Capítulo 8

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Párduc estava realmente na praia, com os amigos de faculdade de Kiara. Ele não acreditou quando ela falou que eles se reuniriam esse fim de semana, mas lá estavam os humanos barulhentos que ele costumava ver ao menos duas vezes ao ano. Kia havia cuidado de todos os detalhes para que Párduc não se opusesse, até mesmo a aprovação do obstetra ela havia conseguido. 

O linhagem segurou a reação de repulsa quando Guilherme se aproximou deles, o humano era o único do grupo que mantinha um interesse amoroso em sua companheira e nunca teve a mínima intenção de esconder seus sentimentos. A razão pela qual Párduc ainda mantinha-se educado perto dele era que o humano fora útil na busca pela sua companheira no primeiro ano de trabalho dela na Land.

-Como você consegue ficar mais linda a cada ano que passa? - Guilherme perguntou ao se aproximar deles.

Kiara se desvencilhou da tentativa de abraço e sorriu polidamente. 

-Felicidade faz milagres com a pele. Como você tem passado, Guilherme?

-Tentando não enlouquecer com o mercado tecnológico, houve um vazamento de informações recente na minha empresa e o projeto novo foi plagiado, mas já tenho uma equipe de confiança trabalhando em cima disso.

Párduc deletou a conversa de sua mente, focando na areia branca que se estendia a alguns metros deles. A casa de praia em que eles ficariam é grande o suficiente para acomodar três famílias, a varanda na qual eles estavam agora era toda feita de madeira, com uma escada de poucos degraus que levava direto para a areia da praia. Ele não se incomodava com o sol, mas aquele espaço era amplo demais, aberto demais e muito fácil de ser escolhido como alvo. Um brilho do lado de sua visão o fez olhar na direção da luz, dois linhagens estavam montando acampamento a alguns metros à direita e dois na direção contrária, fora a única condição que ele impôs à Kiara. Eles iriam ao reencontro de sua turma, mas teriam seguranças, com os ataques de ódio crescendo, a última coisa que ele precisava era de um grupo de humanos loucos perto de sua companheira grávida.

-Kia parece melhor do que da última vez que a vi.

-Hannah, quando você chegou?

A mulher sorriu para Párduc, ela era uma das poucas pessoas do grupo com quem ele se dava bem. Hannah era uma assistente social que também possuía formação em direito, assim como Kiara. Tudo na mulher gritava "delicada", mas ele a conhecia o suficiente pra saber que a pequena ruiva era um pequeno monstro escondido atrás das sardas e as bochechas sempre rosadas.

-A alguns minutos, quis ver mais um episódio dos foras que o Guilherme não cansa de levar da Kiara, ele é incansável. Fiquei surpresa de você não o afastar.

-Já tive minha cota de estresses com ele, Kia sabe lidar com a infantilidade do humano, vou interferir apenas se ele passar dos limites.

-Laurent entrou em contato comigo na semana passada.

-Achei que você recusaria se eu ligasse.

-Párduc...

-Hannah, você precisa sair de lá, eu sei que eles são seus pais e irmãos, mas me recuso a dizer que são sua família. Nenhum deles te tratariam dessa forma se realmente te considerasse da família.

-Eu não burra, Párduc, não precisa me oferecer um cargo tão alto só pra me convencer a sair da firma dos meus pais.

-Nunca achei que fosse burra, Hannah e nem lhe ofereci o cargo. Expliquei para Laurent sua situação, depois de ver seu currículo, ele resolveu que você seria perfeita para defender as fêmeas humanas e shifters.

-Vou responder diretamente a Kia?

-Não, você vai trabalhar com ela, lado a lado, como era antes de ser amarrada em um casamento que sua família forçou.

-Se eu aceitar ir, não vou ter para onde voltar.

-Você não vai precisar voltar. Se não for aceitar por si mesma, aceite por mim e Kia, te tenho como parte da minha própria família, você é a única irmã que Kia já conheceu e eu não aguento mais esconder o que vi naquela noite.

-Darei minha resposta quando acabarmos essa viagem, mas preciso que me prometa uma coisa.

-Qualquer coisa.

-Se eu aceitar, quero que vá comigo em casa buscar minhas coisas, não quero deixar isso a cargo de ninguém, mas não quero ir sozinha. Preciso de alguém em quem confio ao meu lado e Kia não é uma opção, não confio em minha família perto de uma mulher grávida.

-Ela te contou.

-Como você disse, sou a única irmã que ela conhece. Acredito que consigam dessa vez, um dos sonhos de Kia é ser mãe.

-Estamos fazendo o possível para realizá-lo.

-Sei disso, você é o melhor companheiro que Kia poderia ter. É uma pena que nem todas as mulheres possam ter companheiros linhagens, nossos homens são pouco ou nada confiáveis.

-Temos vários machos solteiros na Land, você só precisa aceitar a proposta de Laurent e eu te apresento a cada um deles até você encontrar algum que goste.

A risada de Hannah o fez sorrir, já estava com quase dois anos que ele não ouvia o som dessa risada e ele não queria nada além da felicidade da pequena humana. Párduc aprendera a gostar dela, do jeito tímido e direto que ela sempre teve. Mas, a personalidade de Hannah foi acorrentada por todos que a cercavam.

-Vou ajudar minha amiga antes que ela afogue o Guilherme.

Ele assentiu, mas Hannah não chegou a dar nem o terceiro passo antes de virar na direção dele novamente, a expressão séria quase o fez recuar, mas ele parou e esperou até que ela dissesse o que precisava.

-Párduc, cuide dela, ok? E a mantenha longe daquela louca, pode ser apenas meus traumas falando, mas tem alguma coisa muito errada na mãe de Kiara.


Linhagens - PárducOnde histórias criam vida. Descubra agora