Paralelo

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Quase duas semanas tinham se passado desde a noite das falsas núpcias, e Namjoon podia dizer que sua vida não tinha se transformado tanto quanto esperava que fosse acontecer. Fora ser um homem casado, ter a companhia de um esposo por algumas horas do dia e estar inserido num reino diferente do qual nasceu e cresceu, sua rotina não tinha sofrido alteração.

As núpcias, estranhamente, ainda não tinham ocorrido, e de todas as questões que de certa maneira o decepcionavam, esta era uma delas. Esforçava-se para entender as razões de seu marido, mas em sua mente não havia desculpa boa o suficiente para justificar que, próximo aos quinze dias de enlace, ainda estivessem no mesmo estado de quando eram noivos, e isso o perturbava. Não tinha fantasiado nada quando sua família assumiu um compromisso por ele, estava consciente de seu papel e tudo o que queria era poder ter espaço para arcar com suas funções da forma mais plena possível. Isso, porém, vinha lhe sendo negado pelo marido.

Não que não tivessem um nível de entrosamento saudável. Seokjin, apesar da falta inicial, era um tipo ao qual acabava sendo fácil de dedicar simpatia. Era muito educado, sempre tranquilo, respeitoso e, em certa medida, interessado. Era palpável o quanto ele tentava deixar Namjoon confortável em seu novo reino, e não havia como ficar imune a tanta dedicação. O incômodo era que, muito embora ele fosse um doce no tratar e agir, jamais passava disso.

Na manhã depois das núpcias, quando Namjoon acordou, seu marido já estava de pé, vestido, esperando por ele. Ofereceu um belo sorriso e um questionamento delicado sobre como tinha sido a noite de sono. Após receber resposta, deu as costas para que Namjoon se arrumasse e foi aguardar por ele do lado de fora da alcova, para que fossem juntos ao grande salão de refeições a fim de tomarem o café da manhã. Não deu nenhuma explicação para sua atitude na noite anterior, e como se não precisasse fazê-lo, assim prosseguiu até o momento. Na noite daquele dia, ocuparam cada um seu quarto, e deixando a alcova que os unia intocada a partir de então, o Príncipe de Gwacheon seguiu a vida como se tudo tivesse ocorrido dentro das expectativas.

Era impossível para Namjoon não pensar que o problema estava nele. Seria alguma característica física sua que tinha caído no desagrado do Príncipe? Quem sabe sua altura, um tanto avantajada para um ômega, tenha se mostrado um defeito aos olhos do marido, ou seu tom de voz grave, também incomum para alguém de sua espécie, acabou por se tornar um ponto de descontentamento. Talvez suas formas não fossem tão belas assim, ou ainda seu cheiro de amêndoas doces, um bocadinho fraco demais, não despertassem maiores interesses. Quem sabe não fossem aspectos materiais o entrave, mas suas qualidades pessoais. Poderia ser que seu jeito fleumático, sua fala mansa e seu caminhar indiferente formassem um conjunto que não alimentasse paixões. De repente, tudo nele era secundário e sem apelos, e somente quando entrasse em seus períodos, quando o esposo já não tivesse como lhe refutar teria, enfim, a oportunidade de selar o matrimônio como deveria ser feito.

Muitos eram as ideias e justificativas que passavam pela mente de Namjoon, e nenhuma era a resposta que conseguia encontrar. Gostaria de poder ser sincero e perguntar ao marido o que ocorria, por que ele não dava o menor vislumbre de que ao menos pensava em se entrelaçar consigo debaixo de lençóis. No entanto, não era de bom tom que um ômega questionasse as ordens ou, no caso em concreto, a inércia de seu alfa. Por isso Namjoon seguia calado, acompanhando o esposo quando era solicitado e sendo amável com ele ao máximo para, quem sabe, lhe despertar algo no âmago e permitir que o casamento seguisse seu fluxo natural.

Ser afável naquela manhã, porém, não seria possível. Antes de se recolher não recebeu nenhum aviso sobre algum convite vindo do Príncipe, e bem cedo, ao acordar, também não teve nenhuma notícia. Ao se levantar para lavar o rosto e ter Jungkook para lhe auxiliar na composição das vestes, olhou de relance pela janela e entendeu que, naquele dia, era provável que ficaria sozinho. Seokjin seguia sozinho pelos jardins do palácio, e em poucas passadas já tinha sumido entre as árvores do outro lado da saída. Em quase quinze dias, já tinha presenciado a cena mais vezes do que acharia recomendável. Em dias assim, era certo de que não contaria com a presença do marido.

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