-Hannah realmente aceitou a proposta? - Kia perguntou enquanto ligava o filtro da água de Hope.
-Sim, acho que ela finalmente vai conseguir se libertar de sua família.
-Espero que sim. Párduc, me passe a ração de Hope, por favor.
Ele a obedeceu, estava quase na hora de sair, iria cumprir a promessa que fizera a Hannah e ir buscar as coisas dela. Já faziam duas semanas desde o fim de semana na praia, Kia e Kat organizariam o jantar para contar a sua família de sua companheira sobre a gravidez enquanto ele ajudava Hannah em sua mudança. Não era bem o que ele queria, pretendia ficar e ajudar sua companheira, mas tinha certeza que sua irmã cuidaria bem dela.
-Agora vá, Hannah deve estar enlouquecendo achando que irá enfrentar aqueles loucos sozinha.
-Você tem certeza de que vai ficar bem?
-Tenho, Kat chega em alguns minutos.
-Mas...
-Nada de "mas", sua irmã é tão cuidadosamente louca quanto você, tenho certeza que nenhum grão de areia é capaz de me fazer mal com ela por perto.
-Ok, ok, eu entendi. Mas, promete que vai me ligar caso algo aconteça?
-Prometo. Agora, saia daqui, quero ver Hannah dentro da Land ainda nesse milênio.
Ele riu antes de concordar e sair, a primeira parada seria o escritório dos pais dela. Hannah havia marcado uma reunião formal, como se os linhagens fossem os clientes, para anunciar sua demissão, ele preferia que ela tivesse enviado pelo correio, mas não era assim que a humana funcionava. O manobrista pegou a chave do seu carro assim que ele parou na entrada do prédio, odiando tudo naquela situação, desde o terno que fora obrigado a vestir até a entrada elegante do enorme prédio dos pais de Hannah.
-Bom dia, tenho um horário marcado com o Sr. e Sra. Davidson - ele falou para a recepcionista.
A mulher parecia a imagem da perfeição, vestida em seu terninho e com o cabelo preso em um rabo de cavalo que não mostrava um fio fora do lugar, mas sua frieza destruía qualquer semelhança com um ser humano. Ela sequer tirou os olhos da tela do computador antes de respondê-lo.
-Eles o aguardam no 10º andar, sala 302.
-Obrigado.
Párduc não teve tempo de tomar um fôlego antes de sair do elevador, Hannah já o esperava, o envelope bege em suas mãos trêmulas e a respiração curta. A ruiva era a definição de ansiedade e Párduc não freou a necessidade de acalmá-la antes de perceber que a estava abraçando, a surpresa o dominando quando percebeu que o cheiro dela não o incomodou, pelo contrário, lhe deu o mesmo sentimento de calma que sentia sempre que abraçava Kat.
-Respire, prometi que estaria aqui durante todo o dia - ele sussurrou.
-Em todos os conflitos? - ela perguntou.
Ele conseguiu ouvir o choro contido na voz dela e precisou suprimir a raiva. Dois anos atrás ele havia visto o marido dela esbofeteá-la na frente dos pais de Hannah, mas eles ficaram ao lado do marido abusivo ao invés de protegerem a filha, Párduc conseguiu ver a ponta do iceberg naquela noite, não poderia julgá-la pelo tremor de medo.
-Em cada um deles, assim como Kia - ele sussurrou.
Hannah o soltou e sorriu, ela caminhou na frente dele enquanto seguiam na direção da sala de reuniões onde os pais dela os esperavam. O homem magro e alto estava sentado na extremidade da mesa, o terno caro feito sob medida era apenas um detalhe comparado à imagem austera que ele passava, a postura, o olhar, a expressão rígida e o cabelo bem penteado passava para Párduc a impressão de que o homem parecia mais um robô do que qualquer outra coisa.
-Seja bem vindo e obrigada por escolher nosso escritório.
A mãe de Hannah o cumprimentou, ela era como um espelho de sua filha, apenas as rugas ao redor de seus olhos denunciavam sua idade. Embora Hannah tivesse puxado os olhos verdes de seu pai, todo o resto era uma cópia de sua mãe, desde as sardas que foram parcialmente escondidas pela maquiagem até o cabelo ruivo natural.
-Ficamos felizes ao saber que a Land escolheu nossos serviços - o pai de Hannah falou depois que eles se acomodaram em suas cadeiras.
Párduc segurou o riso, Laurent odiava a fama do escritório deles, os pais de Hannah eram conhecidos por colocarem assediadores e estupradores fora da prisão e isso era o oposto das convicções dos linhagens.
-Na verdade, estou aqui hoje por um de seus colaboradores - Párduc falou.
-Você está interessado em um de nossos advogados? - a mãe de Hannah perguntou.
-Exatamente, vim hoje para anunciar a contratação dela na Land, o que significa que ela precisará ser desvinculada de seu escritório.
-Ela?
Hannah aproveitou a pergunta do pai para tirar os documentos de sua demissão do envelope e entregar uma cópia a cada um deles. Só foi preciso alguns minutos para que eles entendesse de quem Párduc estava falando. A postura deles ficou mais tensa, algo que o linhagem não achava ser possível.
-Que tipo de piada é essa, Hannah? - o tom autoritário do homem fez a ruiva tensionar.
-Piada? Não estou contando nenhuma piada, Sr. Davidson.
-Você não vai abandonar seu legado com se fosse nada! - a mulher mais velha retrucou.
-Deixe-me ser claro aqui - Párduc interviu - Não estou interessado nos seus serviços, vim apenas buscar Hannah, ela fará parte da nossa equipe agora.
-Não assinarei esses papéis! Minha filha não irá sair do nosso escritório, ela irá auxiliar seu marido assim como sua mãe faz comigo.
-Filha? - Hannah perguntou incrédula - Agora sou sua filha? Onde estava esse título quando Victor me agredia?
-Seus assuntos matrimoniais não nos dizem respeito!
A frase que sua mãe soltou fez Hannah e Párduc olharem surpresos para a mulher. Ela havia declarado que não se importava com o que acontecia com sua filha em um casamento abusivo.
-Vamos ver se isso vai lhes interessar então.
Hannah puxou mais um punhado de folhas de dentro do envelope, ela parecia prestes a explodir e, pela segunda vez, Párduc teve que se impedir de sorrir, aquela era a mulher que ele admirava, não a garota indefesa que seus pais a criaram.
-O que é isso?
-Um processo, contra vocês e meu amado marido, mais precisamente - Hannah ironizou - Tenho diversas testemunhas das agressões que sofri nas mãos dele e que ambos presenciaram e se limitaram a observar.
-Você perdeu seu maldito juízo?!
O pai de Hannah gritou e, apesar do tremor que passou por Hannah, ela permaneceu calma.
-Não, acabei de recuperá-lo. Se vocês não assinarem minha demissão vou levar esse processo adiante, não preciso ganhar, apenas fazer barulho o suficiente para que vocês tenham sua reputação manchada.
-Você não terá mais nenhuma ligação conosco se assinarmos esses papéis - a mãe de Hannah anunciou.
-Não poderia ficar mais feliz com isso.
Párduc permaneceu em silêncio enquanto os pais da mulher assinavam os papéis, ele ainda precisava sobreviver a sua vontade de matar o marido de Hannah enquanto ajudava ela a fazer suas malas e pegar a assinatura do divórcio.
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Linhagens - Párduc
RomansaKiara não sabe se vai ser capaz de aguentar perder outro filho, os pensamentos perigosos estão bem escondidos, mas ela sabe que não vai ser capaz de esconder isso de Párduc por muito mais tempo. Ela só quer acabar com a própria dor, até que o médico...