Capítulo 2

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-Você parece mais feliz hoje - Anna comentou.

Kiara olhou para a mãe, ela ainda não havia falado sobre o diagnóstico do Dr. Seiji. Ela tinha o hábito de almoçar com seus pais dois domingos por mês, em um deles Párduc sempre a acompanhava, sua partida de xadrez com o pai de Kiara era tradição logo depois que ele ajudava com a louça.

-Párduc e eu fomos nos consultar com um obstetra, ele disse que estamos saudáveis e não vê nenhuma razão para que eu tenha perdido meus filhos.

-Isso é maravilhoso! Ainda posso ser avô!

Seu pai entrou na cozinha a tempo de ouvir a conversa, ele parecia feliz com a notícia e prendeu Kiara em um abraço de urso. Louis era um senhor com quase todos os cabelos brancos já, embora parecesse mais jovem do que os seus 69. A reação da sua mãe foi um pouco mais decepcionante, Kiara pôde ouvir os alarmes tocando em sua cabeça, o que sempre acontecia quando sua mãe estava chateada.

-Você tem certeza, Kiara? Não quero vê-la se decepcionar de novo - Anna comentou.

-Eu quero isso, mãe. Vocês sempre souberam que ser mãe é um dos meus maiores sonhos.

-As vezes não é pra ser, talvez seu corpo não aceite o DNA de Párduc, por não ser totalmente humano.

-Do que você está falando?

Kiara começou a se irritar, não era a primeira vez que sua mãe citava o fato dela ter escolhido casar com um linhagem como uma péssima escolha de marido.

-Kiara, querida, sempre fui a maior apoiadora de seus sonhos, principalmente de ser mãe. Mas, nunca pensei que escolheria um linhagem para isso.

-Não acredito...

-Kia, que tal eu e você irmos até aquela sorveteria? Faz tempo que não saímos apenas nós dois - seu pai interrompeu, ele sempre o fazia quando via que as duas iriam discutir.

-Sim, Párduc adora o sorvete de baunilha, podemos pegar um pouco para a viagem.

Seu pai a ajudou a pegar suas chaves e bolsa, antes de caminharem em silêncio para a sorveteria na rua ao lado.

-Sua mãe vai esquecer essa história de linhagem um dia - ele a acalmou depois que sentaram cada um com seus sorvetes.

-Já fazem três anos, papai, não é como se ela não tivesse tido tempo para se adaptar a isso.

-Eu sei querida, mas Párduc é um bom companheiro para você. Vi isso no dia que nos apresentou.

Kiara riu alto, seu pai não pareceu ter gostado de Párduc quando o conheceu, se ela fosse honesta, admitiria que foi assim pelos quatro primeiros meses.

-Você o odiava - Kiara brincou.

-Claro que sim! Você é minha caçula, única filha e ele é um bastardo arrogante, se tudo dependesse de mim, você seria freira - Louis concordou.

-Párduc só agiu daquela forma porque o meu irmão é um idiota intrometido.

Ela revirou os olhos ao lembrar dos comentários desnecessários de seu irmão mais velho, principalmente sobre esteroides e como isso afetaria a vida sexual deles.

-Sim, ele é. Mas, estamos todos cuidando da sua felicidade, cada um do seu jeito.

-Eu sei, papai, só quero que mãe consiga vê-lo da forma como você o faz.

-Ela vai, sua mãe se preocupa com o que pode acontecer caso você perca um terceiro bebê.

-Não vou, vamos ser mais cuidadosos, teremos um maior acompanhamento, vamos conseguir dessa vez, eu sei que vamos.

-Ela está certa.

A voz de Párduc a fez pular na cadeira, o sorriso de seu pai lhe dizia que ele tinha visto seu companheiro se aproximar.

-Pensei que estivesse de plantão - ela falou depois de receber o beijo em sua testa.

-Laurent achou melhor me dar alguns dias de férias. Boa tarde, Louis - Párduc cumprimentou.

-Boa, Párduc. Como está a expansão da Land?

-Muito barulhenta, mas é por uma boa causa. Laurent está fechando um acordo com a secretaria de segurança, você já deve saber sobre isso.

Louis ficou tenso, ele sabia, foi quem iniciou o projeto. Depois de décadas trabalhando com casos de violência doméstica e feminicídio ele decidiu que essa seria a melhor opção para as vítimas.

-Sim, sugeri isso a alguns meses, é bom saber que eles estão considerando.

-Do que vocês estão falando? - Kiara perguntou confusa.

-Estamos tentando fechar um acordo com os linhagens para colocar as mulheres vítimas de violência sob a proteção deles.

-Parece que os casos de violência estão aumentando rapidamente.

-Vocês não me disseram nada sobre isso - Kiara comentou com os homens.

-Querida, temos pouco tempo juntos, não quero que nossos almoços sejam repletos de assuntos tristes. E, tenho certeza, que Párduc não queria te sobrecarregar, vocês tiveram meses difíceis.

-Você iria querer voltar ao trabalho assim que soubesse, não acho que seja a melhor opção.

-Eu sei, mas é assustador que as mulheres passem por tudo isso.

-Sim, é. Por isso fico feliz com seu casamento, não escolheria um companheiro melhor para minha filha do que um linhagem.

-Obrigada, pai.

-Não me agradeça, você tem um bastardo possessivo e protetor como marido.

-Como se sua filha não fosse o mesmo!

Párduc bufou e todos riram, foi uma mudança sútil de assunto, mas foi uma bem vinda. Louis soube do acidente que deixou Párduc em coma por meses, viu o desespero de sua filha durante esse tempo e viu a raiva que ela sentiu quando o psiquiatra tentou afastá-la dele. Thunder contou em detalhes o que havia acontecido naquele dia e Louis aproveitava aquela informação para ameaçar sua filho quando ele se tornava muito inconveniente.

-Passei na sua casa antes de vir. Está tudo bem com sua mãe? - Párduc perguntou.

-Não se preocupe com a minha esposa, ela vai entender em algum momento. Concentrem-se em vocês mesmos, posso ver que não tem sido fácil para os dois.

Kiara assentiu, seu pai não estava errado, por mais forte que seja o vínculo entre companheiros, a perda dos filhos não foi algo fácil para nenhum deles. O casal se despediu antes de voltar para a Land, Párduc não queria nada além de deitar com Kiara em seus braços.

Linhagens - PárducOnde histórias criam vida. Descubra agora