem que ter conversa, tem que ter confiança, tem que ter intimidade, cumplicidade...-falei. Ele levantou, beijou minha testa e foi andando até na porta.

-Barão, olha pra mim-pedi. Eu não aguentei segurar, as lágrimas que estavam nos meus olhos transbordaram.

Ele parou e me encarou. Fiquei olhando dentro dos olhos dele por alguns segundos, ele balançou a cabeça, virou as costas e saiu.

As panelas que estavam encima do fogão eu guardei na geladeira, peguei todas as roupas que estavam no varal e dobrei, depois guardei no guarda-roupa.

Troquei os lençóis da cama e deixei ela arrumadinha.

Peguei meus cremes dos banheiro e coloquei na mochila, abri o guarda roupa e pegue os meus perfumes e meus acessórios.

Fechei a mochila e me abaixei, puxei as minhas malas debaixo da cama e comecei a guardar as minhas roupas.

Quando terminei de guardar tudo, eu olhei ao redor.

Liguei pra Tainá tentando não chorar, ela disse que estava saindo do trabalhado e que viria me buscar. Disse que era pra eu ficar na casa dela.

Coloquei a mochila nas costas e tirei as minhas malas do quarto.

A porta abriu e Barão entrou, me olhou e ficou parado.

-Oque tu ta fazendo ?-perguntou, deu alguns passos pra frente e olhou pras malas-tu tá indo embora Maria Clara ?

Ele colocou a mão na cabeça e tirou o boné jogando no chão.

-Não faz isso cara, foi por causa da briga ? Eu peço desculpa, eu ajoelho aqui-falou me olhando e segurou meus dois braços, me abraçando em seguida

-Não teve briga, Barão-falei baixinho tentando segurar o choro mais uma vez-Eu tentei conversar com você, muito tempo, tentei sair dessa situação, tentei não deixar esfriar, mas eu fiz tudo isso sozinha.

Dei um passo pra trás pra ele me soltar.

-Você deveria saber que mulher calada, é mulher cansada. No meu caso, mesmo cansada, eu falei, mas falei sozinha ! Eu lutei sozinha por nós dois ! Quando você estava saindo eu pedi pra você me olhar, eu só queria conversar, queria amor, queria uma demonstração de sentimento, só isso... Eu queria só uma conversa, era isso que me faria ficar.

Ele abaixou a cabeça e esfregou os olhos.

-Não faz isso comigo Maria...Não faz-colocou a mão na frente do rosto

-Hoje foi a última vez que você me deu as costas, eu não quero mais me sentir ferida, não quero mais sentir que estou falando para alguém que não quer me escutar.

Meu celular apitou e eu coloquei ele no bolso.

Ele ficou calado e com a mão na frente do rosto. Puxei as malas e saí pela porta, Tainá estava lá fora e pegou uma das malas.

Respirei fundo e segurei o ar por alguns segundos. Caminhamos até no carro dela e colocamos as malas dentro.

Tirei minha mochila e coloquei no banco de trás. Entramos e eu fechei a porta

Tainá me puxou para um abraço e beijou minha cabeça. Ali eu desabei, sem segurar uma lágrima, sem segurar um soluço.




Juízo Final. (Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora