Linhagens - Párduc

Capítulo 11

Párduc ouviu o grito desesperado de Kia e correu na direção do quarto onde ela estava. Dr. Seiji parecia tão perdido quanto eles, como se toda a situação fosse surreal demais para que ele pudesse entender. Ele passou os braços ao redor de sua companheira e tentou acalmá-la enquanto as pesadas lágrimas escorriam pelo seu rosto, Kia o abraçava tão forte quanto podia, como se ele fosse sua última esperança, Párduc olhou para o médico na esperança de ter alguma explicação que fizesse sentido.

-Eu realmente... Eu não... Kiara, sinto muito - o médico gaguejou - Em todos esses anos, eu nunca sequer vi um caso como o seu, não faz sentido.

-O que você quer dizer com isso? - Párduc perguntou enquanto tentava consolar sua companheira.

-Quero dizer que não faz sentido ela ter perdido o bebê, seu corpo inteiro está preparado para gerar uma criança, Kiara é uma mulher saudável, nenhum problema uterino ou nos ovários. Cristo! Eu não tenho uma explicação para isso!

Párduc podia jurar que viu lágrimas contidas no olhar cansado do médico, mas sumiu assim que ele piscou, rápido o suficiente para ele jurar que tinha imaginado coisas.

-Vou marcar seus exames, preciso descobrir o que causou a perda... Tudo isso. Párduc, fique com ela, chamarei as enfermeiras para dar um calmante para Kiara.

Ele assentiu, sem saber que Kia passaria os dois dias seguintes em um estado de transe, como se estivesse envolta em uma névoa espessa e escura em que ela não conseguia sair. Mesmo com seu companheiro ao seu lado, ela ainda não conseguia reagir, tudo parecia surreal demais, inacreditável demais, sombrio demais. Kiara sabia que Párduc estava ali para segurá-la quando ela caísse, para ampará-la quando seu mundo desabasse e, até mesmo, consolá-la quando ela achasse que não merecia, mas até mesmo a presença dele se parecia com o espectro de um fantasma, irreal demais para que fosse o suficiente.

Párduc seguiu o médico quando ele o chamou, deixando sua companheira dormindo na cama a alguns metros de distância.

-Não sei como dizer isso sem irritá-lo, então vou apenas falar. Traços de c*****c foram encontrados no organismo de Kiara, não acho que ela tenha o tomado consciente, mas preciso descobrir quem a fez tomar.

-Você está dizendo que alguém causou o abortou do meu filho?

-Sinto muito, Párduc, mas precisamos investigar o círculo social que teve contato com ela.

-A família de Kia?

Dr. Seiji assentiu cautelosamente e Párduc quase desabou ali mesmo, não era possível que algum deles causasse tanta dor em Kia, propositalmente. Mas, ele foi obrigado a aceitar essa hipótese, Kia não mataria o próprio filho. Fora apenas um jantar, aquele em que ela havia anunciado a gravidez, naquela mesma madrugada eles acordaram com Kia gritando de dor e sangrando.

-Eu tenho um plano, mas preciso que você convença Kiara a ser forte e fingir que nada aconteceu.

-O que você quer dizer com isso?

-Que podemos ser capazes de descobrir quem fez Kiara perder os bebês.

-Não sei se é uma boa ideia.

-Párduc, se não fizermos isso agora, Kiara nunca será capaz de ser mãe. Você entende isso?

-Eu...

-Nós aceitamos - Kat falou, interrompendo a conversa - Não vou ver você se consumindo diariamente por isso, quero descobrir quem é o bastardo que está me impedindo de ser tia e, se isso significa atuar por alguns dias, que seja, Kia merece a verdade tanto quanto você, dê-lhe uma opção antes de decidir que é peso demais para ela suportar, afinal, não foi você quem engravidou.

-É da família dela que estamos falando.

-Eu sei, mas se fosse da nossa família eu iria querer saber, é meu filho, meu bebê antes de ser seu. Nós geramos as crianças, Párduc, antes de vocês poderem vê-las, segurá-las e amá-las, nós a carregamos, a amamos. Elas nos impedem de dormir, comer e até encontrar uma posição confortável para deitar, mas ainda assim, nós a amamos incondicionalmente, elas, inclusive, vêm antes de nossos companheiros, é por isso que Kia tem o direito de escolher se quer ou não descobrir quem está fazendo isso, foi ela quem sentiu seu filho morrendo. Se você quer entrar em uma discussão sobre isso comigo, ótimo, vamos brigar, mas nem mesmo Thunder é capaz de me impedir de falar a verdade para ela.

-Kat...

-Não me venha com "Kat", ninguém que seja capaz de fazer isso pode ser chamado de família, Kia vai saber suas opções, Párduc. 

Ele assentiu, aceitando que sua irmã tinha argumentos suficientes contra ele e a deixou guiar o caminho de volta para o quarto de sua companheira. Eles concordaram em deixar Kat falar, ela era mulher no fim das contas, com certeza entendia Kia melhor do que qualquer um deles, então, quando ela terminou de explicar e dar as opções para a companheira de Párduc, ele se limitou a observar as reações dela, sentindo cada coisa que passava por Kia.

-Minha mãe, meu pai ou meu irmão... Você está me dizendo que um deles é o culpado e quer que eu aja como se nada estivesse acontecendo? - Kia perguntou.

-Sim, é exatamente isso que estou lhe pedindo - Kat respondeu - Seja sincera comigo, você vai conseguir encará-los sem saber qual deles é o culpado? Sem ter certeza de qual deles é capaz de fazê-la passar por esse inferno sem sequer pensar duas vezes?

-Não.

-Então você sabe o que fazer. Vamos fingir que nada aconteceu, examinar cada passo que eles dão, até que possamos descobrir qual deles é capaz...

Kat parou, seria insensível demais continuar a frase, mas Kia não se importava.

-Qual deles é capaz de me fazer perder meu filho.

*Não digitei o nome do remédio por muitos motivos, um deles é a gritante causa de mortes ou sequelas de abortos ilegais, sei o quanto sofremos por não termos amparo médico nesses casos, mas sempre temos alguém em quem confiar, se você está passando por isso, por favor, converse com alguém que saiba que vai lhe ouvir e procure um médico.