-Você parece mais feliz hoje - Anna comentou.
Kiara olhou para a mãe, ela ainda não havia falado sobre o diagnóstico do Dr. Seiji. Ela tinha o hábito de almoçar com seus pais dois domingos por mês, em um deles Párduc sempre a acompanhava, sua partida de xadrez com o pai de Kiara era tradição logo depois que ele ajudava com a louça.
-Párduc e eu fomos nos consultar com um obstetra, ele disse que estamos saudáveis e não vê nenhuma razão para que eu tenha perdido meus filhos.
-Isso é maravilhoso! Ainda posso ser avô!
Seu pai entrou na cozinha a tempo de ouvir a conversa, ele parecia feliz com a notícia e prendeu Kiara em um abraço de urso. Louis era um senhor com quase todos os cabelos brancos já, embora parecesse mais jovem do que os seus 69. A reação da sua mãe foi um pouco mais decepcionante, Kiara pôde ouvir os alarmes tocando em sua cabeça, o que sempre acontecia quando sua mãe estava chateada.
-Você tem certeza, Kiara? Não quero vê-la se decepcionar de novo - Anna comentou.
-Eu quero isso, mãe. Vocês sempre souberam que ser mãe é um dos meus maiores sonhos.
-As vezes não é pra ser, talvez seu corpo não aceite o DNA de Párduc, por não ser totalmente humano.
-Do que você está falando?
Kiara começou a se irritar, não era a primeira vez que sua mãe citava o fato dela ter escolhido casar com um linhagem como uma péssima escolha de marido.
-Kiara, querida, sempre fui a maior apoiadora de seus sonhos, principalmente de ser mãe. Mas, nunca pensei que escolheria um linhagem para isso.
-Não acredito...
-Kia, que tal eu e você irmos até aquela sorveteria? Faz tempo que não saímos apenas nós dois - seu pai interrompeu, ele sempre o fazia quando via que as duas iriam discutir.
-Sim, Párduc adora o sorvete de baunilha, podemos pegar um pouco para a viagem.
Seu pai a ajudou a pegar suas chaves e bolsa, antes de caminharem em silêncio para a sorveteria na rua ao lado.
-Sua mãe vai esquecer essa história de linhagem um dia - ele a acalmou depois que sentaram cada um com seus sorvetes.
-Já fazem três anos, papai, não é como se ela não tivesse tido tempo para se adaptar a isso.
-Eu sei querida, mas Párduc é um bom companheiro para você. Vi isso no dia que nos apresentou.
Kiara riu alto, seu pai não pareceu ter gostado de Párduc quando o conheceu, se ela fosse honesta, admitiria que foi assim pelos quatro primeiros meses.
-Você o odiava - Kiara brincou.
-Claro que sim! Você é minha caçula, única filha e ele é um bastardo arrogante, se tudo dependesse de mim, você seria freira - Louis concordou.
-Párduc só agiu daquela forma porque o meu irmão é um idiota intrometido.
Ela revirou os olhos ao lembrar dos comentários desnecessários de seu irmão mais velho, principalmente sobre esteroides e como isso afetaria a vida sexual deles.
-Sim, ele é. Mas, estamos todos cuidando da sua felicidade, cada um do seu jeito.
-Eu sei, papai, só quero que mãe consiga vê-lo da forma como você o faz.
-Ela vai, sua mãe se preocupa com o que pode acontecer caso você perca um terceiro bebê.
-Não vou, vamos ser mais cuidadosos, teremos um maior acompanhamento, vamos conseguir dessa vez, eu sei que vamos.
-Ela está certa.
A voz de Párduc a fez pular na cadeira, o sorriso de seu pai lhe dizia que ele tinha visto seu companheiro se aproximar.
-Pensei que estivesse de plantão - ela falou depois de receber o beijo em sua testa.
-Laurent achou melhor me dar alguns dias de férias. Boa tarde, Louis - Párduc cumprimentou.
-Boa, Párduc. Como está a expansão da Land?
-Muito barulhenta, mas é por uma boa causa. Laurent está fechando um acordo com a secretaria de segurança, você já deve saber sobre isso.
Louis ficou tenso, ele sabia, foi quem iniciou o projeto. Depois de décadas trabalhando com casos de violência doméstica e feminicídio ele decidiu que essa seria a melhor opção para as vítimas.
-Sim, sugeri isso a alguns meses, é bom saber que eles estão considerando.
-Do que vocês estão falando? - Kiara perguntou confusa.
-Estamos tentando fechar um acordo com os linhagens para colocar as mulheres vítimas de violência sob a proteção deles.
-Parece que os casos de violência estão aumentando rapidamente.
-Vocês não me disseram nada sobre isso - Kiara comentou com os homens.
-Querida, temos pouco tempo juntos, não quero que nossos almoços sejam repletos de assuntos tristes. E, tenho certeza, que Párduc não queria te sobrecarregar, vocês tiveram meses difíceis.
-Você iria querer voltar ao trabalho assim que soubesse, não acho que seja a melhor opção.
-Eu sei, mas é assustador que as mulheres passem por tudo isso.
-Sim, é. Por isso fico feliz com seu casamento, não escolheria um companheiro melhor para minha filha do que um linhagem.
-Obrigada, pai.
-Não me agradeça, você tem um bastardo possessivo e protetor como marido.
-Como se sua filha não fosse o mesmo!
Párduc bufou e todos riram, foi uma mudança sútil de assunto, mas foi uma bem vinda. Louis soube do acidente que deixou Párduc em coma por meses, viu o desespero de sua filha durante esse tempo e viu a raiva que ela sentiu quando o psiquiatra tentou afastá-la dele. Thunder contou em detalhes o que havia acontecido naquele dia e Louis aproveitava aquela informação para ameaçar sua filho quando ele se tornava muito inconveniente.
-Passei na sua casa antes de vir. Está tudo bem com sua mãe? - Párduc perguntou.
-Não se preocupe com a minha esposa, ela vai entender em algum momento. Concentrem-se em vocês mesmos, posso ver que não tem sido fácil para os dois.
Kiara assentiu, seu pai não estava errado, por mais forte que seja o vínculo entre companheiros, a perda dos filhos não foi algo fácil para nenhum deles. O casal se despediu antes de voltar para a Land, Párduc não queria nada além de deitar com Kiara em seus braços.
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Linhagens - Párduc
RomanceKiara não sabe se vai ser capaz de aguentar perder outro filho, os pensamentos perigosos estão bem escondidos, mas ela sabe que não vai ser capaz de esconder isso de Párduc por muito mais tempo. Ela só quer acabar com a própria dor, até que o médico...