Juízo Final. (Livro 3)

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Haidê.

Passei as minhas roupas e escutei Lorran chorando. Saí do quarto e desci as escadas.

Brenda estava com ele no colo, balançando de um lado pro outro, com o cabelo todo pro alto.

-Oque tá acontecendo, Brendinha ?-perguntei

-Eu acho que é o dentinho-ela falou-tinha o aniversário de uma amiga hoje, mas não vou poder ir-falou desanimada

-Pode ir Brendinha, eu fico com Lorran-falei e ela negou com a cabeça-tu também precisa aproveitar, eu fico com ele. Qualquer coisa eu prometo te ligar.

Peguei Lorran do colo dela e ela ficou com o pé atrás, mas foi tomar banho. Sentei na varanda com Lorran e fiquei balançando ele, até ir acalmando.

Lorran é muito parecido com meu pai, dos três filhos é o mais parecido. Ele não tem nadinha da Brenda.

Ela se arrumou e desceu toda feliz. Eu acho Brenda tão bonita, muito mesmo !

Ela saiu e ficamos eu e Lorran, ele sempre dava uma choradinha, mas no fim parava. Molhei um cotonete com água geladinha e passei na gengiva dele.

Dei um banho nele e fiquei assistindo desenho, meu celular tocou e eu atendi.

Nas primeiras palavras eu levantei da cama correndo, coloquei minha identidade no bolso, peguei Lorran no colo e saí. Era Barão falando que Aurora estava desmaiada.

Desci as ruas com ele na linha, falando que ela não estava acordando.

Com Lorran no colo, eu nem percebi o tanto que eu corri. Quando eu entrei pela porta, o chão estava todo vomitado.

-É vômito com sangue-ele falou segurando ela-eu não posso levar ela pro hospital..

-Eu vou levar, eu vou levar-falei me abaixando e olhando se o coração dela estava batendo. Meu coração estava acelerado, passando um choque estranho pelo meu corpo.

Barão chamou um cria e ele chegou com o carro.

Os dois juntos colocaram ela no carro e eu corri pra pegar alguns documentos dela no andar de cima.

-Fica com Lorran, meu pai e Brenda não estão em casa-dei ele no colo do Barão e corri pro carro.

Ela ainda estava apagada, com a respiração fraca. Fiquei com medo dela se sufocar com o vômito e virei ela de lado no banco de trás.

Cheguei no hospital e entreguei os documentos dela, eles vieram com uma maca e correram com ela pra dentro.

Peguei minha identificação e sentei na sala de espera.

Fiquei quase duas horas esperando, inquieta.

-Acompanhente de Aurora Ribeiro-o médico falou e eu levantei, me aproximando dele.

-Como ela está ?-perguntei

-Melhor, mas como ela está com um câncer terminal, algumas funções do corpo já estão falhando, os sinais do corpo estão ficando mais severos-tirou um papel e me entregou-São alguns remédios, mas apenas para amenizar as dores dela. Nós não sabemos quanto tempo ela tem, como eu mesmo conversei com ela algum tempo atrás.

Concordei com a cabeça e ele me levou até o quarto onde ela estava. Entrei e ela estava dormindo, ligada no oxigênio. Me sentei no sofá e peguei meu celular.

Liguei pro Barão e repeti as coisas que o médico me disse. Olhei pra ela na cama e encostei a cabeça na parede.

Eu perdi com algum tempo o sentimento de ver Aurora como minha mãe, mas eu consegui sentir isso na infância/adolescência. Mas hoje em dia, eu não sei mais como eu vejo ela.

Aurora sempre foi uma mulher forte e saudável, sempre penso nela com as roupas de marca, o cabelo impecável, o carrão... Aurora conseguiu ser a mulher elegante que ela sempre quis.

É estranho ver ela assim, doente, vulnerável... Ver ela mais magra, mais abatida, perdendo a pose de impecável.

Me trás uma angústia tão grande ver ela nessa cama, ligada nesses aparelhos. Eu tenho medo por ela.

Ela errou muito comigo, com meu irmão, mas eu jamais quis ela nessa situação.

Eu consigo sentir compaixão por ela, mas eu desejo muito mais. Por mim.

Por mim, eu desejo ter meu coração completamente limpo, ter no meu interior o completo perdão. Eu quero olhar pra ela sem rancor, sem amargura.

Se Deus me permitir, com ela ainda com vida. Eu quero abraçar Aurora, e com tranquilidade no coração, perdoar.

Eu não acho que o perdão é pra quem sofreu, mas sim pra quem errou. Não quero que ela morra com esse peso, mas não quero perdoar da boca pra bora.

Eu peço que Deus haja muito no meu coração !!