Sete.

184K 9.5K 2.9K
                                    

                              Ana Luísa 🌸

Eu e a Bárbara terminamos de comer e ficamos na sala, conversando sobre vários assuntos. Ela me contou sobre como as coisas funcionam no morro. Já que vou morar aqui agora, preciso ir me informando...

Depois de um tempo, o Pedro chegou e já foi logo entrando.

Portuga: E aí. - Depositou um beijo no topo da minha cabeça. - Fala aê. - Bagunçou o cabelo da Bárbara, que deu um leve tapa em sua mão.

- Oi. - Respondemos uníssonas.

Bárbara: Deu em que lá? - Perguntou enquanto ele se sentava ao meu lado. Acho que o irmão dela deve ter comentado algo com ela sobre o Júlio.

Portuga: Foi cobrado, da mesma forma que todos são. - Semicerrei o meu olhar.

Bárbara: Matou? - Na mesma hora que ela falou aquilo, eu arregalei os meus olhos e encarei eles. Eu senti um frio percorrer o meu corpo. Como eles conseguem falar de um suposto assassinato com tanta naturalidade?

Não tô assim pelo Júlio, tô assim por imaginar meu irmão sendo capaz de matar alguém. Mesmo que eu já saiba que ele é envolvido nesse mundo de coisas erradas, ainda é difícil pra eu assimilar tudo isso.

Portuga: Ainda não. Mandamos pra sala. - Eu arqueei minhas sobrancelhas.

Ana: O que é isso? - Perguntei já temendo pela resposta.

Portuga: Aqui tudo é cobrado, e aquela sala é o lugar aonde essa cobrança acontece. - Olhou firme para mim.

Ana: Me promete que vai tomar cuidado? Eu não aguentaria te perder também. - Reprimo os lábios.

Portuga: Prometo, garota! Eu vou estar sempre por aqui. - Me puxou para um abraço. - Eu te amo, gatinha.

Ana: Eu também te amo! Você é meu raio de sol. - Esse era o apelido que eu coloquei nele quando éramos menores. Tem um significado muito especial para nós.

Quando eu tinha 15 anos, eu desenvolvi depressão e ansiedade.

Minha mãe nunca foi muito próxima, ela vivia ocupada trabalhando, e o Júlio sempre fazendo o papel de bom moço, mas não era a mesma coisa que um pai ou uma mãe.

Mas o Pedro sempre esteve ali comigo, segurando na minha mão e me mostrando que independente se eu tenha tido um dia ruim, eu precisava continuar firme, por mim e por ele. Nessa época eu sofri tanto que chorava à noite inteira no meu quarto, sozinha e angustiada.

Nunca contei ao Pedro sobre minhas crises de pânico e ansiedade, porque eu tinha medo de deixar ele preocupado comigo. Eu me cortava e tomava vários remédios pra dormir, eu só queria apagar para sempre.

Minha vida estava escura, fria e sem cor. O brilho que eu tinha havia sido apagado ao decorrer dos meus dias, e o Pedro sempre foi a minha luz!

Sabe aquela luz no fundo do túnel que tu pensa que não tem mais saída e ao ver ela você fica aliviado por saber que, por mais que tudo pareça perdido, ainda há uma esperança? Então, o Pedro sempre foi essa luz!

Em uma noite que minha mãe estava trabalhando e meu padrasto dormindo, eu me tranquei no banheiro e chorei, chorei por não aguentar mais, chorei por já estar cansada, chorei por não dar conta de tudo.

E então eu enfiei a gilete nos meus pulsos e desabei, colocando toda dor e o caos que se instalava dentro de mim pra fora. A dor externa que eu me causava, por alguns míseros momentos curavam a interna.

No Alemão (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora